Tags
Adílson Monteiro Alves, bicampeonato paulista de 1982 e 1983, Democracia Corinthiana, redemocratização do Brasil
Alimentação balanceada e regrada, acompanhamento médico e psicológico, descanso, integração, meditação, preparação, preservação, relaxamento…
O “Regime de Concentração” no futebol não passa de uma verdadeira clausura condicionada, que tem como principal objetivo apartar os jogadores de qualquer estímulo externo que possa prejudicar o rendimento no gramado.
E mesmo que o local escolhido para recolher o elenco e comissão técnica seja um verdadeiro paraíso do universo hoteleiro, não há como negar que tamanha privação do mundo exterior possa causar mais malefícios do que propriamente benefícios.
Por outro lado, na concepção conservadora de boa parte dos dirigentes, jogador precisa apenas jogar e jogar muito bem, de preferência sem causar problemas ou mesmo dar “pitacos” na administração do departamento de futebol.
Até que chegou o dia em que um sociólogo “barbudinho” decidiu discutir melhor alguns conceitos enraizados do amado “esporte bretão”.
Como se tal afronta não bastasse, o jovem intelectual considerou ainda incluir também os jogadores na nova pauta que brotava com ímpeto nos bastidores.
Filho do conceituado dirigente Orlando Monteiro Alves, Adílson Monteiro Alves nasceu na cidade de São Paulo (SP), em 26 de dezembro de 1946.
Depois da confirmação da eleição de Waldemar Pires para o cargo de presidente do Corinthians em 1981, um verdadeiro processo de reformulação foi iniciado!
Com pouco tempo no gabinete da presidência, o novo mandatário do alvinegro colocou em prática mudanças importantes, alterações que foram determinantes no rendimento do time nos meses seguintes.
Além da chegada posterior do afamado técnico Mário Travaglini, Waldemar Pires decidiu pela contratação de um novo diretor de futebol, como substituição ao já calejado Mendonça Falcão.
Arrojado e inovador, em novembro de 1981 o recém empossado presidente do Corinthians entregou tamanha responsabilidade ao sociólogo Adílson Monteiro Alves, um homem sem qualquer vivência anterior nos bastidores da bola.
Com o passado ancorado apenas na carteirinha de sócio do clube, um presente que recebeu do pai ainda na infância, Adílson Monteiro Alves sabia que seu novo desafio era muito maior do que o trabalho na fábrica de biscoitos da família.
Munido de um projeto considerado arrojado, Adílson Monteiro Alves logo adotou um estilo de gestão menos autoritário, especialmente quando recebeu apoio de lideranças importantes como Sócrates e Wladimir.
Dessa forma, tudo que dizia respeito ao departamento de futebol era decidido em comum acordo com os jogadores, sem qualquer espécie de interferência do corpo diretivo.
O confronto inevitável entre abertura e conservadorismo só não foi maior que o desgosto da Fiel Torcida com o desempenho do time, que com uma campanha ruim no campeonato paulista foi parar na Taça de Prata do “brasileirão”.
Conforme reportagem publicada pela revista Placar em 3 de setembro de 1982, Adílson Monteiro Alves também trabalhou forte em outros setores: O publicitário Washington Olivetto para a área de Marketing e o psicólogo Flávio Gikovate.
– “O Corinthians é uma grande marca e como tal, não pode ser administrado de forma ditatorial e por um único representante”.
– “Nossa meta é transferir responsabilidades e acabar com o paternalismo… O jogador geralmente é percebido como criança ou como um bandido. Para nós, o jogador é um trabalhador comum, mas de um talento diferente, um artista”.
Paralelamente, o técnico Mário Travaglini também colaborou na execução dos novos conceitos, sem esquecer do importante comprometimento do professor José Teixeira
Apoiado na oportuna valorização contratual das principais estrelas da equipe, a abolição do “Regime de Concentração” foi uma consequência esperada.
A grande campanha na Taça de Prata e o bicampeonato paulista de 1982 e 1983 foi uma boa resposta aos céticos, tanto no ambiente do clube como também para alguns segmentos da imprensa esportiva.
Afinal, não foram poucos os que pregaram que a tal “Democracia” no ambiente do futebol era uma perfeita loucura, algo nunca daria certo!
Mesmo com ótimos resultados no gramado, o movimento perdeu força em 1984, coincidentemente o mesmo ano da saída de Sócrates para o cenário italiano.
Antes, em 1983, o primeiro abalo ao alicerce democrático foi percebido com a saída do técnico Mário Travaglini, que na oportunidade manifestou seu total descontentamento com os efeitos negativos do processo.
Com a derrota nas urnas em 1985 para Roberto Pasqua, Adílson Monteiro Alves voltou ao trabalho na fábrica de biscoitos da família, sem perder o costumeiro interesse pelas coisas do futebol e da política.
Trabalhou posteriormente da Federação Paulista de Futebol e, mesmo de longe, nunca deixou de acompanhar os rumos do seu querido Corinthians!
Anos mais tarde, Vicente Matheus voltou ao poder e sem perder tempo disparou aos ávidos repórteres que faziam a cobertura de sua eleição em 1987:
– “Essa tão falada Democracia só promoveu desordem dentro do clube. No fim do mês quem paga os compromissos é o talão de cheques do clube”.
A família Monteiro Alves ainda teve outro representante no Corinthians. Filho de Adilson Monteiro Alves, Duílio Monteiro Alves assumiu o cargo de diretor de futebol em dezembro de 2010.
Como legado, Adilson Monteiro Alves e seus companheiros ofereceram valorosa contribuição ao futebol e ao movimento de redemocratização que tomou conta do Brasil naquele período.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Ari Borges, Edu Garcia, JB Scalco, João Carlos Rodriguez, José Maria de Aquino, Juca Kfouri, Lemyr Martins, Luís Dantas, Manoel Motta, Mário Sérgio Venditti, Nélson Coelho, Nico Esteves, Sérgio Berezovsky e Sérgio Martins), revista Manchete Esportiva, revista Veja, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal da Tarde, acervo.oglobo.globo.com, campeoesdofutebol.com.br, corinthians.com.br, site do Milton Neves (por Marcelo Rozenberg e Tufano Silva).