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Feio, dentuço e desengonçado… Assim, de forma pouco convencional, a revista Placar de 12 de junho de 1970 iniciou o texto da matéria “Fio, o Bem Amado”.

João Batista de Sales, o famoso “Fio Maravilha”, nasceu na cidade de Conselheiro Pena (MG), no dia 19 de janeiro de 1945.

Em 1960, quando contava com 15 anos de idade, João Batista foi levado ao Flamengo por seu irmão Germano, que já estava no clube e mais tarde defendeu o Milan e o Palmeiras.

Fio só foi aproveitado na equipe principal em meados de 1968. Participou da partida final da Taça Guanabara do mesmo ano, quando o Botafogo foi o campeão.

Crédito: revista do Esporte número 498 - Setembro de 1968.

Crédito: revista do Esporte número 498 – Setembro de 1968.

Atacante oportunista e valente, o carismático jogador, que até hoje é lembrado, atuava como centroavante, ponta de lança ou ainda nas extremas direita ou esquerda.

O surgimento do apelido “Fio” teria acontecido mais ou menos assim: Sua mãe, que ia aos treinamentos na Gávea, incentivava o filho em altos brados:

– Vai, meu fio… Vai, meu fio!

Sua voluntariedade e dedicação conquistou os torcedores. Apesar da fama de perder “gols feitos”, Fio foi determinante na conquista da Taça Guanabara de 1970.

Crédito: revista Placar.

Crédito: revista Placar.

Crédito: revista Placar - 12 de junho de 1970.

Crédito: revista Placar – 12 de junho de 1970.

Ele foi o “homem do jogo” no confronto diante do Vasco da Gama no dia 10 de maio, quando anotou os dois gols da vitória por 2×0. Depois, no dia 31 de maio, foi o autor do gol de empate contra o Fluminense (1×1) que deu o título ao Flamengo.

Mas foi em janeiro de 1972, na conquista do Torneio Internacional de Verão, que surgiu o mito envolvendo seu nome. Foi na segunda etapa da partida contra o Sport Lisboa e Benfica, quando o placar ainda apontava um entediante 0x0. 

O jogo estava difícil e a torcida em coro pedia pela entrada de Fio. O técnico Mário Jorge Lobo Zagallo atendeu ao pedido da massa e colocou o jogador em campo.

Aos 33 minutos, Fio se transformou no lendário “Fio Maravilha” ao fazer o golaço que deu a vitória ao Rubro Negro por 1×0… Tabelou, driblou dois zagueiros, deu um toque, driblou o goleiro. Só não entrou com bola e tudo porque teve humildade e gol…

A revista do Esporte número 570, de 12 de junho de 1970, reuniu os goleadores Fio Maravilha do Flamengo e Silva Batuta do Vasco, antes de mais um “Clássico dos Milhões”. Crédito: kikedabola.blogspot.com.br.

A revista do Esporte número 570, de 12 de junho de 1970, reuniu os goleadores Fio Maravilha do Flamengo e Silva Batuta do Vasco, antes de mais um “Clássico dos Milhões”. Crédito: kikedabola.blogspot.com.br.

Jorge Ben Jor, que estava no Maracanã naquela partida, ficou inspirado e fez a música homenageando seu ídolo, que definitivamente acrescentou o “Maravilha” no apelido de Fio.

E assim, Fio virou o campeão de correspondências no Flamengo. Envelopes e mais envelopes chegavam aos montes na portaria do clube.

Eram cartas escritas por inúmeras mocinhas, que sonhavam em conhecer o homem cantado na música que fazia sucesso em qualquer canto.

Embalado nos encantos da música, também interpretada por Maria Alcina, Fio caiu de produção e foi parar no banco de reservas.

Fio Maravilha, camisa 14, no famoso jogo contra o Benfica. Crédito: apaixonafutebol.blogspot.com.

Fio Maravilha, camisa 14, no famoso jogo contra o Benfica. Crédito: apaixonafutebol.blogspot.com.

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Em outubro de 1972 o Flamengo não sabia direito o que fazer com o jogador. Fio era uma fonte promocional muito boa, um jogador querido e aprovado pela maioria da torcida, que nem o imaginava fora da Gávea.

Por outro lado, seu rendimento estava estacionado. Alguns o consideravam acomodado dentro do clube, sustentado apenas por uma fama passageira que logo seria dissipada.

E Fio, colocado de lado por Zagallo, pouco aparecia. O povo nas ruas retrucou… Isso é boicote, querem prejudicar o rapaz!

Emprestado ao Avaí (SC), retornou ao Flamengo e voltou a sorrir. Em entrevista do repórter Fausto Neto da revista Placar, Fio vivia um momento feliz.

Crédito: revista Placar - 5 de março de 1971.

Crédito: revista Placar – 5 de março de 1971.

Nas linhas da revista Placar, o atacante afirmou que tinha recusado uma proposta do América para disputar o campeonato brasileiro. Radiante, suas atenções estavam totalmente voltadas para o nascimento do primeiro filho.

– Eu nem penso em deixar o Flamengo, muito menos o Rio de Janeiro. Sou querido nessa cidade. Onde eu ganharia 7.000 cruzeiros por mês mais outro tanto em programas de rádio e anúncios? 

No Flamengo, o atacante realizou 281 jogos com 124 vitórias, 88 empates, 69 derrotas e 77 gols marcados. Os números foram publicados pelo Almanaque do Flamengo, dos autores Roberto Assaf e Clóvis Martins.

Em 1973 foi jogar pelo Paysandu (PA), lá permanecendo até 1975, quando voltou ao Rio para defender o São Cristóvão. Pouco depois, acertou com o CEUB (DF). E Foi nesse período que começou o desgaste envolvendo o assunto da música.

Crédito: revista Placar - Série Grandes Perfis.

Crédito: revista Placar – Série Grandes Perfis.

Crédito: revista Placar - 5 de novembro de 1971.

Crédito: revista Placar – 5 de novembro de 1971.

Um advogado, “amigo do jogador”, perguntou para Fio se Jorge Ben Jor tinha pedido autorização para compor a letra da música. Diante da negativa do jogador, o advogado iniciou um processo jurídico.

Fio, que não imaginava que o caso fosse parar na justiça, pediu para o advogado retirar a tal papelada e esquecer do assunto. Mas já era tarde!

O atacante, derrotado nos tribunais, teve que pagar os honorários do advogado do compositor.

Então, Jorge Ben Jor, entristecido e aborrecido, mudou a letra da canção para “Filho Maravilha”. O charme da música se perdeu. Anos depois, no programa Esporte Espetacular da Rede Globo de Televisão, os dois se falaram e sepultaram o acontecimento em bom tom.

Álbum de figurinhas Bola de Prata 1971. Crédito: albumefigurinhas.no.comunidades.net.

Álbum de figurinhas Bola de Prata 1971.
Crédito: albumefigurinhas.no.comunidades.net.

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Fio ainda jogou pelo Desportiva (ES) até o final dos anos setenta. No início dos anos oitenta, mudou-se para os Estados Unidos e foi atuar no New York Eagles.

Jogou depois pelo Monte Belo Panthers e finalmente no San Francisco Mercury. Gostou tanto da cidade de São Francisco que resolveu ficar por lá trabalhando como entregador de pizzas.

Em entrevista para a jornalista Wania Westphal, do Jornal da Tarde, Fio Maravilha disse que se arrependeu de ir jogar futebol nos Estados Unidos:

– “Falavam que o futebol estava crescendo, que ia ser legal e coisa e tal, mas não foi nada disso”.

Colaborou Mauro Marcello Filho.

Crédito: revista Placar - 13 de outubro de 1972.

Crédito: revista Placar – 13 de outubro de 1972.

Crédito: revista Placar - 13 de outubro de 1972.

Crédito: revista Placar – 13 de outubro de 1972.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Fausto Neto), revista Manchete Esportiva, revista do Esporte, revista Grandes Clubes Brasileiros, kikedabola.blogspot.com.br, lancenet.com.br, site do Milton Neves, abolaeummundo.wordpress.com, futebolsaudade.wordpress.com, blogmemoriaavaiana.blogspot.com, globoesporte.globo.com, apaixonafutebol.blogspot.com, gazetaesportiva.net, oglobo.globo.com, blog.maismemoria.net, Almanaque do Flamengo – Roberto Assaf e Clóvis Martins, albumefigurinhas.no.comunidades.net, Programa Esporte Espetacular – Rede Globo de Televisão.