Cabisbaixo e sentado em um pequeno bar no tradicional bairro da Mooca, aquele senhor reservado costumeiramente tomava sua cervejinha. O andar sacrificante e vagaroso não colocava mais medo em ninguém!
Sofrendo com os efeitos da impiedosa Diabetes, a evolução da doença cobrava um preço cruel. Com o passar do tempo, Rodrigues precisou amputar uma perna e logo em seguida a outra!
Totalmente impossibilitado de caminhar e sem amigos para ajudar, o ex-jogador logo percebeu que a solidão de uma cadeira de rodas era algo bem pior do que o anonimato na cadeira de um bar.
Lembrado no mundo da bola pelo curioso apelido de “Rodrigues Tatu”, Francisco Rodrigues nasceu na cidade de São Paulo (SP), em 27 de junho de 1925.
Rodrigues iniciou sua caminhada esportiva no futebol varzeano. Jogava por uma equipe chamada Niterói Futebol Clube, até ser descoberto em 1941 por olheiros do Clube Atlético Ypiranga (SP).
O apelido “Tatu” foi colocado pelos companheiros, que afirmavam que Rodrigues parecia jogar escondido de seus marcadores, como se ficasse no interior de uma toca!
Chutava forte, cruzava bonito e fazia muitos gols. Sua primeira participação no quadro principal do Ypiranga aconteceu em 27 de março de 1943, na boa vitória diante do São Paulo pelo placar de 2×1.
Apaixonado por corridas de cavalo e pelos encantos da movimentada madrugada paulista, o promissor Rodrigues permaneceu nas fileiras do Ypiranga até 1945, quando despertou o interesse dos dirigentes do Fluminense Football Club (RJ).
Conforme matéria publicada nas páginas do Jornal Mundo Esportivo na edição de 24 de junho de 1955, o time das Laranjeiras precisou desembolsar o alto valor de 200 contos para contar com seu futebol.
Começou assim um ciclo que marcaria sua brilhante carreira: Constantes idas e vindas entre os cenários carioca e paulista!
Naquela período da era “Pré-Maracanã”, o tímido Rodrigues não gostava muito de aparecer. Preferia ser apenas um coadjuvante na linha de ataque formada por Pedro Amorim, Orlando, Simões e Ademir Marques de Menezes.
O primeiro título foi o memorável campeonato carioca de 1946, quando foi o artilheiro da competição com 28 gols marcados.
Lembrado pelo técnico Flávio Costa, Rodrigues foi convocado para disputar o mundial de 1950, como suplente do ponta-esquerda Chico do Vasco da Gama.
Depois da inesperada e sofrida derrota para o Uruguai no quadrangular decisivo da Copa do Mundo, Rodrigues foi negociado no segundo semestre de 1950 com os dirigentes da Sociedade Esportiva Palmeiras.
Novamente no futebol paulista, a transferência para o alviverde representou um bom contrato. Morando no bairro da Mooca, Rodrigues estava radiante e com dinheiro sobrando para fazer um bom “pé-de-meia”.
O salário pouco representava! O que contava mesmo era o “Bicho”, um prêmio pago por vitória em dinheiro vivo. Era isso o que fazia a fama de endinheirado dos jogadores de futebol.
Ao lado de Aquiles, Jair Rosa Pinto, Liminha e Canhotinho, Rodrigues formou uma linha ofensiva de respeito no Palmeiras, com importante participação no período de ouro marcado pela conquista das “Cinco Coroas”:
– 1ª Coroa: Taça Cidade de São Paulo de 1950; 2ª Coroa: Campeonato Paulista de 1950; 3ª Coroa: Torneio Rio-São Paulo de 1951; 4ª Coroa: Taça Cidade de São Paulo de 1951; 5ª Coroa: Copa Rio de 1951.
Além do sucesso no período das “Cinco Coroas”, Rodrigues faturou os torneios internacionais da Taça Peñarol em 1951 e o Troféu Cidade do México em 1952.
Rodrigues também foi o titular da ponta-esquerda da Seleção Brasileira que disputou o mundial em 1954, na Suíça. O ataque canarinho era formado por Julinho Botelho, Didi, Índio (ou Humberto Tozzi), Pinga e o próprio Rodrigues.
Pela Seleção Brasileira foram 21 participações; com 16 vitórias, 3 empates, 2 derrotas e 7 gols marcados. Os registros foram publicados pelo livro “Seleção Brasileira 90 Anos”, dos autores Antônio Carlos Napoleão e Roberto Assaf.
Rodrigues permaneceu no Palmeiras até 1955 e depois voltou em 1957. Ao todo foram 232 jogos disputados; com 135 vitórias, 38 empates, 59 derrotas e 127 gols marcados. Os números foram publicados pelo Almanaque do Palmeiras, dos autores Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti.
Para não perder o costume, Rodrigues retornou ao Rio de Janeiro na temporada de 1955, quando foi emprestado ao Botafogo de Futebol e Regatas, equipe onde continuou até 1956.
Após o curto período no time da “Estrela Solitária”, o atacante voltou ao mesmo Palmeiras em 1957. Rodrigues jogou ainda no futebol argentino pelo Club Atlético Rosário Central e depois pelo Clube Atlético Juventus (SP).
Algumas fontes registram ainda uma curta passagem pelo Paulista Futebol Clube de Jundiaí (SP). Francisco Rodrigues faleceu na cidade de São Paulo (SP), em 30 de outubro de 1988.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Alberto Helena Junior e José Maria de Aquino), revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, revista do Esporte, revista El Gráfico, revista Esporte Ilustrado (por Jorge Leal, José Santos, Levy Kleiman e Luís Mendes), revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Cruzeiro, revista O Globo Sportivo, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal dos Sports, Jornal Mundo Esportivo, Jornal O Globo, acervo.oglobo.globo.com, campeoesdofutebol.com.br, fluminense.com.br, gazeta esportiva.net, palmeiras.com.br, site do Milton Neves (por Gustavo Grohmann e Rogério Micheletti), Almanaque do Palmeiras – Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti, Livro: Seleção Brasileira 90 anos – Antônio Carlos Napoleão e Roberto Assaf.