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Escola Nacional de Educação Física, Kid Jofre, Massagista Mário Américo, o roubo da bola na copa de 1958
Conheci Mário Américo em 1975, na praça de esportes do União dos Operários, na Vila Maria, quando o torneio de futebol amador “Desafio ao Galo” era organizado e exibido pela TV Record.
Naquela ocasião, Mário Américo estava com o time do Milionários ao lado de vários craques do passado. Lembro perfeitamente de seu aperto forte de mão e do sorriso espontâneo!
Mário Américo nasceu em uma fazenda na cidade de Monte Santo (MG), em 28 de julho de 1912.
Órfão de pai, Mário Américo fugiu de casa ainda menino para morar com o primo na cidade de São Paulo.
Trabalhou como engraxate, vendedor de balas e auxiliar de mecânico. “Mário Negrinho”, como também era conhecido, recebeu aulas de bateria com o músico João Lombriga e fez parte de uma orquestra na adolescência.

Crédito: revista O Globo Sportivo número 646 – 1951.

O pombo correio – Mário não se limitava apenas ao trabalho como massagista. Aos poucos, o simpático careca foi se especializando na arte de comunicar os recados que partiam dos treinadores. Crédito: revista O Globo Sportivo número 646 – 1951.
A carreira artística terminou rapidamente em razão de uma advertência do Juizado de Menores, ao ser encontrado tocando em bailes na noite paulistana.
Triste pela falta da música em sua vida, Mário Américo encontrou outra paixão rapidamente. Quase que por acaso, quando passava pela Ladeira da Memória (centro de São Paulo), um convite para treinar boxe despertou sua costumeira curiosidade.
Treinou com o lendário Kid Jofre, pai do campeão Éder Jofre. Em pouco tempo, já estava no Rio de Janeiro se arriscando nas primeiras lutas como peso leve.
Na segunda metade da década de 30, Mário se mudou para o bairro de Madureira ao lado de Maria de Souza, com quem havia se casado recentemente.

Crédito: revista Manchete número 41 – 31 de janeiro de 1953.
Continuou como lutador de boxe até aparecer uma oportunidade como enfermeiro no Madureira, com um salário superior ao que conseguia penosamente em cima dos ringues.
Atraído pelo conhecimento, Mário Américo aprendeu muita coisa sobre Anatomia e Fisiologia com os médicos Sérgio Blumer e Nílton de Paes Barreto.
Ficou cuidando dos jogadores do Madureira até 1941, quando foi contratado pelo Club de Regatas Vasco da Gama. Entendendo que aquele caminho era promissor, Mário se especializou na Escola Nacional de Educação Física em 1942.
Pelo Vasco, Mário Américo era um personagem querido nos bastidores do “Expresso da Vitória”. Foi campeão carioca nas edições de 1945, 1947, 1949, 1950 e campeão Sul-Americano de Clubes Campeões em 1948.
Foi com o técnico Flávio Costa que Mário Américo aprendeu mais uma tarefa: Levar recados e instruções ao goleiro Barbosa. Assim nasceu um dos mais famosos “pombos-correios” do futebol brasileiro.

Crédito: museudosesportes.blogspot.com.br.
No Torneio Rio-São Paulo de 1952, uma briga entre os jogadores do Vasco e da Portuguesa de Desportos avançou além das quatro linhas.
No calor da confusão, Mário Américo acertou um soco no presidente do time paulista, o doutor Mario Augusto Izaías. Meses depois, Djalma Santos promoveu o encontro entre os dois e um convite compensador tirou Mário Américo do Vasco em 1953.
Na Lusa, Mário Américo conquistou a Fita Azul em 1953 e o Torneio Rio-São Paulo em 1955. Sua jornada na Seleção Brasileira começou em 1949, como auxiliar do experiente Johnson, na época o massagista oficial do escrete.
Mário participou de sete copas do mundo entre 1950 e 1974. Foi vice-campeão em 1950 e campeão em 1958, 1962 e 1970, além dos inúmeros triunfos em outras competições, inclusive na conquista da Taça Independência em 1972.
Em 1958 foi o autor do famoso “roubo da bola” na partida final contra a Suécia. O plano foi arquitetado por Paulo Machado de Carvalho e contou ainda com a participação do roupeiro Francisco de Assis.

Mário Américo prepara Bellini antes de mais um compromisso da Seleção Brasileira. Crédito: revista do Esporte número 171 – Junho de 1962.

Mário Américo atende Roberto Rivellino durante o mundial do México em 1970. Crédito: revista Placar.
Quando o jogo terminou, Mário Américo não teve tempo para comemorar o grande feito de nossa seleção. Atravessou o gramado como um raio e sem maiores problemas pegou sua encomenda redonda.
Perseguido pela polícia entrou em vestiário errado. Sem outra alternativa para escapar, um muro alto não foi suficiente para deter sua ansiedade de chegar rapidamente ao vestiário do Brasil.
Então, Mário Amércio guardou o tesouro de couro no saco de camisas e enrolou uma bola falsa em uma toalha. Com o árbitro batendo na porta do vestiário, o astuto massagista brasileiro fez cara de assustado e entregou o engodo com toalha e tudo.
Minutos depois, o árbitro francês voltou enfurecido exigindo a bola verdadeira. Foi convencido que a bola seria devolvida durante o jantar comemorativo, que seria realizado na mesma noite.
Quando os brasileiros chegaram na festa foram recepcionados por uma comitiva de plantão chefiada pelo árbitro para receber a bola. Então, Mário Américo lhe deu um charuto e chamou seus auxiliares para alguns drinques.

Crédito: revista Placar.

Crédito: revista Placar – 3 de dezembro de 1976.
Depois de tanta bebida, o francês levou para casa uma bola ainda mais falsificada do que aquela que recebeu nos vestiários, inclusive com o carimbo da CBD (Confederação Brasileira de Desportos).
Assim, a verdadeira bola da conquista viajou no colo triunfante de Paulo Machado de Carvalho e atualmente se encontra no Museu do Futebol, no estádio do Pacaembu.
Após encerrar sua carreira nos gramados, Mário Américo cuidou de sua Lotérica e de sua apaixonada coleção de três mil xícaras de vários lugares do mundo.
Com sua imensa popularidade, a politica não demorou para aparecer em seu caminho. Em 1976 foi eleito vereador na cidade de São Paulo, com 53 mil votos.
Sem conseguir ficar longe do ofício, Mário Américo teve uma clínica de massagens no bairro do Imirim, na Zona Norte de São Paulo. O “Tio”, como era carinhosamente chamado pelos jogadores, faleceu no dia 9 de abril de 1990.

Crédito: revista Placar – 3 de dezembro de 1976.

Crédito: revista Placar – 3 de dezembro de 1976.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Marcos Sérgio Silva, Carlos Maranhão e Marcelo Laguna), revista do Esporte, revista O Globo Sportivo, revista Esporte Ilustrado, revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Cruzeiro, Jornal Mundo Esportivo, Jornal A Gazeta Esportiva, gazetaesportiva.net, estadão.com.br, museudosesportes.blogspot.com.br, campeoesdofutebol.com.br, literaturanaarquibancada.com, ftt-futeboldetodosostempos.com, sitedalusa.com, fernandomachado.blog.br, site do Milton Neves (por Marcelo Rozenberg).