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Ao voltar dos Estados Unidos, Cláudio Coutinho vivia um momento bem diferente de quando assumiu o comando da Seleção Brasileira em 1977.
Em busca de privacidade e cansado de falar sobre 1978, o número do telefone foi trocado algumas vezes. De fato, a Copa do Mundo foi um divisor de águas em sua carreira!
No mundial da Argentina, Cláudio Coutinho foi chamado de covarde, inventor, medroso, retranqueiro e uma infinidade de outras coisas.
Mas o escrete canarinho cresceu muito na competição e até poderia ter ido mais longe, não fosse a famosa marmelada peruana.
Cláudio Pecego de Moraes Coutinho nasceu no município de Dom Pedrito (RS), em 5 de janeiro de 1939.
A família mudou para o Rio de Janeiro quando Cláudio Coutinho ainda era praticamente um bebê.
Morando em uma casa confortável no bairro de Copacabana, o menino cresceu sob a batuta disciplinar do pai Aquilles, um oficial de carreira no Exército.
Com muita facilidade para aprender idiomas, na tenra idade já estudava o francês e o inglês. Superprotegido em casa, na hora das broncas tudo sobrava para o irmão Ronaldo.
Cláudio Coutinho gostava de praticar esportes, embora nunca tenha apresentado habilidades suficientes para progredir no futebol. Participava das peladas na praia, mas gostava mesmo era de jogar vôlei.
Aluno brilhante e dedicado no Colégio Mello e Souza, Cláudio Coutinho era o orgulho da mãe, dona Ilca. Autodidata, não media sacrifícios nos tempos da Academia Militar das Agulhas Negras (RJ).
Na Brigada de Paraquedistas, o gaúcho criado no Rio de Janeiro alcançou o posto de Capitão, época em que também ingressou na Escola de Educação Física do Exército.
Falava o francês com uma fluência invejável, idioma que aprimorou em 1968 ao participar de um congresso nos Estados Unidos.
Foi quando conheceu o professor Kenneth Cooper, que prontamente o convidou para conhecer o Laboratório de Estresse Humano na NASA.
Estagiou no Botafogo e em 1969 foi lembrado para fazer parte da Comissão Técnica da Seleção Brasileira.
E Cláudio Coutinho colocou em prática os conceitos do professor Cooper. Trabalhou na preparação e prevenção dos efeitos da altitude no futebol, um fator determinante no sucesso canarinho no mundial do México em 1970.
A inovadora metodologia foi questionada por alguns jogadores, que extenuados mostravam uma certa descrença quanto ao falado Teste de Cooper.
Pouco depois em Guadalajara, Pelé já estava correndo 3.100 metros sem demonstrar qualquer sinal de cansaço.
Trabalhou no futebol peruano e foi Coordenador Técnico na Copa do Mundo de 1974, uma experiência que potencializou seu leque de conhecimentos ao testemunhar o “futebol total” praticado pela Holanda.
Passou pelo Olympique de Marseille, para em seguida comandar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Montreal em 1976. No mesmo ano iniciou sua trajetória no Clube de Regatas do Flamengo.
A processo de “europeização” do nosso futebol começou em 1977. Com a saída de Oswaldo Brandão, muitos foram os treinadores cogitados para assumir o comando da Seleção Brasileira.
Confirmado o nome de Cláudio Coutinho, grande parte dos brasileiros foram pegos de surpresa. Para muitos, o treinador do Flamengo era apenas um revolucionário teórico!
E foi assim que repentinamente fomos invadidos por palavras pouco conhecidas no conservador mundo da bola; como “overlapping”, “polivalência” e “ponto futuro”.
Cláudio Coutinho estava indo bem até o aparecimento de novas polêmicas. Foi criticado pela ausência de Júnior do Flamengo e de Falcão do Internacional; sem esquecer da discutida escalação do zagueiro Edinho como lateral esquerdo.
Na Copa do Mundo assistimos um time “preso”, uma seleção que sabia se defender. Porém, na hora de fazer gols era um verdadeiro tormento!
Em matéria especial para a revista Placar de 11 de maio de 1979, Cláudio Coutinho admitiu erros e reconheceu que armou uma seleção defensiva demais.
O problema ofensivo só foi resolvido depois da entrada de Roberto Dinamite contra a Áustria. Dessa forma, o escrete foi caminhando na competição!
Só não contávamos com a “marmelada” peruana contra os argentinos. E assim fomos os invictos “Campeões Morais de 1978”.
Em outubro de 1979, o Brasil foi eliminado da Copa América pelo Paraguai com o empate em 2×2 Maracanã. Era o início do fim de Cláudio Coutinho na Seleção Brasileira.
Conforme publicado no livro “Seleção Brasileira 90 Anos”, dos autores Antônio Carlos Napoleão e Roberto Assaf, Cláudio Coutinho dirigiu o Brasil em 45 partidas com 27 vitórias, 15 empates e 3 derrotas.
Pelo time da Gávea foram 76 compromissos com 47 vitórias, 20 empates e 9 derrotas. Os registros foram publicados pelo Almanaque do Flamengo, dos autores Clóvis Martins e Roberto Assaf.
Conquistou o tricampeonato da Taça Guanabara em 1978, 1979 e 1980, o tricampeonato carioca em 1978, 1979 e 1979 “Especial”, além do título brasileiro de 1980.
Também foi o responsável pela montagem da equipe que faturou o título da Libertadores da América e do Intercontinental de clubes em 1981.
Seu último trabalho foi no Los Angeles Aztecs dos Estados Unidos. De volta ao Rio de Janeiro, Cláudio Coutinho estava disposto em aceitar um convite para trabalhar na Arábia Saudita.
Católico e devoto de Santa Terezinha, o sempre reservado Cláudio Pecego de Moraes Coutinho faleceu em 27 de novembro de 1981.
A fatalidade aconteceu próximo das ilhas Cagarras, quando praticava pesca submarina. Era seu passatempo favorito e o “capitão” contava com muita experiência nesse esporte.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Aristélio Andrade, Ignácio Ferreira, JB Scalco, Jairo Régis, José Maria de Aquino, Marcelo Rezende, Maria Helena Araújo, Raul Quadros, Rodolpho Machado e Ronaldo Kotscho), revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Cruzeiro, revista Veja, Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, Jornal O Globo, extra.globo.com, flamengo.com.br, site do Milton Neves (por Marcelo Rozenberg), Almanaque do Flamengo – Clóvis Martins e Roberto Assaf, Livro: Seleção Brasileira 90 Anos – Antônio Carlos Napoleão e Roberto Assaf.