A cabeçada saiu fulminante e com destino certo! Foi o suficiente para confirmar o primeiro tricampeonato carioca do Flamengo! Agustín Valido nasceu em 31 de janeiro de 1914 em Buenos Aires, na Argentina.
Sua caminhada foi iniciada nas fileiras do Club Atlético Boca Juniors em meados de 1934, temporada em que fez parte do elenco que chegou ao título nacional ainda na fase do amadorismo.
No findar de 1934, Valido foi transferido para o Club Atlético Lanús, equipe onde permaneceu até 1937, mesmo ano em que também defendeu o Combinado “Beccar-Varella” diante do Flamengo no Rio de Janeiro.
Conforme publicado pela revista Grandes Clubes Brasileiros, o bom futebol de Valido logo despertou o forte interesse dos representantes do time da Gávea. Começou assim a rica trajetória do atacante argentino pelo cenário carioca!
Ponteiro-direito de origem, Valido também era aproveitado pela meia-direita. Sua participação foi especialmente importante na conquista do título carioca nas edições de 1939, 1942 e 1943.
Nos últimos meses de 1943, Valido decidiu deixar o futebol para cuidar dos negócios de sua Tipografia. Contudo, o argentino sempre fazia questão de participar de algumas “peladas” ao lado de amigos e funcionários da empresa.
Assim, em um amistoso disputado na Gávea, a grande atuação de Valido encheu os olhos do técnico Flávio Costa, que prontamente disparou um convite para o argentino voltar ao Flamengo na reta decisiva do certame carioca.
Na ocasião, o treinador do rubro-negro tinha vários jogadores sem condições de jogo, o que certamente foi determinante para bancar novamente o nome de Valido junto aos diretores do clube.
Depois de uma semana de treinamento cansativo, o esforçado Valido ofereceu aos torcedores uma apresentação de “gala” na estupenda vitória sobre o Fluminense por 6×1 no Estádio da Gávea.
Todavia, o efeito da dura preparação para entrar em forma rapidamente cobrou um alto preço! Além das quase insuportáveis dores musculares, Valido foi subitamente acometido por uma forte gripe!
Mergulhado em estado febril, o nome de Valido era dúvida para o jogo decisivo contra o Vasco da Gama. Mas a total obstinação do técnico Flávio Costa foi o suficiente para Valido não abrir mão de jogar a derradeira cartada final.
O duelo contra o Vasco da Gama foi um páreo bastante equilibrado! E Valido, praticamente esquecido na extrema-direita, não parecia oferecer muito perigo para a firme retaguarda “cruzmaltina”.
No crepúsculo do jogo, o arisco ponteiro-esquerdo Vevé levantou uma bola na medida para a grande área. Combalido, Valido ainda encontrou forças para desferir uma cabeçada mortal para o fundo das redes do Vasco.
O lance gerou muita indignação dos jogadores do Vasco, que rapidamente foram protestar junto ao árbitro Guilherme Gomes. Para os “cruzmaltinos”, Valido teria deslocado intencionalmente o zagueiro Rafagnelli antes de fazer o gol.
(*) Algumas fontes apontam que o suposto empurrão de Valido teria na verdade acontecido sobre o lateral Argemiro.
A temperatura também esquentou nas arquibancadas e o jogo ficou paralisado por alguns minutos. Enquanto isso, os repórteres trabalhavam muito para tentar registrar o “bate-boca” entre jogadores e arbitragem!
O certo é que o árbitro manteve sua decisão em validar o gol, um tento que valeu o tricampeonato carioca ao Flamengo! Abaixo, os registros do discutido confronto que decidiu o certame carioca de 1944:
29 de outubro de 1944 – Campeonato carioca segundo turno – Flamengo 1×0 Vasco da Gama – Estádio da Gávea – Árbitro: Guilherme Gomes – Gol: Valido aos 42 do segundo tempo.
Flamengo: Jurandyr; Newton e Quirino; Biguá, Bria e Jayme; Valido, Zizinho, Sylvio Pirillo, Tião e Vevé. Técnico: Flávio Costa. Vasco da Gama: Barchetta; Rubens e Rafagnelli; Alfredo, Berascochéa e Argemiro; Djalma, Lelé, Isaías, Ademir de Menezes e Chico. Técnico: Ondino Viera.
Com o dever cumprido, o aliviado Valido finalmente deixou o apaixonante palco do futebol. Empresário próspero, o argentino continuou acompanhando de perto o seu querido Flamengo!
Em 1962, como Diretor de Futebol do Flamengo, Valido ofereceu aos leitores um rico depoimento que foi divulgado nas páginas da revista do Esporte:
– “Joguei todo o ano de 1942 e no final da temporada seguinte deixei o futebol. Minha Tipografia me oferecia um bom rendimento e assim decidi parar com a bola”. (Tipografia Rio-Platense, um negócio aberto com o companheiro Carlos Volante).
– “Em outubro de 1944 aceitei um convite do técnico Flávio Costa e voltei ao mesmo Flamengo para jogar os compromissos contra o Fluminense e o Vasco”.
– “Ouvi muita gente afirmar que estou ganhando rios de dinheiro no papel de Diretor de Futebol. Isso não é verdade! Se fosse só pelo dinheiro eu nunca teria aceitado o convite do presidente Fadel”.
Figura marcante da história do Flamengo, Agustín Valido faleceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 23 de fevereiro de 1998.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Ignácio Ferreira, Marcelo Rezende, Maria Helena Araújo e Rodolpho Machado), revista do Esporte, revista Esporte Ilustrado (por Leunam Leite, Levy Kleiman e Luís Mendes), revista Grandes Clubes Brasileiros, revista O Cruzeiro, Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, Jornal O Globo, acervo.oglobo.globo.com, campeoesdofutebol.com.br, flamengo.com.br, globoesporte.globo.com (por Fred Gomes).
Zaki Ivan Taam disse:
O argentino Agustin Valido, foi um dos principais artífices da conquista do tri-campeonato do flamengo em 1944. Já havia abandonado o futebol para se dedicar aos seus negócios mas, resolveu aceitar um convite do técnico Flavio Costa e retornou aos gramados. Na decisão contra o vasco da gama, em 1944, na gávea, aproveitou um cruzamento de Vevé, para marcar, no fim do jogo, o gol do tri-campeonato. Apesar das reclamações dos cruzmaltinos, o gol foi confirmado.
Pingback: O gol mais discutido da história do futebol carioca - Corneta do RW