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– “Passou o lenço no rosto suado e revelou: Tudo o que sei aprendi observando o Nilton Santos jogar”. O depoimento de Geraldino faz parte da entrevista ao repórter Tarlis Batista, um trabalho publicado na Revista do Esporte número 215, edição de 20 de abril de 1963.

Filho de Moisés Antônio Martins e Maria Efigênia do Amparo, Geraldo Antônio Martins, mais conhecido no mundo da bola como “Geraldino”, nasceu no dia 11 de janeiro de 1940, no município de Raposos (MG). 

Trabalhou como alfaiate, antes mesmo de iniciar sua caminhada nos gramados em 1956, nas fileiras do Ideal Futebol Clube, uma agremiação amadora muito popular em sua cidade natal.

Também foi naquele período que surgiu o curioso apelido de “Geraldino”, fruto de uma brincadeira feita por um companheiro nos tempos do Ideal. O apelido colou definitivamente e acompanhou o jogador para sempre!

Aproximadamente um ano depois, o promissor Geraldino assinava seu primeiro compromisso com o Villa Nova Atlético Clube de Nova Lima (MG), um município localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Além de lateral-esquerdo, Geraldino também jogava como centromédio. Crédito: revista do Esporte número 141 – 18 de novembro de 1961.
Formação do Cruzeiro em 1961. Partindo da esquerda; Mussula, Nilsinho, Massinha, Benito, Zé Brás e Geraldino. Agachados: Antoninho, Rossi, Paulo, Nelsinho e Raimundinho. Crédito: revista do Esporte número 138 – 28 de outubro de 1961.

Efetivado como lateral-esquerdo, Geraldino defendeu o Villa Nova até 1961, quando seus direitos foram negociados por 850 mil Cruzeiros com o Esporte Clube Siderúrgica da cidade de Sabará (MG).

Dono de um estilo clássico e eficiente, não demorou para o jovem Geraldino voar mais alto. Assim, no mesmo ano de 1961, o Cruzeiro Esporte Clube (MG) adquiriu seu passe pela quantia de 1 milhão de Cruzeiros.

Pelo Cruzeiro, além de lateral-esquerdo, Geraldino também foi utilizado como centromédio e até como meia-esquerda. Participou do elenco campeão mineiro de 1961 e firmou presença como peça importante do plantel.

De acordo com reportagem publicada na Revista do Esporte número 141, de 18 de novembro de 1961, Geraldino nunca escondeu de ninguém o sonho de brilhar no badalado futebol carioca.

O assunto ganhou força, especialmente depois do forte interesse do Vasco da Gama, que em 1961 ofereceu 2 milhões de Cruzeiros pelo passe de Geraldino. Mas, o negócio não foi para frente em razão de pendências na documentação oficial.

Pelo montante de 1 milhão de Cruzeiros, o Cruzeiro comprou os direitos de Geraldino junto ao Esporte Clube Siderúrgica (MG).  Crédito: revista do Esporte número 141 – 18 de novembro de 1961.
– “Quando comecei no futebol, um colega me chamou de Geraldino. O apelido pegou e até hoje me chamam assim”. Crédito: revista do Esporte número 215 – 20 de abril de 1963.

Em grande fase, seu auge no cenário mineiro aconteceu na temporada de 1963. Foi campeão brasileiro de seleções estaduais pela Seleção Mineira, o que foi determinante em sua convocação para disputar o Sul-americano da Bolívia, também em 1963.

No findar do mês de março de 1963, representantes do Santos Futebol Clube (SP) estabeleceram os primeiros contatos com os dirigentes do Cruzeiro pelo futebol vistoso do lateral-esquerdo Geraldino.

Negociação difícil, o presidente do Cruzeiro, Felício Brandi, logo tratou de fixar o preço do jogador em 30 milhões de Cruzeiros, um valor para “não vender mesmo”, segundo comentários da imprensa esportiva da época.

Finalmente no mês de abril, o clube praiano obteve êxito desembolsando o montante de 25 milhões de Cruzeiros, com 1 milhão e 800 mil de Luvas para o jogador, que firmou contrato para receber 110 mil mensais. (Fonte: Revista do Esporte número 239 – 5 de outubro de 1963).

Conhecido pelos companheiros de clube como “Padre”, Geraldino permaneceu inicialmente na suplência de Dalmo Gaspar. Depois, o mineiro foi aos poucos encontrando seu lugar no time de estrelas do Santos.

Pouco depois de chegar na Vila Belmiro, Geraldino foi dispensado para finalmente desfrutar de sua lua de mel com dona Marízia. Crédito: revista do Esporte número 239 – 5 de outubro de 1963.
Partindo da esquerda; Lima, Geraldino e Calvet. Crédito: revista do Esporte número 239 – 5 de outubro de 1963.

Contudo, ainda era notório seu desejo de jogar no futebol carioca, um sonho um tanto questionável, principalmente depois de revelar publicamente que não pretendia ficar por muito tempo em atividade no mundo da bola:

– “No máximo em três anos pretendo deixar definitivamente de viver do futebol. É impossível ser jogador e bom chefe de família ao mesmo tempo”. (Fonte: Revista do Esporte número 285 – 22 de agosto de 1964).

Ainda pelo escrete canarinho, Geraldino fez parte do elenco na disputa da Taça das Nações em 1964, como também participou em novembro de 1965 da vitória diante da Hungria por 5×3, no Pacaembu.  

Jogando pelo Santos, Geraldino disputou um total de 212 partidas, com 2 gols marcados. Conquistou o Mundial Interclubes e a Taça Libertadores de 1963, Taça Brasil de 1963, 1964 e 1965, campeonato paulista de 1964, 1965, 1967 e 1968 e o Torneio Rio-São Paulo de 1964 e 1966.

Depois da chegada de Rildo da Costa Menezes, contratado junto ao Botafogo de Futebol e Regatas (RJ), Geraldino perdeu rapidamente o seu espaço entre os titulares do Santos.

– “No máximo em três anos pretendo deixar o futebol. É impossível ser jogador e chefe de família ao mesmo tempo”. Crédito: revista do Esporte número 285 – 22 de agosto de 1964.
– “Trabalho duro para ser lembrado no grupo que disputará o mundial de 1966”. Crédito: revista do Esporte número 285 – 22 de agosto de 1964.

Continuou na Vila Belmiro até o início do segundo semestre 1968, quando seus direitos foram negociados com a Associação Portuguesa de Desportos (SP), sua última equipe como jogador profissional até 1970.

Abaixo, uma das participações do lateral-esquerdo Geraldino jogando pela Portuguesa de Desportos. O duelo contra o Santos foi válido pelo segundo turno do campeonato paulista de 1972, no Parque Antártica:

22 de agosto de 1970 – Campeonato paulista – Segundo turno – Portuguesa 1×0 Santos – Estádio Parque Antártica (SP) – Árbitro: José Faville Neto – Gol: Luís Américo aos 38’ do segundo tempo.

Santos: Joel Mendes; Carlos Alberto, Ramos Delgado, Joel Camargo e Rildo; Leo Oliveira e Lima (Negreiros); Manoel Maria (David), Douglas, Pelé e Abel. Técnico: Antoninho. Portuguesa de Desportos: Orlando; Brando, Marinho, Guaraci e Geraldino; Luís Américo e Lorico; Ratinho, Leivinha, Tatá (Madureira) e Rodrigues (Piau).

Longe do futebol profissional, Geraldino continuou seu aprendizado espiritual. Jogava búzios e Tarô para atender e orientar pessoas. Faleceu aos 78 anos de idade, no dia 30 de março de 2018, na cidade de Santos (SP).

Geraldino e Pepe no gramado do Estádio do Maracanã. Crédito: revista do Esporte número 328 – 19 de junho de 1965.
No esquadrão da Vila Belmiro, Geraldino conquistou muitos títulos importantes. Crédito: revista do Esporte número 328 – 19 de junho de 1965.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Michel Laurence), revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, revista Bola Alvinegra, revista do Esporte (por Denis Menezes, Jurandir Costa e Tarlis Batista), revista Futebol e Outros Esportes, revista Manchete Esportiva, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal dos Sports, acervosantosfc.com (por Gabriel Santana e Ronaldo Silva), ASSOPHIS – Associação dos Pesquisadores e Historiadores do Santos F.C, campeoesdofutebol.com.br, santosfc.com.br (por Guilherme Guarche), site do Milton Neves.