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A mais pura verdade. O Fluminense de Nelson Rodrigues jogou mais; mas não foi o campeão carioca de 1963!

O goleiro do Flamengo calou o imortal cronista, que diante de sua iluminada máquina de escrever tentou justificar o malfadado destino naquela tarde no Maracanã.

Escreveu assim o nosso Nelson Rodrigues sobre o duelo que decidiu o campeonato carioca de 1963:

– Amigos, ao terminar o grande Fla-Flu, o profeta tratou de catar os trapos e saiu do Maracanã, mas de cabeça erguida! Era um vencido? Jamais. Vencido como, se temos de admitir uma verdade límpida: O Fluminense jogou mais!

Natural da cidade de Tupaciguara (MG), Marcial de Mello Castro nasceu no dia 3 de junho de 1941. 

Selecionado mineiro em 1963. Partindo da esquerda; William e Marcial do Atlético Mineiro, ao lado do lateral direito Massinha. Crédito: revista do Esporte.

Em 15 de dezembro de 1963, o Maracanã recebeu o maior público de um jogo entre clubes na história do futebol. Quase 200.000 pessoas assistiram o goleiro Marcial parar o ataque do Fluminense e dar o título ao Flamengo. Crédito: globoesporte.globo.com.

Sua trajetória foi iniciada nas equipes amadoras do Sete de Setembro Futebol Clube de Belo Horizonte. Encaminhado ao Clube Atlético Mineiro, Marcial assinou seu primeiro contrato, mas decidiu deixar o futebol tão logo foi aprovado no vestibular da UFMG.

Em julho de 1962 voltou ao Atlético após receber um convite do treinador Antônio Fernandes, mais conhecido como Antoninho.

Campeão mineiro de 1962, Marcial fez parte do selecionado mineiro que faturou o campeonato brasileiro de seleções, em janeiro de 1963.

Ainda naquele início de 1963, uma notícia bombástica pegou de surpresa os torcedores do Galo. O Jornal “Estado de Minas” anunciou o sucesso no acordo financeiro que levaria Marcial para o Corinthians.

A reportagem destacou também que a liberação do goleiro só aconteceria depois da decisão do campeonato de 1962, contra o Cruzeiro.

Crédito: revista do Esporte número 253 – 11 de janeiro de 1964.

Fora essa exigência, o próprio Marcial ainda fez uma solicitação incomum aos dirigentes do time paulista, principalmente para os padrões da época.

Aluno do terceiro ano do curso de Medicina, Marcial necessitava do envolvimento direto do Corinthians em sua transferência para a Escola de Medicina de São Paulo.

Mas o negócio com o time do Parque São Jorge não vingou. Dias depois, os jornais anunciaram outro destino para o goleiro: “Cedido Marcial ao Flamengo por 12 milhões”.

Esse novo furo de reportagem documentou o que seria a maior transação do futebol mineiro até então, apesar do valor ser inferior ao oferecido anteriormente pelo Corinthians.

Além dos 12 milhões de cruzeiros, o jogador ainda receberia 6 milhões. Mas, novamente tudo emperrou quando o clube carioca não fez o pagamento no prazo.

Crédito: revista do Esporte número 271 – 16 de maio de 1964.

Dias depois, com o dinheiro devidamente no caixa do Atlético, o acerto final entre os clubes foi assinado por 10 milhões de cruzeiros, mais o passe do goleiro Gustavo.

Também ficou acertado um amistoso em Belo Horizonte, como parte das festividades de comemoração dos 55 anos do clube mineiro. O quadro carioca venceu o confronto pelo placar de 2×1.

Depois de apenas 37 partidas pelo Atlético Mineiro e algumas participações no selecionado nacional, Marcial desembarcou no Rio de Janeiro e rumou para o gramado da Gávea.

Naquele período, o Rubro-Negro apostava suas fichas na conquista do campeonato carioca, algo que não acontecia desde o distante ano de 1955.

E Marcial foi determinante no campeonato carioca de 1963, principalmente naquele que foi considerado um dos clássicos mais emocionantes da história do “Fla x Flu”.

Manga e Marcial. Crédito: revista do Esporte número 284 – 15 de agosto de 1964.

Na partida decisiva contra o Fluminense, Marcial realizou uma das defesas mais difíceis de sua carreira em um chute frontal do atacante Escurinho, o que garantiu o empate em 0x0 e a taça de campeão aos rapazes do Flamengo.

Um dos destaques do time, Marcial foi escolhido pelos companheiros para expressar o descontentamento pelo prêmio de 150 mil cruzeiros.

Então, Marcial foi cobrar do presidente Fadel um aumento na premiação, já que esse valor era o mesmo recebido pelos jogadores ao longo de todo o certame.

Naquela oportunidade, Fadel disse para Marcial, sem economizar nas palavras, que não gostava de jogador que falasse em dinheiro. E disse mais ao afirmar que tal postura era coisa de mercenário!

Na mesma intensidade, Marcial respondeu que tal premiação não correspondia ao tamanho do clube e tampouco ao esforço pela importante conquista.

Crédito: revista do Esporte.

Planos e sonhos para a Copa do Mundo de 1966. Partindo da esquerda; Marcial, Gylmar e Manga. Crédito: revista do Esporte número 321.

Mesmo assim, com o ambiente um tanto tumultuado, Marcial permaneceu por mais algum tempo no clube da Gávea.

Mas o Corinthians nunca desistiu. Finalmente em 1965, o Parque São Jorge recebeu em festa o goleiro Marcial.

Jogando pelo Flamengo, Marcial disputou 87 partidas com 50 vitórias, 18 empates e 19 derrotas. Os números foram publicados pelo Almanaque do Flamengo, dos autores Clóvis Martins e Roberto Assaf.

Novamente em um time de massa, Marcial enfrentou muitas dificuldades em um período tumultuado, quando o Corinthians buscava seu tão sonhado título paulista.

Em 16 de novembro de 1965, Marcial fez parte do elenco que participou do amistoso entre Arsenal e Seleção Brasileira, que na oportunidade foi representada pelos jogadores do Corinthians. O quadro inglês venceu pela contagem de 2×0.

Cabeção e Marcial. Crédito: revista do Esporte número 344.

Crédito: revista do Esporte número 352 – 4 de dezembro de 1965.

Sua única conquista pelo alvinegro foi o Torneio Rio-São Paulo de 1966, quando Corinthians, Botafogo, Santos e Vasco da Gama dividiram o título.

Abaixo, uma das participações do goleiro Marcial no campeonato paulista de 1966:

30 de outubro de 1966 – Campeonato paulista segundo turno – Guarani 0x2 Corinthians – Estádio Brinco de Ouro da Princesa – Árbitro: Etelvino Rodrigues – Gols: Gilson Porto aos 23’ do primeiro tempo e Tales aos 33’ do segundo tempo. 

Guarani: Dimas; Deleu, Paulo, Eraldo e Dalmo; Carlos Alberto e Américo; Ademir, Nelsinho, Rodrigo e Carlinhos. Corinthians: Marcial; Jair Marinho, Galhardo, Clóvis e Édson; Dino Sani e Nair; Marcos, Tales, Rivellino e Gilson Porto.

Cansado da realidade do futebol, Marcial surpreendeu quando decidiu deixar os gramados no findar da temporada de 1967. Contando com apenas com 26 anos de idade, Marcial retomou os estudos em Medicina e se formou em 1970.

Crédito: revista do Esporte número 367 – 19 de março de 1966.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Arthur Ferreira, Divino Fonseca, Fausto Neto, Marcelo Rezende, Maurício Azêdo e Raul Quadros), revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, revista do Esporte (por Adílson Povil), revista Esporte Ilustrado, revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Cruzeiro, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal dos Sports, Jornal Estado de Minas, atletico.com.br, campeoesdofutebol.com.br, flamengo.com.br, fluminense.com.br, gazetaesportiva.net, globoesporte.globo.com, mg.superesportes.com.br, site do Milton Neves (por Milton Neves e Rogério Micheletti), veja.abril.com.br, Almanaque do Flamengo – Clóvis Martins e Roberto Assaf.