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Bicampeão paulista 1970 e 1971, Campeão do Torneio Hexagonal Norte-Nordeste 1967, Terto ponta direita, Tertuliano Severiano dos Santos
Naqueles tempos, os torcedores do tricolor paulista poderiam até questionar sua habilidade! Poderiam dizer que Terto não era craque, que não tinha intimidade com a bola nos pés e que seus gols eram fruto da própria superação.
Contudo, entre braçadas, solavancos e tropeços, Terto transbordava dedicação. Um autêntico batalhador em campo! Assim, o jovem e promissor pernambucano foi conquistando seu espaço no exigente cenário paulista.
Tertuliano Severiano dos Santos nasceu em Recife (PE), no dia 29 de dezembro de 1946. Iniciou sua caminhada esportiva em 1965, como meia-atacante nas fileiras do Santa Cruz Futebol Clube (PE).
Conforme matéria publicada nas páginas da revista Placar em 22 de outubro de 1976, Terto passou por momentos difíceis até alcançar o reconhecimento como jogador de futebol.
Na juventude, o rapazola viveu um drama pessoal pela separação dos pais e foi morar com os tios. Sua grande fase no futebol pernambucano aconteceu em 1967, quando conquistou o Torneio Hexagonal Norte-Nordeste pelo Santa Cruz.
Em janeiro de 1968, o São Paulo Futebol Clube precisou desembolsar 150.000 cruzeiros para contar com uma das maiores revelações do futebol nordestino!
Terto chegou em um período difícil para o torcedor do São Paulo, que amargava mais de uma década sem o prazer de comemorar um título paulista.
Na época, grande parte dos recursos financeiros do clube eram destinados para a conclusão do Estádio do Morumbi, Mesmo assim, o time quase chegou ao título paulista em 1967.
Assim como outros desavisados que desembarcam na ameaçadora “Selva de Pedra” paulistana, Terto viveu dias de puro deslumbramento na vida noturna da cidade grande. Chegava atrasado nos treinamentos e com os olhos inchados.
Para tentar justificar, o pernambucano dizia que ficou assistindo televisão até mais tarde, que tinha insônia, que sofria com saudades dos familiares e coisa e tal…
Durante a temporada de 1969, seu rendimento em campo desabou. Os exames realizados no Hospital Santa Catarina revelaram uma dura realidade, decerto originada nas dificuldades vividas na mocidade!
De acordo com a mesma matéria da revista Placar número 341, edição de 22 de outubro de 1976, a equipe médica do Doutor Dalzel Freire Gaspar diagnosticou uma espécie de “verminose múltipla” instalada em seu organismo.
Todavia, os medicamentos eram tóxicos demais e isso o enfraqueceu de forma significativa. Na recuperação, Terto pulou de 63 para 78 quilos e precisou fazer um regime especial.
Com outras opções na ponta-direita, como Nicanor, Miruca e Paulo Nani, Terto continuou aproveitado pela meia-direita, até a chegada do técnico Zezé Moreira.
Zezé Moreira logo percebeu que a velocidade de Terto poderia ser útil em outras posições da linha de ataque. O valente pernambucano era um atacante sem medo de “cara feia” e extremamente útil para romper retrancas!
Quando o Morumbi foi completamente inaugurado em 25 de Janeiro de 1970, um novo ciclo foi iniciado. Agora era necessário levantar o “caneco” paulista e dessa forma os dirigentes decidiram fortalecer o plantel.
O reforço do elenco começou bem antes. No dia 17 de julho de 1969, Gerson “O Canhotinha de Ouro” assinou contrato com o São Paulo. Pouco depois, no mês de agosto, Toninho Guerreiro deixou o Santos e foi apresentado no Morumbi.
Por ocasião da chegada do astro uruguaio Pedro Rocha, Terto foi definitivamente aproveitado como ponta-direita, um momento especial ao lado de Toninho Guerreiro e Paraná.
Jogando pela ponta-direita, Terto aprendeu rapidamente como tirar proveito dos lançamentos perfeitos de Gerson “O Canhotinha de Ouro”. Mais tarde, soube aproveitar também o toque sempre refinado de Pedro Rocha.
Entre tantos talentos, Terto era a espoleta de impetuosidade, o atacante da conclusão! Uma energia vigorosa que completava aquela memorável linha de ataque.
Recheado de estrelas, o tão esperado título paulista de 1970 fez justiça ao árduo trabalho empenhado pela diretoria. A tranqüilidade foi restabelecida e o dia a dia ficou muito mais fácil.
O entrosamento e a evidente qualidade da equipe foi determinante na conquista do bicampeonato paulista em 1971, no polêmico duelo contra o Palmeiras no Morumbi.
O clássico ficou ainda mais nervoso depois do erro do árbitro Armando Marques, que anulou um gol legítimo do atacante Leivinha. O tricolor venceu por 1×0, com um gol marcado por Toninho Guerreiro.
Em uma de suas entrevistas, Pedro Rocha contou um fato curioso sobre Terto. O pernambucano não gostava de bola nos pés: “Olha, gringo, não me dê mais a bola no pé. Joga em cima do zagueiro que eu atropelo e vou parar no gol”.
Pelo São Paulo, Terto foi vice-campeão brasileiro nas edições de 1971 e 1973, vice-campeão da Taça Libertadores de 1974 e novamente campeão paulista em 1975.
Terto entrou para os livros de história do clube como o autor do primeiro gol do São Paulo no campeonato brasileiro. Foi no dia 14 de agosto de 1971, na derrota por 3×1 para o Santos.
Ao todo foram 498 jogos; com 241 vitórias, 151 empates, 106 derrotas e 84 gols marcados. Os números fazem parte do Almanaque do São Paulo, do autor Alexandre da Costa.
O jogador permaneceu no Morumbi até 1977. Negociado com o Botafogo Futebol Clube da cidade de Ribeirão Preto (SP), Terto viveu grandes momentos ao lado de Lorico e Sócrates.
Terto também passou muito bem pelo Ceará. Jogou no Ferroviário Atlético Clube em 1979 e foi campeão cearense. Na temporada seguinte defendeu o Fortaleza Esporte Clube até deixar os gramados. Algumas fontes registram ainda uma passagem pelo Grêmio (RS).
O ex-jogador trabalhou como funcionário do São Paulo na década de 1980. Foi professor da escolinha de futebol dos sócios do clube. Tertuliano Severiano dos Santos faleceu no dia 9 de abril de 2024, aos setenta e sete anos de idade.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Carlos Maranhão, Édson Pio, Gérson Faria, João Areosa, José Maria de Aquino, Lemyr Martins e Narciso James), revista Grandes Clubes Brasileiros, revista Manchete Esportiva, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal da Tarde, campeoesdofutebol.com.br, gazetaesportiva.net, saopaulofc.net, site do Milton Neves (por Gustavo Grohmann e Rogério Micheletti), Almanaque do São Paulo – Alexandre da Costa, albumefigurinhas.no.comunidades.net.