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Um homem fechado que raramente falava de seu passado no futebol: “Eu sou assim, o passado não me interessa mais. Hoje sou apenas o Baltazar, o auxiliar técnico do Dino Sani”

Foi assim que a revista Placar de 18 de setembro de 1970 tratou do misterioso isolamento de Baltazar, o grande atacante que fez história no clube mais popular de São Paulo.

Oswaldo Silva, ou ainda Osvaldo Silva, conforme encontrado em algumas publicações, nasceu na cidade de Santos (SP), em 14 de janeiro de 1926.

Menino levado, Oswaldo vivia fazendo peraltices na escola. O que interessava mesmo era jogar futebol nos campinhos de várzea do bairro do Macuco.

Até que o pai o levou para trabalhar com ele no serviço de ensacamento de café. O tempo passou e o gosto pela bola continuou. Jogando pela meia-cancha, seu primeiro time foi o Flor do Norte Futebol Clube, uma equipe do futebol amador de Santos.

No Corinthians, Baltazar trabalhou também como auxiliar técnico e treinador nos anos 70. Crédito: gazetaesportiva.net.

Baltazar demorou um pouco para se soltar no Corinthians. Crédito: revista O Globo Sportivo.

Depois, por obra do destino, Oswaldo foi jogar pelo União Monte Alegre Futebol Clube de Piracicaba (SP), uma agremiação mantida por empresários da cidade.

Oswaldo permaneceu no União Monte Alegre até 1944, ano em que decidiu voltar para Santos. Encaminhado aos quadros amadores do Jabaquara Atlético Clube, Oswaldo ficou conhecido como “Baltazar”.

A origem do apelido apresenta várias versões. Quem se chamava Baltazar era seu irmão mais velho, que jogava pelo Santos até sofrer um acidente que o inutilizou para o esporte. Sensibilizado pela fatalidade, Oswaldo adotou o nome do irmão.

Dois meses depois de sua primeira participação no time principal, o Jabaquara recebeu o São Paulo no dia 9 de julho de 1944. O tricolor era o líder do campeonato e contava com uma equipe fabulosa.

Enfrentando astros como Leônidas da Silva, Luizinho Mesquita e Noronha, o Jabaquara venceu pela contagem de 3×2, com o gol do vitória marcado pelo meia direita Oswaldo, que naquele momento já era conhecido como Baltazar.

Crédito: revista Esporte Ilustrado.

O Brasil na Copa do Mundo de 1950. Em pé: Eli, Juvenal, Augusto, Danilo, Barbosa, Bigode e o massagista Jonhson. Agachados: O massagista Mário Américo, Maneca, Ademir, Baltazar, Jair e Chico. Crédito: revista Esporte Ilustrado.

Em seu primeiro campeonato paulista como profissional, Baltazar participou somente de dois terços do certame. O que não impediu que seu nome fosse observado mais atentamente.

Afinal, dos 7 gols que marcou 5 foram de cabeça. Em pouco tempo, Baltazar virou o principal assunto dos moradores do bucólico bairro do Macuco.

Alto e com boa impulsão, os gols de Baltazar despertaram o interesse do presidente do Corinthians, Alfredo Ignácio Trindade, que em 1945 embarcou para Santos disposto em contratar o jogador.

Os cartolas alvinegros estavam preocupados com a aposentadoria do ídolo Teleco. Além disso, Servílio já dava sinais de que não tinha muito tempo de bola pela frente.

Em seus primeiros tempos no Corinthians, Baltazar estava um tanto tímido na meia-direita. Algum tempo depois, com a saída definitiva de Servílio, seu futebol foi aproveitado na posição de centroavante pelo técnico Joreca.

Dois grandes goleadores; Baltazar e Ademir Marques de Menezes. Crédito: revista Esporte ilustrado número 678 – 5 de abril de 1951.

Crédito: revista Esporte Ilustrado número 732 – 17 de abril de 1952.

A mudança de posição fez bem para Baltazar e para o Corinthians. No Torneio Rio-São Paulo de 1950, o duelo contra o Vasco no Pacaembu foi determinante para a conquista do título.

Castigado por uma forte chuva, o gramado do Pacaembu era um autêntico lamaçal. Naquele jogo, Baltazar se entregou de corpo e alma. Disputou divididas no barro e seu empenho foi compensado com o segundo gol na vitória por 2×1.

Convocado pelo técnico Flávio Costa para disputar o mundial de 1950, Baltazar atuou em dois jogos da malfadada campanha que culminou na tragédia diante do Uruguai.

A primeira participação foi no compromisso inaugural da Copa do Mundo, contra o México no Maracanã, com Baltazar marcando um dos gols na boa vitória por 4×0.

Depois, ainda pela fase de grupos, Baltazar jogou contra a Suíça no Pacaembu. O empate por 2×2 foi muito criticado pela imprensa, mas o atacante do Corinthians deixou seu golzinho!

Baltazar desfila em seu carrão, um prêmio como “Jogador mais popular do Brasil”. Crédito: revista do Corinthians número 32 – Junho de 1952.

O compositor Alfredo Borba e a letra da música oferecida para Baltazar. Crédito: Livro Timão 100 Anos – Celso Dario Unzelte – Editora Gutenberg.

Vice-campeão mundial de 1950, Baltazar viveu mais um grande momento no Corinthians em 1951. O título do campeonato paulista, esperado por dez anos, representou sua afirmação definitiva no Parque São Jorge.

A torcida enlouquecida, comemorou como nunca os 103 gols marcados pelo ataque formado por Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Mário.

Campeão Pan-Americano de 1952 pela Seleção Brasileira, Baltazar venceu o concurso de “Jogador mais popular do Brasil”.

Como premiação, o atacante do alvinegro recebeu um automóvel Studbaker zero-quilômetro, uma promoção da empresa americana para fortalecer a marca no Brasil.

Os torcedores acreditavam que Baltazar desfilava seu carrão pelas ruas com o dinheiro que recebia no futebol. Diziam até que o carro era na verdade um Cadillac, um pequeno mimo oferecido pela diretoria do Corinthians.

Crédito: revista O Cruzeiro – Encarte ídolos do futebol brasileiro.

Baltazar exibe sua espetacular impulsão no Pacaembu. No lance, partindo da esquerda; o goleiro Poy, Rafael Chiarella, Maurinho e De Sordi. Crédito: revista Grandes Clubes Brasileiros.

Bicampeão paulista em 1952, Baltazar foi o artilheiro do certame com 27 gols. A popularidade do atacante foi enaltecida na composição musical de Alfredo Borba, intitulada “Gol de Baltazar”.

Então, embalado pela ótima fase, Baltazar continuou lembrado no selecionado paulista e também no escrete canarinho. Disputou sua segunda Copa do Mundo em 1954, nessa oportunidade como titular absoluto.

Baltazar jogou pelo Corinthians até o dia 26 de abril de 1957. Foram 401 jogos com 247 vitórias, 70 empates e 84 derrotas. Dos 266 gols marcados, 70 foram de cabeça. Os números fazem parte do Almanaque do Corinthians, do autor Celso Dario Unzelte.

“Nunca fui bom com os pés. Mas de cabeça, nem o Pelé foi melhor do que eu”, dizia Baltazar sem qualquer constrangimento. Os títulos pelo Corinthians também foram muitos:

– Vice-campeão da Copa Rio de 1952, campeão da pequena Taça do Mundo de 1953, campeão do Torneio Rio-São Paulo 1950, 1953 e 1954, campeão paulista 1951, 1952 e 1954, Torneio Internacional Charles Miller 1955, além da posse da Taça dos Invictos.

Crédito: reprodução revista O Globo Sportivo número 633.

Em 1957 seu passe foi negociado com o Clube Atlético Juventus.

Em seguida, Baltazar voltou para Santos, onde defendeu novamente o Jabaquara. Por fim, em 1959, o atacante firmou compromisso com o União Paulista de São Paulo.

Após sua despedida dos gramados, Baltazar trabalhou no Corinthians como auxiliar técnico e treinador nos anos 70. Longe do futebol trabalhou na Penitenciária do Estado como Carcereiro.

Oswaldo Silva faleceu em 25 de março de 1997 na cidade de São Paulo. O “Cabecinha de Ouro” passou seus últimos anos de vida morando na Praia Grande (SP).

Seu busto está nas dependências do Parque São Jorge, ao lado de Neco, Luizinho, Cláudio e Roberto Rivellino.

Crédito: revista O Cruzeiro número 36 – 23 de junho de 1956.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Dagomir Marquezi, João Carlos Rodriguez, Maurício Azêdo e Maurício Cardoso), revista do Esporte, revista do Corinthians (por Téo de Andrade e Adelino Ricciardi), revista Esporte Ilustrado, revista Grandes Clubes Brasileiros, revista O Cruzeiro, revista O Globo Sportivo, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal A Tribuna, Jornal Mundo Esportivo, cacellain.com.br, campeoesdofutebol.com.br, corinthians.com.br, esportes.r7.com, gazetaesportiva.net, globoesporte.globo.com, museudosesportes.blogspot.com.br, site do Milton Neves (por Milton Neves e Rogério Micheletti), Almanaque do Corinthians – Celso Dario Unzelte, Livro: Timão 100 Anos – Celso Dario Unzelte – Editora Gutenberg.