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Araty Pedro Viana, Departamento Autônomo da Federação Carioca de Futebol, Esporte Clube Pau Grande, o descobridor de Garrincha
Por um momento, seu olhar foi atraído por um insinuante e sedutor bailado. Quem seria aquele jogador de pernas tortas e que driblava sem bola?
Então, com a mente mergulhada em absoluto devaneio, o tarimbado Araty logo imaginou o tal desconhecido com uma “Estrela Solitária” no peito!
Era inegável que aquele sujeito tinha algo de sobrenatural em sua maneira de praticar o futebol. Embebido em curiosidade, Araty foi de encontro ao curioso ponta-direita e perguntou seu nome.
A resposta foi simples, mas revelou um nome incomum, tão incomum como o jeito de jogar daquele jovem matuto: Garrincha.
Araty Pedro Vianna nasceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 3 de abril de 1923. Sua trajetória esportiva foi iniciada nos primeiros anos da década de 1940, nas equipes amadoras do atual Madureira Esporte Clube (RJ).
Araty jogava inicialmente como zagueiro e mais tarde foi efetivado pelo corredor direito defensivo. Seu primeiro compromisso como profissional foi registrado em 1946, no mesmo Madureira.
Abaixo, uma das participações do esforçado Araty jogando pelo Madureira no primeiro turno do campeonato carioca de 1949:
21 de agosto de 1949 – Campeonato carioca primeiro turno – Madureira 1×1 Botafogo – Estádio Conselheiro Galvão – Árbitro: Bill Martin – Gols: Rubinho para o Madureira e Ávila para o Botafogo.
Madureira: Milton, Weber e Godofredo; Araty, Hermínio e Mineiro; Betinho, Rubinho, Benedito, Jorge e Panzarielo. Botafogo: Oswaldo Baliza, Gerson dos Santos e Nilton Santos; Rubinho, Ávila e Juvenal; Paraguaio, Geninho, Sylvio Pirillo, Octávio e Demósthenes.
Forte e firme nas divididas, Araty era temido pelo excesso de força, fato que acabou ocasionando sua tão falada transferência para General Severiano.
Diziam na época que Araty dava tanta “botinada” que em uma partida contra o Botafogo tirou de campo Octávio e Sylvio Pirillo com uma única pegada.
O certo é que em 1950 Araty firmou compromisso com o Botafogo do precavido e supersticioso Carlito Rocha, um homem dedicado e deveras respeitado como um verdadeiro “guru” da Estrela Solitária.
Carregando o rótulo de jogador viril e até desleal, o destemido Araty precisou provar aos companheiros de clube que sua fama era no mínimo exagerada. Contudo, seu nome permanece lembrado por outro feito.
No período entre 1952 e 1953, Araty era um dos principais colaboradores de um time chamado “Restauradores”, uma agremiação que disputava o campeonato do Departamento Autônomo da Federação Carioca de Futebol.
Em certa ocasião, o Restauradores foi até Pau Grande (RJ) enfrentar o quadro local. Convidado para apitar o confronto, Araty entrou para os livros de história como o descobridor de Garrincha.
Sem meias palavras, Araty foi direto em seu nobre propósito: Você tem lugar em qualquer time do mundo Manoel. Vou te levar para treinar no Botafogo!
Antes, Garrincha já tinha tentado ser aprovado nas peneiras do Fluminense, São Cristóvão e Vasco da Gama. Mas acabou dispensado antes mesmo de entrar em campo por ser considerado um “torto” aventureiro.
Com indicação de Araty, Garrincha chegou ao Botafogo em 10 de junho de 1953 para ser testado. O técnico Gentil Cardoso não estava presente e assim o filho Nilton Cardoso tratou de receber o curioso rapazola.
Escalado na ponta-direita do quadro reserva, Garrincha fez o experiente Nilton Santos suar e passar vergonha diante do pequeno público presente.
Isso pode explicar uma suposta correria dos dirigentes do Botafogo para fazer o moço de Pau Grande assinar qualquer papel para continuar no clube.
Consultado sobre Garrincha, Nilton Santos foi simples em sua avaliação: “Pelo amor de Deus contratem logo esse tal de Garrincha. Se ele for para outro time estamos fritos”.
Depois desse primeiro treino no Botafogo, quem perdeu noites de sono foram os marcadores dos outros times, os quais Garrincha chamava apenas de “João”.
O melhor momento de Arary aconteceu na temporada de 1952, quando foi lembrado no selecionado carioca e também defendeu o escrete no campeonato Pan-Americano.
Araty permaneceu nas fileiras do Botafogo até 1955, quando seus direitos foram negociados com os dirigentes da Associação Atlética Portuguesa (RJ). Algumas fontes apontam ainda uma passagem pelo Esporte Clube Taubaté (SP).
Depois do futebol, Araty trabalhou como descobridor de novos talentos no Rio de Janeiro. Não foram encontrados outros registros sobre Araty ao deixar o futebol profissional.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Álfio Beccari, Paulo Vinícius Coelho e Sandro Moreyra), revista do Botafogo, revista do Esporte, revista Esporte Ilustrado (por Armando Nóbrega e Benjamin Wright), revista Estádio, revista Manchete, revista O Cruzeiro, revista O Globo Sportivo, Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, albumdosesportes.blogspot.com.br, cacellain.com.br, campeoesdofutebol.com.br, museudosesportes.blogspot.com, site do Milton Neves, Livro: “Vai dar Zebra” – José Rezende e Raymundo Quadros – albumefigurinhas.no.comunidades.net.