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goleiro Raul Marcel, presidente Delfino Facchina, Raul Marcel Barreto, Torneio Pré-Olímpico de 1968
Batizadas como “Arenas”, uma nova geração de estádios brasileiros oferece acomodações confortáveis e funcionais para torcedores, profissionais de imprensa e todos os que trabalham na realização do grande espetáculo da bola.
Os antigos e compridos bancos de reservas, antes quase sempre localizados atrás das balizas, não existem mais.
Confeccionados em madeira e sustentados por enormes suportes de ferro, os bancos de reservas dos anos dourados do futebol eram desconfortáveis e desprotegidos das condições climáticas.
E Raul Marcel, assim como o personagem interpretado por Tom Hanks no filme “Forrest Gump”, passou boa parte de sua trajetória sentado em toscos bancos de reservas, enquanto montava sua história e corria atrás de seus sonhos.
Nascido em 6 de fevereiro de 1948, o campineiro Raul Marcel Barreto chegou na Sociedade Esportiva Palmeiras para jogar Futebol de Salão em 1963.
Depois de passar por várias categorias, Raul Marcel encontrou o sucesso nos gramados em 1966.
Campeão brasileiro pela seleção paulista juvenil e vice-campeão Sul-Americano pela Seleção Brasileira, Raul Marcel também foi campeão do Torneio Pré-Olímpico de 1968, mesmo ano em que disputou os jogos da Olimpíada no México.
Tudo parecia muito promissor para o ano de 1969, quando o primeiro contrato profissional finalmente saiu da gaveta do presidente Delfino Facchina.
Em seguida, o empréstimo para outra agremiação foi um estágio percebido e necessário.
Para quem sonhava em ser o titular da meta do “Alviverde Imponente”, disputar o campeonato paulista pelo América de São José do Rio Preto era uma grande oportunidade para semear o futuro.
Ainda em 1969, Raul Marcel também jogou pelo Esporte Clube Noroeste de Bauru e no ano seguinte voltou ao Palmeiras.
Mais experiente, o jovem goleiro estava agora preparado para buscar seu lugar ao sol, mesmo que para isso tivesse que disputar o lugar com Emerson Leão.
Depois do vice campeonato paulista de 1971 e da conquista de praticamente “tudo” no ano mágico de 1972, Raul Marcel finalmente foi lembrado.
Considerada até hoje como a “Temporada Perfeita”, o ano de 1972 foi realmente marcante para o Palmeiras: Campeão paulista invicto, campeão brasileiro, campeão do Torneio de Mar Del Plata, campeão do Torneio Governador Laudo Natel e finalmente, a posse da Taça dos Invictos.
Essa bendita oportunidade apareceu em razão das seguidas convocações de Emerson Leão para o selecionado canarinho, que se preparava para os compromissos da Taça Independência em 1972.
Com Leão de volta, restava o costumeiro e inerte lugar no banco de reservas. Ao lado dos companheiros e do técnico Brandão, Raul Marcel vivia com o agasalho fechado, chuteiras desamarradas e luvas dobradas debaixo das pernas.
Mesmo assim era preciso treinar muito. Afinal, oportunidades não costumam avisar quando vão aparecer.
Conforme publicado no Almanaque do Palmeiras, dos autores Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti, Raul Marcel disputou 55 jogos pelo alviverde entre os anos de 1970 e 1974. Foram 22 vitórias, 27 empates, 6 derrotas e 42 gols sofridos.
O ano de 1974 ofereceu novas esperanças no distante território pernambucano. Raul Marcel estava confiante no Santa Cruz, que buscava o hexacampeonato.
Todavia, o clima de confiança foi vencido por dois gols de Lima nas duas partidas decisivas contra o Náutico Capibaribe; respectivamente por 1×0 tanto no Arruda como nos Aflitos.
Acusado de “gaveteiro” e responsabilizado diretamente pelo fracasso diante do Náutico, Raul Marcel aceitou o convite do Windsor Star do Canadá em 1976.
No mesmo ano retornou ao Brasil para defender a Portuguesa Santista até 1978, quando deixou definitivamente os gramados. Em 1980 iniciou sua carreira de treinador na Associação dos Treinadores de Futebol de São Paulo.
Também deixou sua contribuição em diversas Associações Esportivas Amadoras até 1982. Entre 1983 e 1987 trabalhou na Secretaria dos Desportos, Recreação e Turismo da Prefeitura do Município de Osasco (SP).
Longe das atividades esportivas e com 127 quilos, uma diferença de quase 50 quilos do tempo em que jogou futebol, Raul Marcel foi sócio-proprietário de uma empresa de moldes plásticos.
Raul Marcel Barreto faleceu em 30 de novembro de 2011, na cidade de Montes Claros (MG), após sofrer um Aneurisma Cerebral. Alguns registros apontam seu falecimento em 30 de março de 2011.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Armando Filho, Carlos Maranhão, Édson Rossi, Lemyr Martins, Michel Laurence, Narciso James e Sílvio Porto), revista do Esporte, revista Manchete, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal da Tarde, america-sp.com.br, campeoesdofutebol.com.br, gazetaesportiva.net, globoesporte.globo.com, palmeiras.com.br, site do Milton Neves, Almanaque do Palmeiras – Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti.
Pedro Luiz Boscato disse:
Raul Marcel, grande goleiro. Sempre que foi chamado a atuar na meta palmeirense saiu-se muito bem. Lembro, na primeira vez que o vi como titular, foi pela última rodada do Campeonato Paulista de 1972, jogo no Morumbi, Palmeiras e São Paulo. Na rodada anterior, enfrentando o Juventus no Parque Antártica, vitória do Palmeiras por 2×1, gol da vitória assinalado já nos descontos por César cobrando pênalti, minutos após o gol houve um quebra pau entre os jogadores no gramado,, cinco do Juventus expulsos e três do Palmeiras, Leão, Luiz Pereira e César. Oswaldo Brandão, no banco palmeirense, cuspia fogo, não se conformava, dizia que tinha alertado e bem o seu time, para que não entrasse em provocações dos jogadores juventinos, “O pequenino Juventus foi preparado pra isso”, disse Oswaldo Brandão, que disse ainda que tinha ouvido de João Mendonça Falcão e que tinha testemunhas de Repórteres que o Palmeiras iria a Roma mas não veria o Papa, isto é, seguiria invicto no certame mas não seria Campeão, que tudo estava arrumado pro São Paulo ser Tri. Disse ainda Brandão, “Agora na próxima rodada eu enfrento o São Paulo no Morumbi desfalcado de três titulares!!!”. Disse mais coisas ainda e desceu nervoso, esbravejando, para o túnel. No jogo seguinte, frente o São Paulo no Morumbi, Raul Marcel, uma das preocupações da torcida, escalado para o gol, Raul Marcel substituindo Leão, João Carlos substituindo Luiz Pereira e Madurga no lugar de César. Em relação a Madurga, jogador internacional, tarimbado, não se tinha, pode-se dizer, preocupação, a preocupação maior era como sairiam Raul Marcel e João Carlos, entrando numa parada dura, novatos ainda, pode-se dizer, substituindo Leão e Luiz Pereira. Raul Marcel fez uma partida brilhante, fez ótimas intervenções, tanto em bolas atiradas para o gol como em cruzamentos para a área, ganhou e bem ali a confiança da torcida. João Carlos também saiu-se muito bem, substituindo Luiz Pereira, bem auxiliado por Alfredo Mostarda, este vinha numa fase excelente, João Carlos deu plenamente conta do recado, jogo terminou 0x0 e o Palmeiras continuou invicto e na liderança. Eu já tinha visto Raul Marcel jogando pelos aspirantes e fazendo ótimas defesas, defendeu um pênalti, inclusive, num jogo frente o Corinthians, em 1967, pelo Campeonato Paulista, primeiro turno, num sábado, à tarde, no Pacaembu. No principal, entretanto, não havia visto ainda e, nesse jogo pelo encerramento do primeiro turno, 0x0 frente o São Paulo no Morumbi, Raul Marcel ganhou a confiança da torcida palmeirense, saiu-se extraordinariamente bem e sempre que era chamado a substituir Leão não havia mais qualquer preocupação, ele já tinha dado mostras que substituiria e bem. Segundo pessoas que o conheceram, Raul Marcel era também uma excelente pessoa. Ouvi sua entrevista, acho que até a última, não tenho bem certeza se foi a última, num dos programas Domingo Esportivo que o Milton Neves apresenta pela Rádio Bandeirantes. E, pelo seu modo de falar, quem ouviu, logo, com certeza, pode deduzir, tratar-se mesmo de uma excelente pessoa. Faleceu um tempo depois, Deus o tenha.