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Com absoluta certeza, se ainda estivesse em atividade, o técnico Milton Buzetto trabalharia hoje em várias equipes do futebol brasileiro.

Adepto de uma boa “retranca”, Milton Buzetto ficou conhecido por armar suas equipes com uma preocupação defensiva que irritava até os mais conservadores.

Milton Buzetto, ou ainda Milton Buzzeto, conforme encontrado em algumas publicações, nasceu na cidade de Piracicaba (SP), no dia 14 de novembro de 1937.

Um dos cinco filhos do casal Francisco Buzetto e Elídia Bovi Buzetto, o menino Milton Buzetto cresceu trabalhando na oficina lenhadora do pai, popularmente conhecida como “Lenhadora do seu Francisco”.

Naquele tempo, o fogão a gás ainda era incipiente, o que fazia muitas famílias dependerem da lenha dos Buzetto, que também ofereciam o carvão em domicílio.

Se ainda estivesse em atividade, Milton Buzetto trabalharia hoje em várias equipes do futebol brasileiro. Crédito: revista Placar.

O time do Juventus no gramado da Rua Javari. Em pé: Diógenes, Nenê, Paulo, Claudinei, Hidalgo, Milton Buzetto e membro da Comissão Técnica. Agachados: O famoso massagista Elias Pássaro, Antoninho, Quarentinha, Bira, Jair Francisco e Valdir. Crédito: revista Futebol e Outros Esportes.

Assim, todos eram envolvidos na labuta diária, sobrando ao esforçado Milton Buzetto o árduo trabalho de picar e transportar os fardos de lenha.

Aos 12 anos de idade, Milton Buzetto dividia seu tempo entre os estudos no Grupo Escolar Moraes Barros e o novo trabalho na Farmácia Popular, de propriedade do conhecido seu Dinho.

Tempos depois, Milton Buzetto recebeu uma proposta mais vantajosa da Farmácia São Paulo, continuando assim seu aprendizado atrás do balcão!

Na mesma época iniciou os estudos na Escola Cristóvão Colombo, onde mais tarde foi diplomado em Contabilidade. Nas horas de folga, Milton Buzetto jogava como lateral-direito no popular time do Estrela Dalva.

E para sua surpresa, Idílio Gianetti, um dos sócios da Viação Piracicabana, o convidou para treinar no Palmeiras.

“Nunca tive vergonha de colocar meu time na retranca”. Foto de Lemyr Martins. Crédito: revista Placar – 3 de agosto de 1973.

“Treinar time grande é um negócio bem diferente”. Foto de Lemyr Martins. Crédito: revista Placar – 3 de agosto de 1973.

O convite de Idílio Gianetti foi feito mais ou menos assim: “Você quer ir para o juvenil do Palmeiras? Eu também vou levar o Cuíca”.

Cuíca era o apelido de José João Altafini, o famoso Mazzola, que na época jogava pelo Clube Atlético Piracicabano (SP).

Com os bilhetes de ônibus oferecidos gratuitamente por Idílio Gianetti, Buzetto e Mazzola rumaram para São Paulo e foram morar nos alojamentos do Palmeiras.

Conhecedores de que não receberiam qualquer ajuda de custo, os humildes rapazes do interior paulista estavam maravilhados com os encantos da sedutora capital.

Enquanto isso, nos contatos por telefone, a mãe de Buzetto narrava os comentários maldosos que circulavam pela cidade: “Estão metendo o pau em você e no Mazzola. Dizem que vocês não jogam nem aqui no XV e querem jogar justo no Palmeiras”.

Promessas e mais promessas do presidente Vicente Matheus. Crédito: revista Placar – 30 de janeiro de 1976.

O Corinthians não pode jogar como o Juventus! Foto de Lemyr Martins. Crédito: revista Placar – 30 de janeiro de 1976.

Buzetto e Mazzola continuaram semeando sonhos, que ofereceram os primeiros frutos em 1956, quando foram campeões na categoria juvenil e em seguida pelo time de Aspirantes.

Quando Buzetto e Mazzola foram promovidos ao elenco de profissionais, o Palmeiras fez uma grande remodelação no time, o que representou novas oportunidades.

Até que um dia o Palmeiras foi enfrentar o XV de Novembro na cidade de Piracicaba. Sem perder tempo, os “incrédulos de plantão” atiraram suas setas carregadas de veneno.

Era um veneno que se espalhava pela cidade, mesmo antes do tão esperado confronto: “O Palmeiras vem aqui com o Mazzola e com o Buzetto de zagueiro. Se o XV não ganhar de goleada é pura marmelada”.

E o Palmeiras, mesmo com Buzetto e Mazzola no time, venceu facilmente o duelo por 4×1.

A derrota para o São Bento do sempre astuto Filpo Nuñez. Crédito: revista Placar – 21 de maio de 1976.

Mesmo apresentando um bom retrospecto, Milton Buzetto não suportou o tranco no Corinthians. Crédito: revista Placar – 11 de junho de 1976.

O tempo passou e Mazzola deixou o amigo Buzetto ao ser negociado com o futebol italiano, logo após o grande triunfo canarinho em 1958.

Depois da chegada do técnico Brandão, o recém casado Buzetto foi disponibilizado para o Esporte Clube Noroeste de Bauru, lá permanecendo por aproximadamente um ano.

Contratado pelo Clube Atlético Juventus em 1960, Milton Buzetto jogou no time da Javari até o findar de 1969, quando deixou os gramados para ocupar um cargo na comissão técnica, até assumir definitivamente o comando do time grená.

E foi trabalhando como treinador do Juventus que a “lenda” de Buzetto e sua retranca invadiu o meio esportivo. Campeão do Torneio Paulistinha, o Juventus da época ficou conhecido por sua irritante retranca e por roubar pontos dos times considerados grandes.

Buzetto continuou no comando do Juventus até julho de 1975, quando o presidente do Corinthians, Vicente Matheus, propôs uma reunião em sua casa, no bairro do Tatuapé.

Respeitado pelos jogadores, Milton Buzetto brigava por melhores salários e condições de trabalho para seus comandados. Foto de Ronaldo Kotscho. Crédito: revista Placar – 11 de junho de 1976.

O choroso Ivan acompanha a caminhada final de Milton Buzetto no Parque São Jorge. Foto de José Pinto. Crédito: revista Placar – 11 de junho de 1976.

Com seu jeito simples, Vicente Matheus foi logo colocando o baralho na mesa: “Escuta mocinho, você tem um jeitinho muito bom de conversar com os jogadores… Acho que você fez muito pelo Juventus”.

O trabalho desenvolvido por Buzetto e Roberto Brida no Corinthians passou por altos e baixos. Respeitado pelos jogadores, Milton Buzetto brigava por melhores salários e condições de trabalho para seus comandados.

Ao todo, o treinador comandou o alvinegro em 62 oportunidades no campeonato brasileiro e no campeonato paulista. Foram 30 vitórias, 17 empates e 15 derrotas, com um aproveitamento de 62% dos pontos disputados.

Mesmo assim, Vicente Matheus não demonstrava nenhum entusiasmo com os resultados. A torcida cobrava e a imprensa martelava!

O mal-estar piorou depois que Buzetto inaugurou uma lanchonete muito próxima da Rua Javari, inclusive bastante visitada por alguns jogadores do Corinthians; entre eles o lateral-direito Zé Maria.

Com seu Opala verde, o sempre sereno Milton Buzetto deixou o Corinthians e foi trabalhar em sua lanchonete. Foto de José Pinto. Crédito: revista Placar – 25 de junho de 1976.

Uma vida simples na Lanchonete. Foto de Ronaldo Kotscho. Crédito: revista Placar – 25 de junho de 1976.

Depois de uma derrota por 1×0 para o São Bento de Sorocaba pelo campeonato paulista, Milton Buzetto deixou o Corinthians em 1976, quando foi substituído pelo treinador do mesmo São Bento, o lendário Filpo Nuñez.

Com seu Opala verde, o sempre sereno Milton Buzetto tomou o caminho do bairro da Mooca e foi trabalhar em sua lanchonete, enquanto aguardava por novos convites no circo do futebol.

Milton Buzetto ainda ofereceu seus serviços para um bom número de equipes pelo Brasil:

– Comercial de Ribeirão Preto (SP), Guarani (SP), Francana (SP), Internacional de Limeira (SP), Paulista de Jundiaí (SP), Taquaritinga (SP), União Barbarense (SP), Vocem de Assis (SP), XV de Piracicaba (SP), Goiás (GO), Uberaba (MG), Comercial de Campo Grande (MS), Mixto de Cuiabá (MT), União Rondonópolis (MT), Marcílio Dias (SC) e Atlético Paranaense (PR).

Milton Buzetto passou os últimos anos de vida em sua querida Piracicaba, em um sítio que não poderia ter outro nome: “RETRANCA”. O ex-treinador faleceu na mesma cidade, em 17 de setembro de 2018.

Milton Buzetto ofereceu seus serviços para um bom número de equipes pelo Brasil. Crédito: revista Placar – 7 de julho de 1978.

Milton Buzetto quando trabalhou no Goiás. Foto de Walter Soares. Crédito: revista Placar – 7 de julho de 1978.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por José Maria de Aquino, Jayro Rodrigues, José Pinto, Lemyr Martins, Maurício Cardoso, Michel Laurence, Ronaldo Kotscho e Walter Soares), revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, revista do Esporte, revista Futebol e Outros Esportes, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal da Tarde, acervo.estadao.com.br, campeoesdofutebol.com.br, juventus.com.br, palmeiras.com.br, xvpiracicaba.com.br, site do Milton Neves (por Raphael Cavaco).