Enéas Camargo nasceu em São Paulo (SP), no dia 18 de março de 1954. O nome foi escolhido pela mãe, uma homenagem ao paralítico que foi curado por São Pedro.
Como muitos meninos da década de 60, Enéas cresceu acompanhando o poderoso Santos de Pelé, enquanto jogava Futebol de Salão na Associação Portuguesa de Desportos.
E sobre Pelé o garoto colecionava tudo o que conseguia: Recortes de jornais e revistas, figurinhas, posters…
A mãe dona Enedina e o pai Arnaldo, bem que tentavam moderar o filho naquela idolatria pelas coisas do “Rei do Futebol”.
Mais tarde, aos quatorze anos de idade, Enéas dividia seu tempo entre os estudos e o trabalho como Office Boy na empresa Santa Paula Contábil.
No esporte da “bola pesada”, pois naquele tempo a bola de Futebol de Salão era pesada mesmo, Enéas foi aprimorando seus fundamentos!
Habilidade e toques refinados fizeram com que o ex-jogador Nena, na época o responsável pelas categorias amadoras da Portuguesa, ficasse encantado com seu futebol.
Com o passar do tempo, o próprio Nena indicou Enéas ao técnico Cilinho. Alguns meses depois foi aproveitado no elenco profissional e assinou seu primeiro contrato em 1972.
Futebol calmo, frio e calculista, Enéas impressionava pelas fintas curtas em um característico “zigue zague” herdado do Futebol de Salão.
Como meia avançado ou ainda centroavante, suas passadas pareciam projetar o corpo em câmera lenta. Logo, comparações inevitáveis com Pelé eram o assunto preferido nos quiosques e bares do clube.
Depois da chegada do técnico Otto Glória em 1973, Enéas foi fixado na frente, enquanto João Roberto Basílio era utilizado na armação e também na marcação.
Aquele meio campo, que também contava com o volante Badeco, foi uma das grandes sensações daquela temporada.
Depois da conquista da Taça São Paulo com uma vitória arrasadora por 3×0 contra o forte Palmeiras, a Portuguesa caminhou firmemente rumo ao título paulista.
O espetacular triunfo no estadual de 1973, dividido com o Santos em razão do erro histórico do árbitro Armando Marques, colaborou para que Enéas fosse reconhecido com o prêmio da “Chuteira de Ouro” (Maior revelação do futebol brasileiro).
Começaram então os constantes boatos e especulações sobre sua negociação com outros clubes. E não faltavam candidatos para uma boa oferta pelo passe do jogador.
Todavia, os dirigentes da Portuguesa sempre dificultavam qualquer tipo de conversa envolvendo uma suposta saída de Enéas do Canindé.
Em março de 1974, Enéas jogou sua primeira partida pela Seleção Brasileira no empate em 1×1 contra o México. Na época, seu nome disparou entre os mais cotados para disputar a Copa do Mundo.
Mas na convocação final anunciada pelo técnico Mário Jorge Lobo Zagallo, Enéas não foi relacionado no grupo que embarcou para os gramados da Alemanha.
Enéas e a sua Portuguesa novamente decidiram o título paulista em 1975. Dessa vez, o São Paulo do experiente e catimbeiro goleiro Waldir Peres ficou com o título.
Já naquela época, eram comuns os comentários sobre o “sono” de Enéas. Para alguns, Enéas era sempre o responsável pelas derrotas, como também pelas grandes vitórias quando estava acordado!
Na Taça do Atlântico em 1976, Enéas foi convocado para vestir o uniforme canarinho. As sondagens para contratar o craque continuavam. E nada da Portuguesa liberar o jogador.
Em entrevista especial publicada na revista Placar em 3 de agosto de 1973, Enéas justificou sua visão particular da tão falada lentidão ou sonolência:
– Eu não sou lento, pelo contrário! Tenho uma boa arrancada e venço muita gente no pique. É que sou alto e meio curvado, o que deixa uma falsa impressão de lentidão.
E assim Enéas foi levando a vida até 1980, quando finalmente foi negociado com o Bologna Football Club da Itália. Chegava ao fim seu ciclo no Canindé, onde esteve em campo em 376 partidas e marcou 179 gols.
Na Itália, Enéas enfrentou dificuldades para se adaptar. Frio rigoroso, neve, treinamentos pesados e um sistema de marcação forte e truculento.
Em julho de 1981, por uma quantia considerável de 50 milhões de cruzeiros, Enéas voltou ao futebol paulista para defender a Sociedade Esportiva Palmeiras.
No time do Parque Antártica Enéas realizou grandes partidas. No entanto, constantes contusões prejudicaram seu desempenho.
A cobrança, bem mais pesada que nos tempos da Lusa, eram o reflexo imediato da falta de um título paulista, que não acontecia desde 1976. Assim, em 1984, Enéas foi emprestado ao Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba.
Jogando pelo Palmeiras, no período compreendido entre 1981 e 1983, Enéas realizou 93 partidas. Foram 38 vitórias, 35 empates, 20 derrotas e 28 gols marcados.
Depois da experiência em Piracicaba, o jogador teve passagens apenas discretas pelas equipes do Ponta Grossa (PR), Juventude (RS), Desportiva (ES) e a Central Brasileira de Cotia (SP), seu último time.
Em 22 de agosto de 1988, o craque sofreu um gravíssimo acidente automobilístico na Avenida Cruzeiro do Sul, no bairro de Santana, quando seu Monza bateu na traseira de uma carreta Scania.
Enéas sofreu traumatismo craniano e ferimentos em várias partes do corpo. O jogador ficou na UTI durante 15 dias obtendo ligeira melhora, mas não resistiu e faleceu no dia 27 de dezembro de 1988.
O mundo do futebol estava de luto. Nos quiosques e bares do Canindé seu nome voltou com força nas rodinhas de torcedores, que saudosos do futebol de Enéas lamentavam profundamente o acontecimento.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Carlos Maranhão, Dagomir Marquezi, Fábio Sormani, Lenivaldo Aragão e Michel Laurence), revista Manchete Esportiva, Jornal Última Hora, gazetaesportiva.net, lancenet.com.br, esportes.r7.com, globoesporte.globo.com, esporte.ig.com.br, segundobg.com.br, site do Milton Neves, wanderleynogueira.com.br, horadopovo.com.br, (matéria de Luciano U. Nassar), Il Giornalino (Itália), albumefigurinhas.no.comunidades.net.