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O veterano argentino Sanfilippo parecia estar com os dias contados no Bahia. Agora, a camisa de titular pertencia ao jovem atacante Jorge Augusto, que foi apresentado com o apelido de “Beijoca” nas páginas da revista Placar de 9 de outubro de 1970.

– “Foi uma grande alegria quando pela primeira vez fui relacionado pelo técnico Fleitas Solich”, lembrou o rapazola que agarrou a chance com unhas e dentes!

A origem do curioso apelido de Jorge Augusto faz parte da história de sucesso da Fábrica de Brinquedos Estrela, que lançou a boneca “Beijoca” nos primeiros anos da década de 1960.

Marcante goleador, que também ficou famoso pelo temperamento difícil, Jorge Augusto Ferreira de Aragão nasceu no dia 23 de abril de 1954 na cidade de Salvador (BA).

Beijoca começou sua caminhada no Vila Real, uma equipe amadora do cenário baiano. Depois, seu futebol foi bem recomendado ao juvenil do Esporte Clube Bahia. Forte e destemido, sua enorme facilidade para finalizar ao gol foi logo percebida.

Fome de gols. Aos dezesseis anos de idade, o garoto Beijoca era uma das grandes esperanças do Bahia! Crédito: revista Placar número 30 – 9 de outubro de 1970.

No Fortaleza, inicialmente pela ponta-direita, Beijoca ganhou espaço depois da chegada do técnico Urubatão Calvo Nunes. Crédito: revista Placar número 253 – 31 de janeiro de 1975.

Promovido ao elenco principal do Bahia pelo técnico Fleitas Solich, Beijoca foi uma boa surpresa na Taça de Prata de 1970, quando inclusive marcou um dos gols da sensacional virada por 3×2 sobre o Corinthians no dia 29 de novembro.

Abaixo, os registros do confronto que marcou positivamente o início da carreira do novato Beijoca vestindo a camisa do Bahia:

29 de novembro de 1970 – Torneio Roberto Gomes Pedrosa (“Torneio Robertão” ou Taça de Prata) – Bahia 3×2 Corinthians – Estádio Batistão (Aracajú) – Árbitro
Carlos Costa (RJ) – Gols: Carlinhos, Beijoca e Zé Oto para o Bahia; Paulo Borges e Mirandinha para o Corinthians.

Bahia: Picasso; Aguiar, Zé Oto, Roberto Rebouças e Paes; Lourival e Amorim; Baiaco, Sanfilippo (Beijoca), Carlinhos e Vitor (Raul). Técnico: Fleitas Solich. Corinthians: Ado; Zé Maria, Ditão, Luís Carlos e Pedrinho; Suingue e Rivellino (Tião); Lindóia (Célio), Paulo Borges, Mirandinha e Aladim. Técnico: Aymoré Moreira.

Sem acordo para continuar no plantel do Bahia, Beijoca foi jogar pela Associação Sportiva São Domingos de Alagoas. Ao voltar para Salvador, o atacante precisou trabalhar com o pai enquanto procurava por um novo clube.

Em sua terceira passagem pelo Bahia, Beijoca estava disposto em acabar com a má fama! Crédito: revista Placar – Série Grandes Perfis.

Na temporada de 1973, um aceno do Fortaleza Esporte Clube (CE) apareceu em boa hora. Sob o comando do treinador Urubatão Calvo Nunes, Beijoca foi um dos principais artilheiros do Brasil em 1974.

O ótimo desempenho no bicampeonato cearense de 1973 e 1974 pelo Fortaleza representou o pronto interesse de vários clubes, principalmente do Náutico (PE), do Santa Cruz (PE) e do Bahia.

Dessa forma, os dirigentes do tricolor da “Boa Terra” não perderam tempo para depositar o montante de 25 mil cruzeiros junto ao Fortaleza pelos direitos de Beijoca.

Bicampeão baiano em 1975 e 1976, Beijoca padecia com os desdobramentos negativos de seu comportamento, tanto dentro como fora dos gramados!

Era briguento e rebelde, ao mesmo tempo em que o depreciativo rótulo de “beberrão” ganhava um espaço considerável nas manchetes esportivas.

Emprestado pelo Bahia, Beijoca precisava perder peso para brilhar com a camisa do Sport Recife! Foto de Hélio Mota. Crédito: revista Placar número 371 – 3 de junho de 1977.

Na Fonte Nova, Beijoca não suportou apanhar calado dos zagueiros do Vasco. Partiu pra cima do árbitro Abel Santos e acabou expulso de campo! Crédito: revista Placar número 418 – 28 de abril de 1978.

Por outro lado, ninguém era capaz de negar o talento do atacante para colocar o couro no fundo das redes. E mesmo castigado por uma avassaladora ressaca, o criticado Beijoca foi determinante na conquista do certame baiano de 1976.

Contudo, não foi surpresa quando Beijoca acabou emprestado ao Sport Club do Recife (PE) em 1977, um período marcado pela irregularidade e pela luta contra o excesso de peso!

Com o fim do empréstimo no Sport Recife, Beijoca continuou com o prestígio em alta no Bahia de Zezé Moreira, uma condição que proporcionou a proposta de dois milhões de cruzeiros por parte da Portuguesa de Desportos.

Entretanto, os “cartolas” do clube paulista abandonaram a negociação ao tomar conhecimento de vários processos que corriam soltos na justiça comum contra o atacante!

Conforme publicado pela revista Placar número 487, de 24 de agosto de 1979, o centroavante respondeu sobre os processos na justiça como a coisa mais natural do mundo.

Boatos e bom humor na apresentação de Beijoca aos torcedores do Flamengo: “Dizem que ele anda de canivete no bolso”. Foto de Ignácio Ferreira. Crédito: revista Placar número 487 – 24 de agosto de 1979.

Forte, cara de brabo e costas largas! Beijoca chegou ao Rio de Janeiro pronto para brigar pela camisa de titular do Flamengo. Foto de Ignácio Ferreira. Crédito: revista Placar número 487 – 24 de agosto de 1979.

Aborrecido, Beijoca tentou justificar: “Isso tudo é uma maldade incrível comigo! Respondo somente por três processos que estão em andamento”.

Mas, o destino foi generoso com Beijoca. No segundo semestre de 1979, o Clube de Regatas do Flamengo (RJ) anunciou o centroavante na Gávea pela vultosa quantia de cinco milhões de cruzeiros.

Quase que imediatamente, a apaixonada torcida do Bahia manifestou o seu total descontentamento pela venda de Beijoca ao Flamengo.

Todavia, Beijoca não foi bem no futebol carioca. De acordo com o Almanaque do Flamengo, dos autores Clóvis Martins e Roberto Assaf, o centroavante disputou apenas 9 compromissos; com 6 vitórias, 1 empate, 2 derrotas e 1 gol marcado.

E lá foi Beijoca, contente por encerrar a temporada de 1979 no mesmo Bahia de sempre. Em 1980, o empresário e fazendeiro Antônio Pena decidiu levar Beijoca para a então Associação Desportiva Catuense (BA), onde ficou até 1981.

Leite fresco e vida nova como capitão da Catuense! Foto de Hipólito Pereira. Crédito: revista Placar número 572 – 1 de maio de 1981.

Uma nova e talvez derradeira oportunidade no mesmo Bahia. O contrato castigava qualquer indisciplina! Foto de Carlos Catela. Crédito: revista Placar número 713 – 20 de janeiro de 1984.

Em 1984, Beijoca assinou o seu último contrato com o Bahia. Uma nova e talvez derradeira oportunidade, com um acordo bem diferente dos anos anteriores e que castigava qualquer tipo de indisciplina.

O artilheiro andarilho também ofereceu sua costumeira “catimba”, bem como a alegria de seus gols em inúmeras equipes por esse imenso Brasil afora!

Jogou pelo Camaçari (BA), Estrela de Março (BA), Fluminense de Feira (BA), Leônico (BA), Vitória (BA), Ypiranga (BA), Gama (DF), Guará (DF), Londrina (PR), Brusque (SC), Sergipe (SE) e Mogi Mirim (SP).

De acordo com o site Terceiro Tempo (Seção Que Fim Levou) do jornalista Milton Neves, em 2007 Beijoca assumiu o cargo de auxiliar-técnico no Esporte Clube Bahia.

Esforço, sacrifício e superação – Aposentado e evangélico, o ex-atacante revelou aos leitores os martírios que atravessou por conta do flagelo do alcoolismo. A matéria foi publicada na revista Placar número 134, no mês de abril de 2010.

Beijoca no Sergipe em 1986. Um momento bem diferente das tardes coloridas do Bahia! Crédito: revista Placar.

Porres históricos, como aquele antes da partida decisiva do campeonato baiano de 1976. Crédito: revista Placar número 1341 – Abril de 2010.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Antônio Andrade, Carlos Catela, Carlos Libório, Claudine Petroli, Fernando Escariz, Hélio Mota, Hipólito Pereira, Ignácio Ferreira, Leandro Guimarães, Lenivaldo Aragão, Marcos Barrero, Marcos Nunes, Maria Helena Araújo, Roque Mendes, Sérgio Martins e Washington de Souza Filho), revista Grandes Clubes Brasileiros, revista Manchete, revista Manchete Esportiva, Jornal dos Sports, campeoesdofutebol.com.br, esporteclubebahia.com.br, globoesporte.globo.com (por Eric Luís Carvalho), site do Milton Neves (por Rogério Micheletti), Almanaque do Flamengo – Clóvis Martins e Roberto Assaf.

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