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Entre inúmeras definições encontradas na língua portuguesa; pavilhão é uma construção isolada que faz parte de um conjunto, um lugar de segurança, ou ainda, uma bandeira de nacionalidade presente nas embarcações. 

Mas para o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, que em 1954 não contava com recursos financeiros suficientes para buscar reforços caros, a palavra pavilhão representou muito mais!

Na ocasião, o presidente Saturnino Vanzelotti estava interessado no passe do zagueiro Aírton, um jovem grandalhão de 1;86 de altura. Com pouco dinheiro em caixa, a opção foi oferecer uma proposta inusitada aos diretores do Grêmio Esportivo Força e Luz, equipe que Aírton defendia desde 1949.

Além de cinquenta mil cruzeiros, o Grêmio colocou na negociação um pavilhão social com dez lances de arquibancada, uma peça única fabricada em genuína madeira de lei.

O ato curioso de trocar um patrimônio por uma simples promessa de dezenove anos de idade, que poderia nem mesmo vingar, mais tarde foi entendido como um presente dos céus!

O dono da área, o zagueiro que não fazia faltas! Crédito: revista do Grêmio número 9 – 1957.

“Se eu desse um pontapé, morreria de vergonha! Deus que me livre ferir um companheiro de profissão e chefe de família”. Crédito: revista Placar.

Filho de Argemiro Ferreira da Silva e de dona Maria Silvarina Ferreira da Silva, Aírton Ferreira da Silva nasceu no dia 31 de outubro de 1934 na cidade de Porto Alegre (RS).

Sua trajetória esportiva foi iniciada no findar da década de 1940, nas fileiras do Grêmio Esportivo Força e Luz (RS). Zagueiro de qualidade, que também rendia muito bem como centro-médio, o futebol vistoso de Aírton foi observado mais atentamente por olheiros do Grêmio em 1954.

Com o negócio devidamente fechado, o tal “grandalhão” foi apresentado aos torcedores gremistas em junho de 1954, o marco de sua futura transformação no afamado “Aírton Pavilhão”.

Até hoje referenciado como “O dono da área”, Aírton Pavilhão foi definido pelo jornalista Armindo Antônio Ranzolin como o zagueiro que não cometia faltas. Para o comentarista gaúcho Ruy Carlos Ostermann, Aírton foi incomparável:

– “Não conheci zagueiro melhor do que o Aírton. Marcava sem violência e sem nenhum esforço físico. Cercava naturalmente”.

Ortunho e Aírton Pavilhão, companheiros no Grêmio e na Seleção Brasileira! Crédito: revista Grandes Clubes Brasileiros.

Antes do embarque para o Pan-Americano de 1956. De cima para baixo; Aírton Pavilhão, Oreco e o goleiro Sérgio Moacir. Crédito: Livro Aírton Pavilhão – O Zagueiro das Multidões – Celso Sant’anna – Editora Ideias a Granel.

Aírton Pavilhão fez sua primeira participação vestindo a camisa gremista no dia 1 de agosto de 1954, no empate por 1×1 contra o Esporte Clube Cruzeiro (RS).

Dono de uma técnica apurada, Aírton Pavilhão jogava sempre de cabeça erguida e raramente cometia faltas! Um dos maiores exemplos de sua classe aconteceu em um confronto contra o Santos, jogo disputado no Estádio Olímpico.

O zagueiro entrou para os livros de história ao aplicar um “chapéu” em Pelé, que maravilhado afirmou: “Ele me marcou sem fazer uma única falta, sem ao menos me tocar”.

– “Se eu desse um pontapé, morreria de vergonha! Deus que me livre ferir um companheiro de profissão e chefe de família… Fazia faltas com o uso do corpo e nunca machuquei ninguém”.

A primeira passagem pelo Grêmio durou até o mês de março de 1958, quando foi emprestado ao Santos Futebol Clube para jogar ao lado de Pelé. No entanto, essa aventura paulista durou pouco e o zagueiro voltou ao Grêmio em 1959.

Uma verdadeira coleção de títulos gaúchos! Crédito: Livro Aírton Pavilhão – O Zagueiro das Multidões – Celso Sant’anna – Editora Ideias a Granel.

Abaixo, uma das participações de Aírton Pavilhão jogando pelo quadro santista na disputa do Torneio Rio-São Paulo de 1958:

13 de março de 1958 – Torneio Rio-São Paulo – Portuguesa de Desportos 3×2 Santos – Estádio do Pacaembu (SP) – Árbitro: Dino Pasini – Gols: Ocimar (2) e Servílio para a Portuguesa de Desportos; Pelé e Pepe para o Santos.

Portuguesa: Carlos Alberto; Mário Ferreira, Djalma Santos e Valter; Bauer e Odorico; Admastor (Hermínio), Ipojucan, Alfeu (Servílio), Ocimar e De Carlo. Técnico: Flávio Costa. Santos: Veludo; Aírton Pavilhão e Geraldo; Dalmo, Ramiro (Urubatão) e Zito; Dorval, Jair Rosa Pinto (Afonsinho), Pagão, Pelé e Pepe. Técnico: Lula.

Na opinião de muitos críticos esportivos, o zagueiro não permaneceu na Seleção Brasileira e no Santos por ser clássico demais, algo considerado arriscado por muitos treinadores.

Uma de suas jogadas – que ficou conhecida como “Charles” – causava calafrios nos torcedores. Aírton Pavilhão recebia a bola na lateral da área e devolvia para o goleiro de letra, algumas vezes com a bola encobrindo o atacante!

Categoria demais. O futebol vistoso de Aírton Pavilhão foi considerado como um risco na Seleção Brasileira! Crédito: revista do Esporte número 184 – 15 de setembro de 1962.

Até Pelé ficou impressionado: “O Aírton me marcou sem fazer uma única falta”. Crédito: revista do Esporte número 352 – 4 de dezembro de 1965.

O próprio Aírton Pavilhão revelou: O problema é que fiz a jogada “Charles” em um treino da Seleção Brasileira. O Aymoré Moreira ficou com medo e assim fui cortado do escrete!

Pela Seleção Brasileira, Aírton Pavilhão foi aproveitado na preparação do escrete para o mundial de 1962. Ao todo foram sete partidas disputadas e o título de campeão Pan-Americano de 1956.

Aírton Pavilhão conquistou 11 vezes o certame gaúcho entre os anos de 1956 e 1967. Defendeu também o Nacional de Cruz Alta (RS), equipe onde encerrou a sua marcante caminhada no mundo da bola.

(*) Algumas fontes registram ainda passagens pelo Almirante Barroso (RS) e pelo Esporte Clube Cruzeiro (RS) na temporada de 1968.

Aírton Ferreira da Silva faleceu no dia 3 de abril de 2012 em Porto Alegre (RS). O ex-zagueiro estava internado no Hospital Ernesto Dorneles e não resistiu ao quadro de infecção generalizada.

Aírton Pavilhão, Vieira e Milton: Classe, dedicação e fôlego! Crédito: revista Placar número 650 – 5 de novembro de 1982.

O orgulho do dever cumprido! Foto de Édson Vara. Crédito: revista Placar – Maio de 2001.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Édson Vara, Fábio Volpe, JB Scalco, Lemyr Martins e Roberto Appel), revista do Esporte (por Luís Oliveira), revista do Grêmio, revista Futebol e Outros Esportes, revista Grandes Clubes Brasileiros, revista Panorama Esportivo, acervosantosfc.com, campeoesdofutebol.com.br, correiodopovo.com.br, gremio.net, placar.abril.com.br, site do Milton Neves, wp.clicrbs.com.br, Livro: Aírton Pavilhão – O Zagueiro das Multidões – Celso Sant’anna – Editora Ideias a Granel.