Tags

, , ,

Quando um conhecido e respeitado olheiro disparou um convite para Domingos da Guia treinar no time da Fábrica de Tecidos Bangu, o jovem mal conseguia acreditar.

Achava elegante dizer que jogava como “Center-Half”, uma designação oriunda do aristocrático futebol inglês e muito presente nos primórdios do nosso mundo da bola!

Ainda que não entendesse perfeitamente o que significava ser um “Center-Half”, o habilidoso rapazola queria jogar onde a visão do gramado era mais ampla.

De origem humilde, o promissor Domingos da Guia era o mais reservado dos três irmãos, que também jogavam nas fileiras do famoso alvirrubro de “Moça Bonita”. 

Domingos Antônio da Guia nasceu em 19 de novembro de 1912 no bairro de Bangu – Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro (RJ), embora algumas fontes apontem seu nascimento em 12 de novembro de 1912.

O segundo partindo da esquerda, Domingos da Guia aparece com a camisa da Seleção Brasileira em 1939. Crédito: revista Esporte Ilustrado.

Com grande prestígio, Domingos da Guia foi apresentado aos torcedores do Boca Juniors. Crédito: reprodução revista El Gráfico.

Domingos da Guia passou rapidamente pelo time da fábrica para em seguida ser aproveitado no Bangu Atlético Clube (RJ), sempre com o aval do irmão Ladislau Antônio José da Guia, um atacante que ganhou fama pelo chute potente.

Ainda como amador, sua primeira participação aconteceu na tarde de 28 de abril de 1929, ao substituir o zagueiro Conceição na vitória do Bangu por 3×1 sobre o Flamengo em confronto válido pelo campeonato carioca.

A galopante ascensão como zagueiro o fez esquecer da vaidade de brilhar como “Center-Half”. Domingos da Guia era dono de um estilo arriscado e único, o que causava calafrios nos torcedores.

Em uma época em que os bons zagueiros eram aqueles que entravam duro nas divididas para despachar o couro de qualquer maneira, Domingos da Guia era mesmo diferente!

Com tranquilidade de sobra para desarmar seus adversários, seus dribles secos e desmoralizantes dentro da área logo receberam da imprensa esportiva o nome de “Domingada”.

No Flamengo, Domingos da Guia conquistou muitos títulos e brilhou ao lado de grandes estrelas! Crédito: revista Esporte Ilustrado.

Norival e Domingos da Guia com a camisa do selecionado carioca. Crédito: reprodução revista Esporte Ilustrado número 302 – 20 de janeiro de 1944.

Lembrado pela primeira vez na Seleção Brasileira em 1931, Domingos da Guia participou da grande vitória sobre o Uruguai por 2×0 pela Copa Rio Branco. No findar do ano seguinte trocou o Bangu pelo Club de Regatas Vasco da Gama.

Em São Januário, Domingos da Guia não permaneceu por muito tempo! Recebeu propostas de inúmeros clubes e por fim optou pelo Club Nacional de Football do Uruguai.

Assim que desembarcou em Montevidéu, Domingos da Guia causou um dilema. Jogando na mesma posição do intocável José Nasazzi, o treinador do Nacional adaptou seu esquema de jogo com dois beques pelo lado direito.

Campeão uruguaio pelo Nacional em 1933, Domingos da Guia voltou ao Rio de Janeiro para conquistar o campeonato carioca de 1934 pelo Vasco da Gama, momento em que já era conhecido como “Divino Mestre”.

Mas o intermitente assédio das grandes agremiações do futebol Sul Americano parecia não ter fim! Em 1935 Domingos da Guia foi defender o Club Atlético Boca Juniors, onde também conquistou o título argentino.

Treino da Seleção Brasileira. Partindo da esquerda; Begliomini, Domingos da Guia, Danilo e Zizinho. Crédito: Jornal A Gazeta Esportiva número 1096 – 8 de fevereiro de 1945.

Uma memorável formação da Seleção Brasileira! Em pé: Begliomini, Biguá, Rui, Oberdan Cattani, Domingos da Guia e Jayme. Agachados: Tesourinha, Zizinho, Heleno de Freitas, Jair Rosa Pinto e Ademir. Crédito: revista Esporte Ilustrado.

Domingos da Guia retornou ao Brasil no mês de agosto de 1936, quando firmou compromisso com Clube de Regatas do Flamengo (RJ), um rico e longo período coroado com os títulos cariocas de 1939, 1942 e 1943.

Pelo Flamengo foram 223 jogos com 138 vitórias, 46 empates e 39 derrotas. Os registros foram publicados pelo “Almanaque do Flamengo”, dos autores Clóvis Martins e Roberto Assaf.

O lance mais discutido de sua carreira aconteceu na semifinal da Copa do Mundo da França, em 1938. A Seleção Brasileira perdia por 1×0 para os italianos, mas pressionava o adversário em busca do empate.

Aos 17 minutos da etapa complementar o golpe fatal. O italiano Piola provocou e Domingos da Guia cometeu uma penalidade infantil, o que custou nossa sofrida eliminação. A Itália venceu por 2×1.

Encerrando seu vínculo com o time da Gávea, Domingos da Guia foi negociado com o Sport Club Corinthians Paulista em 1944, uma transferência que custou aos cofres do clube 300 Contos de Réis.

O massagista Johnson trabalha duro na preparação do zagueiro Domingos da Guia. Crédito: revista Esporte Ilustrado.

Domingos da Guia ainda voltou ao Bangu para encerrar sua notável trajetória nos gramados! Crédito: reprodução revista Esporte Ilustrado.

No Corinthians, entre 1944 e 1948, Domingos da Guia conquistou a Taça cidade de São Paulo de 1947. No “Almanaque do Corinthians” de Celso Dario Unzelte, o zagueiro disputou 116 jogos; com 77 vitórias, 17 empates e 22 derrotas.

Ao deixar o Parque São Jorge em 1948, Domingos da Guia acertou seu retorno ao mesmo Bangu, equipe onde também encerrou sua caminhada como jogador profissional.

Como treinador orientou o Olaria Atlético Clube (RJ) em 1953, para em seguida trabalhar em um bar de sua propriedade. Morador do bairro do Méier, Domingos da Guia vivia ao lado do amigo Zizinho, outro grande valor que vestiu a camisa alvirrubra do Bangu.

A classe de um dos maiores zagueiros de todos os tempos foi passada ao filho Ademir da Guia, igualmente genial como o pai e que também iniciou sua carreira no Bangu.

Domingos Antônio da Guia faleceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 18 de maio de 2000. Ficava assim o escrete canarinho desfalcado do Divino Mestre Domingos.

O espigado menino Ademir da Guia observa maravilhado o domínio de bola do pai Domingos da Guia. Crédito: revista Placar.

Domingos da Guia na “Seleção Brasileira de Todos os Tempos”, uma eleição que contou com a participação de grandes nomes do jornalismo esportivo. Foto de Bruno Veiga. Crédito: reprodução revista Placar número 1114 – Abril de 1996.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Bruno Veiga, Dagomir Marquezi, José Maria de Aquino, Narciso James e Ricardo Beliel), revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, revista do Esporte, revista El Gráfico, revista Esporte Ilustrado (por Isaac Amar, Jorge Leal, Levy Kleiman, Luís Mendes e Mário Gabriel), revista O Cruzeiro, revista O Globo Sportivo, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, Jornal O Globo, acervo.oglobo.globo.com, bangu.net, campeoesdofutebol.com.br, flamengo.com.br, gazetaesportiva.net, site do Milton Neves (por Marcelo Rozenberg e Rogério Micheletti), Almanaque do Corinthians – Celso Dario Unzelte, Almanaque do Flamengo – Clóvis Martins e Roberto Assaf.

Publicidade