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campeão carioca de 1945, Estádio Aniceto Moscoso, Isaías Benedito da Costa, os “Três Patetas” do Madureira
O dia amanheceu quente no bairro da Tijuca! Em Campos Sales, um negro alto calçando tamancos suplicava por uma chance para treinar entre os craques do alvirrubro.
Todavia, isso não foi o bastante para despertar qualquer atenção dos homens do América! Cabisbaixo, o tal rapazola de tamancos apareceu depois nas fileiras do Madureira, equipe que projetou seu nome no disputado cenário carioca!
Conforme reportagem publicada pela revista Esporte Ilustrado em sua edição de número 472, Isaías Benedito da Costa nasceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 27 de outubro de 1921.
Atacante forte e destemido, o espigado Isaías cresceu rapidamente nas fileiras do “Tricolor Suburbano”. O primeiro contrato profissional foi assinado em 9 de abril de 1940, o que representou um certo alívio nas contas da família Costa.
Com deslocamentos constantes, tanto pela esquerda como pela direita, Isaías era aproveitado em várias posições da linha de ataque do Madureira, até encontrar o seu merecido lugar jogando como centroavante.
Ao lado de Lelé e do “mirradinho” Jair Rosa Pinto, Isaías conquistou fama no trio infernal que ficou conhecido como os “Três Patetas” do Madureira, que no início da década de 1940 tirou o sono de muita gente!
Entre tantas jornadas marcantes vestindo a bonita camisa do Madureira, Isaías participou da partida inaugural do Estádio Aniceto Moscoso, também conhecido como “Conselheiro Galvão”.
A nova praça esportiva ainda cheirava tinta fresca na tarde em que abrigou mais de dez mil pagantes, sem contar com uma verdadeira multidão espremida pelos arredores da Rua Conselheiro Galvão.
Nas páginas da revista Esporte Ilustrado de 26 de junho de 1941, os detalhes do esperado confronto entre Madureira e Fluminense foram apresentados com uma esmerada riqueza de detalhes.
Naquela tarde envolvida em alegria e festa, o Madureira saiu perdendo e acabou superado pelo quadro das Laranjeiras na primeira etapa, com um gol marcado pelo atacante Rongo.
No segundo período da contenda, o time suburbano, que na oportunidade usava camisas brancas, logo pulou na frente do marcador e aplicou uma sensacional virada por 4×2. Abaixo, os registros da referida partida:
15 de junho de 1941 – Campeonato carioca – Primeiro turno – Madureira 4×2 Fluminense – Estádio Conselheiro Galvão – Árbitro: José Ferreira Lemos – Gols: Isaías (2), Oséas e Jorginho para o Madureira; Rongo (2) para o Fluminense.
Madureira: Alfredo; Benedito e Ápio; Otacílio, Jair II e Alcides; Jorginho, Lelé, Isaías, Jair Rosa Pinto e Oséas. Fluminense: Maia; Moisés e Machado; Bioró, Spinelli e Afonsinho; Pedro Amorim, Pedro Nunes, Rongo, Tim e Hércules.
Mas esse memorável triunfo do Madureira sobre o Fluminense não foi o único na espetacular caminhada dos “Três Patetas”, enquanto defenderam o simpático Tricolor Suburbano.
No campeonato carioca de 1942, o valente Madureira ofereceu aos torcedores outra apresentação de “gala”, ao golear o badalado Vasco da Gama com relativa facilidade pela contagem de 5×1, com quatro gols marcados por Isaías.
Em outubro de 1942, o Fluminense engordou o rol dos interessados em adquirir os direitos de Isaías, Lelé e Jair Rosa Pinto. Contudo, o Vasco da Gama foi mais rápido e desembolsou uma pequena fortuna para contar com os “Três Patetas”.
Se 1943 não foi o esperado para Isaías e tampouco para o Vasco, a temporada de 1944 começou muito melhor, com a conquista do Torneio Início, do Torneio Relâmpago e do Torneio Municipal.
Ainda no mesmo ano de 1944, os “Três Patetas” foram lembrados para servir o escrete nacional e participaram de duas vitórias diante do Uruguai, por 6×1 em São Januário e depois por 4×0 no Pacaembu.
E a paciência dos dirigentes do Vasco foi premiada em 1945, quando o quadro de São Januário conquistou o título de campeão carioca invicto, sem esquecer do bicampeonato no Torneio Início e no Torneio Municipal.
No ano seguinte, Isaías defendeu pela última vez o selecionado carioca e faturou novamente o Torneio Municipal e o Torneio Relâmpago. Tudo corria bem, até que um malfadado diagnóstico de tuberculose pegou todo mundo de surpresa!
Afastado do elenco “cruzmaltino” para receber os devidos cuidados da medicina, o sempre agitado Isaías parecia não compreender perfeitamente a gravidade da moléstia que o assolava aos poucos.
Mesmo com toda a assistência oferecida pelo presidente do Vasco Cyro Aranha e pelos médicos Milton Menezes e Amílcar Giffoni, Isaías costumeiramente burlava o tratamento para visitar a noiva em Madureira.
A enfermidade progredia, galopante e silenciosa, ainda que nos prontuários os médicos apontassem uma ligeira melhora no quadro clínico do jovem atacante do Vasco da Gama!
No dia 5 de abril de 1947, a notícia do falecimento de Isaías abalou o ambiente do “Gigante da Colina”. O grupo vascaíno estava em preparação para enfrentar o Fluminense no dia seguinte, na inauguração do estádio do Olaria, na Rua Bariri.
O futebol carioca perdia assim uma de suas maiores promessas! Isaías contava com apenas vinte e cinco anos de idade e era esperado por seus companheiros para reforçar o time no Torneio Municipal de 1947.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Carlos Maranhão e João Máximo), revista Esporte Ilustrado (por Alberto Ferreira, Edgard Proença, Ferraz Neto, Leunam Leite, Levy Kleiman, Luís Mendes, Mário Gabriel, Mauro Pinheiro e Véritas Junior), revista O Cruzeiro, revista O Globo Sportivo, Jornal A Noite, Jornal dos Sports, Jornal Mundo Esportivo, Jornal O Globo, acervo.oglobo.globo.com, campeoesdofutebol.com.br, madureiraec.com.br, site do Milton Neves, vasco.com.br.
Zaki Ivan Taam disse:
O centro avante Isaias foi uma das maiores revelações do futebol brasileiro. Começou sua carreira no Madureira Atlético Clube, na época usando camisa em listras verticais nas cores azul, branco e roxo. Formava ao lado de Lelé e Jair, um trio infernal. Despertou logo o interesse de vários clubes. O Vasco da Gama, que estava montando o expresso da vitória, levou o trio, apelidado de “os três patetas”, que faziam na época muito sucesso no cinema. Quis o destino, todavia, que uma tuberculose levasse Isaias à morte com apenas vinte e cinco anos.