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campeão mundial de 1962, campeão paulista de 1948, Esportiva Sanjoanense, Mauro Ramos de Oliveira
A imprensa, os companheiros e os torcedores indagavam aturdidos: Como Mauro entra e sai do campo sem se sujar, sempre assim tão impecável?
Mauro Ramos de Oliveira era dono de um estilo educado e elegante!
Um nobre na guerra dos gramados que jamais se esqueceu dos tempos em que os pais queriam fazer dele um Cônsul ou um Senador da República.
Então, Mauro procurava chegar em casa sem os resquícios do jogo da bola. Entrava pelo quintal, lavava o rosto, jogava um desodorante na roupa e ia na cozinha para comer alguma coisa.
Mauro Ramos de Oliveira, que também ficou conhecido entre os companheiros como “Martha Rocha”, nasceu na cidade de Poços de Caldas (MG), em 30 de agosto de 1930.
O sonho da família Oliveira era ver o pequeno Mauro freqüentando os altos escalões da sociedade brasileira. Mas o destino tinha outros planos para o garoto de fino trato.
Ainda criança, Mauro apaixonou-se pela bola. Aquela paixão que faz com que qualquer coisa que tenha um formato esférico se aproxime dos pés, como que por encanto.
Todos os dias, infalivelmente, Mauro marcava presença nos precários campos de terra existentes na várzea de Poços de Caldas e, para esconder dos pais sua loucura pelo futebol, procurava manter cuidado e jogar sem se sujar.
Quando Mauro chegava em casa ninguém poderia adivinhar que ele havia passado quase todo o tempo nas renhidas disputas futebolísticas entre os meninos da sua idade.
Chegava limpo, imaculado, sem qualquer sinal de que tivesse tocado em uma bola.
O tempo foi passando e sua fama como jogador de futebol ia ganhando terreno de boca em boca até que chegou ao conhecimento do pai. Mauro, o menino estudioso e dedicado era também um craque da bola!
O pai de Mauro não acreditou. Quando e onde o seu filho jogava e como suas roupas não tinham sinais de barro ou de grama?
Contaram-lhe os detalhes e o senhor Oliveira foi ao campinho onde proclamavam, boas e más línguas, que o filho dava seu show particular.
Mauro ficou em pânico quando viu o pai, enquanto este ficou ainda mais espantado quando viu o que o filho sabia fazer com uma bola nos pés, mesmo jogando como zagueiro.
Eram os tempos em que Mauro jogava pelo time do Caxias de Poços de Caldas antes de suas passagens pela Esportiva Sanjoanense e pela Associação Atlética Caldense.
Ainda muito jovem, Mauro jogava como se tivesse 30 anos. Parecia um veterano tal sua tranqüilidade, sua calma e sua segurança.
Enquanto isso, o São Paulo, bicampeão paulista de 1945 e 1946, tinha perdido o tricampeonato de 1947 para o rival Palmeiras.
Renganeschi, o velho Renga, o zagueiro que marcou o gol do título de 1946, mesmo fazendo número em campo em razão de uma distensão, também estava quase abandonando o mundo da bola.
Por esse motivo, os diretores do tricolor procuravam um substituto para o ídolo Renganeschi.
A torcida não acreditava que seria possível encontrar alguém capaz, então rezavam para que Renga ficasse uma eternidade jogando.
Assim, em 1948, Mauro chegou ao São Paulo.
Em seu primeiro treino o menino Mauro parou Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”. Outros medalhões também foram driblados e os reservas venceram o treino coletivo. A comissão técnica do tricolor entrou em êxtase!
Sua primeira participação aconteceu em um amistoso contra o Taubaté, quando o São Paulo foi derrotado por 3×1. Daí para frente, mesmo com Renganeschi ainda na ativa, Mauro ganhou o lugar de titular.
A torcida, em todos os tempos sempre tão volúvel, logo se esqueceu de seu “Deus da Raça” e elegeu Mauro como coqueluche. Aquele menino era demais!
Com o bicampeonato paulista de 1948 e 1949, Mauro consolidou seu caminho de sucesso no selecionado paulista e na Seleção Brasileira.
Foi campeão da Copa América de 1949, embora tenha ficado de fora do elenco que o técnico Flávio Costa comandou durante o mundial de 1950.
Exímio cabeceador, Mauro dificilmente perdia uma dividida pelo alto. Novamente campeão paulista de 1953, o zagueiro já era dono de uma cadeira cativa na seleção, que naqueles tempos já ostentava uma nova camisa canarinho.
Convocado para o mundial de 1954, Mauro não atuou nos gramados da Suíça.
Naquele mesmo ano Mauro apelidado de “Martha Rocha” (Miss Brasil 1954). Longe de ser uma ofensa, o apelido era uma referência ao estilo elegante do jovem zagueiro do tricolor.
Quando o título paulista de 1957 foi conquistado contra o Corinthians, Mauro novamente deslumbrou uma real possibilidade de disputar o mundial de 1958 como titular.
Novamente, Mauro não foi utilizado em nenhuma partida na inesquecível campanha da Suécia.
Permaneceu no São Paulo até o final da temporada de 1959, quando foi negociado com o Santos Futebol Clube. Sua saída do São Paulo foi marcada por ressentimentos junto ao corpo diretivo.
No esplendor da forma, Mauro propôs uma renovação contratual com uma compensação financeira que achava justa. Não era nada que fosse colocar o clube em situação complicada. Muito pelo contrário!
Então, aconteceu o inesperado. Um grande desentendimento elevou o tom das conversas e Mauro, desiludido, foi-se embora para o time da Vila Famosa.
Com a camisa do tricolor, Mauro disputou 492 partidas com 298 vitórias, 98 empates, 96 derrotas e 2 gols marcados. Os números foram publicados pelo Almanaque do São Paulo, do autor Alexandre da Costa.
Mesmo com grande reconhecimento nacional e internacional no Santos, Mauro nunca aceitou muito bem o fato de ter deixado o São Paulo, clube que o projetou definitivamente no cenário do futebol.
Em 6 anos na Vila Belmiro (de 1960 até 1966), Mauro apresentou resultados inquestionáveis:
– Campeonato paulista 1960, 1961, 1962, 1964 e 1965, Taça Brasil 1961, 1962, 1963, 1964 e 1965, Torneio Rio-São Paulo 1962, 1964 e 1966, Libertadores da América 1962 e 1963) e o Mundial Interclubes 1962 e 1963.
Perto de completar os 33 anos de vida, Mauro voltou ao escrete na Copa do Mundo de 1962. Participou de todos os jogos da campanha no Chile na condição de capitão.
Então, o já veterano Mauro Ramos de Oliveira aceitou uma proposta para atuar no Toluca do México, onde foi campeão nacional naquela mesma temporada.
Logo depois decidiu encerrar a carreira como jogador profissional.
Viajou ao México e aos Estados Unidos para fazer alguns cursos profissionalizantes e seguir na carreira como treinador de futebol. Era o início de um novo desafio!
Seu trabalho fora das quatro linhas começou no Deportivo Oro (México), antes de voltar ao Brasil para treinar o Coritiba e o Santos em 1971.
Em 1974 abandonou definitivamente o mundo do futebol para se dedicar ao comércio.
Desde então, sua imagem raramente aparecia na mídia. Seu nome voltou aos meios esportivos apenas no ano 2000, quando complicações de saúde ganharam espaço no noticiário esportivo.
Mauro Ramos de Oliveira faleceu no dia 18 de setembro de 2002, em Poços de Caldas (MG). O “Capitão do Bi” estava internado na Santa Casa de Misericórdia com problemas cardíacos e câncer no intestino.
Em Poços de Caldas, no início da Avenida David Benedito Ottoni, uma estátua do saudoso Mauro lembra o ápice de sua carreira esportiva, quando ergueu a taça Jules Rimet no Chile.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Michel Laurence, Fábio Rocco Sormani e Paolino Senra), revista do Esporte, revista Esporte Ilustrado, revista O Globo Sportivo, revista Goal, revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Cruzeiro, revista Tricolor, revista Futebol, revista Sétimo Céu, site do Milton Neves, albumefigurinhas.no.comunidades.net, reliquiasdofutebol.blogspot.com.br, museudosesportes.blogspot.com, Arquivo Público do Estado de São Paulo – Memória Pública – Jornal Última Hora, Jornal Mundo Esportivo, Almanaque do São Paulo – Alexandre da Costa, cacellain.com.br.