Tags
Atibaia (SP), campeão carioca de 1956, Onofre Anacleto de Souza, Sabará do Vasco da Gama, Torneio de Paris de 1957
Nos arredores da cidade de Campinas, o sol forte castigava o campinho onde a garotada jogava uma disputada pelada. Entre muitos, um menino esperto se destacava dos outros com dribles ousados.
A pele do referido menino brilhava tanto que um pequeno grupo de torcedores o incentivava gritando: “Vai com tudo jabuticaba Sabará”, uma referência ao fruto abundante e facilmente encontrado nas redondezas.
O apelido pegou rapidamente e poucas pessoas o conheciam pelo nome. Filho de José de Souza e Benedita Balbina de Souza, Onofre Anacleto de Souza nasceu na cidade de Atibaia (SP), em 18 de junho de 1931.
Conforme reportagem publicada pelo Jornal Mundo Esportivo em 13 de outubro de 1953, Sabará trabalhava como servente de pedreiro ao lado do amigo Clóvis Lemos de Paula, que mais tarde fez muito sucesso jogando pelo Fluminense.
Inseparáveis, Clóvis e Sabará eram funcionários da empresa “Laloni & Bastos”, até serem despedidos pelo Mestre de Obras. O motivo da dispensa foi o barulho provocado pelas batucadas em pleno horário de trabalho.
Sabará perdeu o emprego, mas ganhou notável destaque no futebol de várzea da região, principalmente quando defendeu uma agremiação chamada Souza Futebol Clube.
Em 1947 seu futebol foi descoberto por olheiros e foi recomendado aos quadros amadores da Associação Atlética Ponte Preta (SP), equipe onde também assinou seu primeiro contrato para receber 800 cruzeiros mensais.
Nas temporadas de 1950 e 1951, o jovem Sabará foi muito bem atuando pelas duas extremas ofensivas da “Macaca” campineira, fato que provocou o pronto interesse dos dirigentes do Club de Regatas Vasco da Gama (RJ) em 1952.
Por sua grande dedicação, oportunismo e facilidade para servir os companheiros, Sabará logo caiu nas graças dos torcedores.
Tudo corria bem, tanto que o deslumbrado Sabará alcançou uma popularidade raramente lograda por um debutante!
O Vasco da Gama contava agora em suas fileiras com o alegre e arisco Sabará, que não tomou conhecimento dos adversidades e participou com brilho do elenco que conquistou o certame carioca de 1952.
Mas, entre os anos de 1953 e 1955, o Flamengo dominou o cenário carioca e o Vasco da Gama já não era mais o temido “Expresso da Vitória”.
Quando mais um triunfo do time da Gávea parecia certo, a temporada de 1956 marcou mais um título de Sabará com a camisa do time de São Januário.
Com o prestígio novamente em alta, em 1957 o time da “Colina” excursionou pela Europa e faturou o Torneio de Paris e o Torneio Teresa Herrera.
Entre tantos resultados expressivos, em 30 de junho o Vasco castigou o Benfica em Lisboa por 5×2. Os gols foram marcados por Sabará, Pinga, Livinho e Wálter (2); enquanto Águas (2) descontou para o quadro português.
Mesmo não sendo capaz de fazer frente ao futebol de astros como Garrincha e Julinho Botelho, Sabará foi convocado para servir o escrete. E o atacante pagou caro por sua simplicidade ao aparecer de calção e chinelos no Salão de Chá do tradicional Lane Park Hotel, em Londres.
Irritado, o técnico Flávio Costa recomendou aos membros da Comissão Técnica um cuidado maior na preparação dos jogadores antes de qualquer compromisso em gramados europeus.
Ao todo, Sabará defendeu o escrete canarinho em 10 partidas; com 7 vitórias, 1 empate, 2 derrotas e 1 gol marcado. Os números fazem parte do livro “Seleção Brasileira 90 anos”, dos autores Antônio Carlos Napoleão e Roberto Assaf.
Contudo, não era apenas com a camisa amarelinha que Sabará parecia viver no mundo da lua. Certa vez, o ponteiro quase foi expulso do gramado ao ignorar o árbitro Armando Marques, que insistentemente o solicitava aos berros: “Ei seu Onofre venha cá agora”.
Vai lá que é você mesmo, assim disseram os companheiros ao sempre desatento Sabará. Mas Sabará não era o único! Poucos eram os precavidos com esse costume incomum de Armando Marques em chamar os jogadores pelo nome!
O ponteiro viveu sua fase mais produtiva em 1958, ao conquistar o Torneio Rio-São Paulo e o “Supercampeonato Carioca”. Mais tarde, após uma reformulação no elenco em 1964, Sabará foi dispensado do Vasco e acertou com a Associação Atlética Portuguesa do Rio de Janeiro.
Em 15 de agosto de 1964, Sabará ofereceu um depoimento emocionado nas páginas da revista do Esporte: “O Vasco não precisava mais de mim! Eu também não queria ser um peso morto no clube. É normal que a idade cobre seu preço”.
Magoado pela forma como deixou São Januário, o ponteiro-direito aguardava ansioso por um confronto contra seu ex-clube. O esperado duelo aconteceu no primeiro turno do campeonato carioca de 1964 e a Portuguesa venceu por 2×1.
Em 1965 passou rapidamente pelo Desportivo Itália da Venezuela, sua última equipe. Depois, Sabará trabalhou como representante comercial e também com uma lanchonete em sociedade com o jogador Índio do Flamengo.
Onofre Anacleto de Souza – que sempre adotou o apelido mais do que o próprio nome – faleceu no Rio de Janeiro em 8 de outubro de 1997. (*) Algumas fontes apontam a data de seu falecimento em 6 de agosto de 1991.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Carlos Maranhão e Lemyr Martins), revista do Esporte (por Gerson Monteiro e Jurandir Costa), revista Esporte Ilustrado (por Alberto Ferreira e Manuel Etiel), revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Cruzeiro, Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, Jornal Mundo Esportivo, acervo.oglobo.globo.com, campeoesdofutebol.com.br, site do Milton Neves (por José Eustáquio e Rogério Micheletti), vasco.com.br, Livro: Seleção Brasileira 90 anos – Antônio Carlos Napoleão e Roberto Assaf.