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Dá para imaginar a cena! Em cima de um velho caixote e acompanhado por uma modesta banda de música, um senhor de cartola e fraque surrado começa uma propaganda entusiasta! Com um megafone na mão, seu breve discurso invade o movimentado Viaduto do Chá:

– “Respeitável público… Próximo domingo, no monumental picadeiro do Estádio Municipal do Pacaembu, mais um duelo imperdível entre o malabarista Luizinho Trochillo e o fidalgo Luiz Villa”.

Que o atrevido Luizinho Trujillo tinha uma enorme facilidade para aplicar dribles desmoralizantes em seus marcadores não é nenhuma novidade, principalmente para aqueles que conhecem a história do “Derby” paulistano.

E Luizinho encontrava uma motivação especial quando topava pela frente com o argentino Luiz Villa, um valoroso meio-campista que jogou pelo Palmeiras na primeira metade da década de 1950.

Embora Luiz Villa também tenha levado vantagem contra o “Pequeno Polegar”, os jornais da época caprichavam nos superlativos e comentários, um tanto sensacionalistas, quando o atacante alvinegro se dava bem frente ao argentino!

Como em um espetáculo circense, os jornais aproveitavam para promover o duelo individual entre Luiz Villa e Luizinho Trochillo. Crédito: Jornal Mundo Esportivo número 417 – Sexta Feira, 16 de janeiro de 1953.

Um Palmeiras muito competitivo na temporada de 1950. Em pé: Turcão, Oberdan Cattani, Sarno, Luiz Villa, Salvador e Waldemar Fiume. Agachados: Nestor, Rodrigues, Montagnolli, Jair Rosa Pinto e Brandãozinho. Crédito: revista Esporte Ilustrado.

Em depoimento ao programa “Grandes Momentos do Esporte” da TV Cultura, o próprio Luizinho colocou um ponto final na lenda de que teria sentado na bola depois de uma finta em Luiz Villa:

– “Eu sempre tive muita habilidade para passar a bola por debaixo das pernas de qualquer um. Em algumas partidas fiz isso contra o Luiz Villa. Mesmo assim ele nunca apelou. Era insistente o danado”.

– “Sentar na bola eu não sentei, mas judiei muito dele! Era um gentleman, pois se fosse outro teria me quebrado”.

Luiz Villa nasceu na cidade de La Plata, na Argentina, em 19 de maio de 1921. Na juventude jogava como meia-esquerda, até ser bem recomendado ao Club Atlético Talleres da cidade de Córdoba.

E foi jogando pelo Talleres que Luiz Villa chegou ao profissionalismo. Recuado para jogar como centro-médio, também atuava muito bem como zagueiro!

Luiz Villa e Salvador, um esteio para a retaguarda do alviverde! Crédito: Jornal Mundo Esportivo número 212 – Sexta Feira, 15 de setembro de 1950.

Depois de boas temporadas defendendo o Talleres, Luiz Villa foi transferido para o Club Estudiantes de La Plata, período em que também seu nome foi lembrado para servir o selecionado argentino.

Aos 29 anos de idade, Luiz Villa estava no auge de sua forma física e técnica. Foi quando um desentendimento com o treinador o colocou no banco de reservas.

O tempo foi passando e Luiz Villa percebeu que não voltaria mais ao time. Foi então que o forte interesse do Palmeiras chegou aos dirigentes do Estudiantes. Preocupado, o jogador lembrou da experiência positiva de Sastre no Brasil.

Quando o negócio com o Palmeiras foi confirmado, Luiz Villa pensou em deixar sua esposa Marta em La Plata. Mas, Marta não aceitou e embarcou ao lado do marido!

Luiz Villa assinou com o Palmeiras em agosto de 1950. Sua primeira participação aconteceu contra o Guarani no dia 17 de setembro de 1950, em Campinas, com um fácil triunfo do alviverde da capital pelo placar de 4×0.

Experiência e serenidade. O argentino Luiz Villa sempre foi determinante em partidas decisivas! Crédito: palmeiras.com.br.

O Palmeiras campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1951. Em pé: Salvador, Oswaldo, Dema, Oberdan Cattani, Luiz Villa e Waldemar Fiume. Agachados: Lima, Aquiles, Liminha, Jair Rosa Pinto e Rodrigues. Crédito: revista Vida Esportiva Paulista – Maio de 1951.

Dono de um futebol clássico e sobretudo disciplinado, o cavalheiro Luiz Villa não usava de força física para desarmar seus oponentes!

Enquanto jogou pelo Palmeiras, Luiz Villa formou boas linhas defensivas ao lado de grandes companheiros; como Dema, Fabio Crippa, Francisco Sarno, Juvenal Amarijo, Manoelito, Oberdan Cattani, Salvador, Turcão e Waldemar Fiume.

Entre tantos momentos que merecem registro, Luiz Villa esteve em campo no famoso “Jogo da Lama”, confronto que decidiu o campeonato paulista de 1950 em favor do Palmeiras:

28 de janeiro de 1951 (DOM) – Campeonato paulista de 1950 – São Paulo 1×1 Palmeiras – Estádio do Pacaembu – Árbitro: Mr. Alwin Bradley (ING) – Gols: Teixeirinha aos 4’ do primeiro tempo para o São Paulo; Aquiles aos 15’ do segundo tempo para o Palmeiras.

São Paulo: Mário; Savério, Mauro, Bauer, Rui e Noronha; Dido, Remo, Friaça, Leopoldo e Teixeirinha – Técnico: Vicente Feola. Palmeiras: Oberdan Cattani; Turcão, Palante, Waldemar Fiume, Luiz Villa e Sarno; Lima, Canhotinho, Aquiles, Jair Rosa Pinto e Rodrigues – Técnico: Ventura Cambon. 

Ferido no supercílio, o destemido Luiz Villa recebe atendimento médico no vestiário do Palmeiras! Crédito: revista O Globo Sportivo número 651 – 4 de agosto de 1951.

Depois de uma vitória por 2×1 em 12/7/1951 e um empate por 0x0 no dia 15/7/1951 diante do Vasco da Gama, o Palmeiras avançou na Copa Rio de 1951. No lance, Luiz Villa aparece em destaque durante mais uma perigosa investida do ataque cruzmaltino! Crédito: revista Esporte Ilustrado número 693 – 19 de julho de 1951.

O argentino também é lembrado por sua importante participação no período de ouro marcado pela conquista das “Cinco Coroas”:

– 1ª Coroa: Taça Cidade de São Paulo de 1950; 2ª Coroa: Campeonato Paulista de 1950; 3ª Coroa: Torneio Rio-São Paulo de 1951; 4ª Coroa: Taça Cidade de São Paulo de 1951; 5ª Coroa: Copa Rio de 1951.

Além das “Cinco Coroas”, Luiz Villa também foi determinante no desempenho do Palmeiras em torneios internacionais. Faturou a Taça Peñarol em 1951 e o Troféu Cidade do México em 1952.

Luiz Villa permaneceu nas fileiras do Palmeiras até abril de 1953. Ao todo foram 127 compromissos disputados; com 78 vitórias, 22 empates, 27 derrotas e 3 gols marcados. Os números foram publicados pelo site “palmeiras.com.br”.

Não foram encontrados apontamentos sobre a continuidade de sua carreira, ou mesmo sobre sua vida pessoal depois do futebol.

Luiz Villa e Alfredo antes de mais um “Choque-Rei” no Pacaembu. Crédito: Jornal Mundo Esportivo número 314 – Terça Feira, 15 de Janeiro de 1952.

Luiz Villa e Dema, grandes valores da forte meia-cancha do Palmeiras! Crédito: Jornal O Esporte – 1952.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar, revista do Esporte, revista do Palmeiras, revista El Gráfico, revista Esporte Ilustrado (por Alberto Ferreira, Leunam Leite, Luís Mendes e Véritas Junior), revista Grandes Clubes Brasileiros, revista O Globo Sportivo, revista Vida Esportiva Paulista, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal dos Sports, Jornal Mundo Esportivo, Jornal O Esporte, campeoesdofutebol.com.br, gazetaesportiva.net, jogadoresdopalmeiras.blogspot.com.br, site do Milton Neves, palmeiras.com.br, albumefigurinhas.no.comunidades.net.