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Uma publicação da Rio Gráfica e Editora S/A, o número 7 da revista Grandes Clubes Brasileiros chegou nas bancas de jornal em 1971. A edição retratou os momentos relevantes na história do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.

Na época, o jovem e promissor goleiro Jair ganhou uma página especial, ao lado dos grandes nomes da rica trajetória do clube gaúcho.

Além de um breve histórico da carreira, Jair foi fotografado em poses exclusivas; inclusive recebendo os cumprimentos do Presidente da República, o General Emílio Garrastazu Médici, um torcedor assumido do Grêmio!

No ano seguinte, em novembro de 1972, a revista Placar – edição 141 – ofereceu aos leitores uma reportagem especialmente dedicada ao goleiro, embora o momento fosse bem diferente daquele registrado em 1971.

O artigo, assinado por Divino Fonseca, não era propriamente uma confissão, mas revelou fatos e sentimentos sobre a má fase então vivida pelo guarda-metas gaúcho.

O goleiro Jair cumprimenta o Presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, torcedor do Grêmio. Crédito: revista Grandes Clubes Brasileiros número 7.

Equipe juvenil do Grêmio 1965/1966 – Em pé: Espinosa, Raupe, Jair, Beto, Adilson e Zeca. Agachados: Júlio Cesar, Salazar, Romualdo, Julinho e Ademir. Crédito valdirespinosa.zip.net.

Na sala de seu apartamento, Jair se manteve ao lado da esposa Jacira. Recordou os grandes feitos como titular do Grêmio e também os momentos difíceis que o levaram ao banco de reservas. Mas, afinal, o que se passava com Jair?

Fisicamente nada! Jair era um atleta responsável e com um ótimo preparo físico. A dor era outra. Desprovido de confiança em si mesmo, o goleiro pediu dispensa do elenco por tempo indeterminado.

Nascido em Novo Hamburgo (RS), no dia 15 de agosto de 1946, Jair Eraldo dos Santos também era conhecido como o filho do senhor Cachoeira, um ex-jogador do interior gaúcho.

Em sua juventude, o baixinho goleiro Jair (1;72 de altura) ganhou destaque nos torneios disputados entre os bairros da região.

Convidado para fazer um teste no Novo Hamburgo, o pai foi totalmente contra. Experiente, seu Cachoeira sempre dizia que o filho tinha que começar em um time grande. Já que era para sofrer, que o sofrimento valesse algo significativo!

Jair faz pose no Estádio Olímpico. Crédito: revista Grandes Clubes Brasileiros número 7.

Jair faz pose no Estádio Olímpico. Crédito: revista Grandes Clubes Brasileiros número 7.

Em 1964 Jair foi encaminhado ao juvenil do Grêmio por Aparício Viana. A oportunidade no time principal apareceu somente em 1970, durante uma excursão ao Ceará.

Algum tempo depois, a exigente imprensa esportiva gaúcha não poupou os erros de Jair em campo. Além disso, colocou em dúvida sua baixa estatura. Mas o problema da estatura não era nada comparado aos lances de pura infelicidade.

No campeonato nacional de 1971, o zagueiro Luís Pereira do Palmeiras foi afastar com força uma bola no meio de campo e marcou um verdadeiro “gol de placa” no azarado Jair.

28 de novembro de 1971 – Campeonato brasileiro – Palmeiras 3xGrêmio – Estádio do Pacaembu – Árbitro: Arnaldo Cézar Coelho – Gols: Luís Pereira aos 13’ do primeiro tempo; Flecha aos 8’, Héctor Silva aos 9’ e Fedato aos 45’ do segundo tempo.

Palmeiras: Leão, Eurico, Luís Pereira, Nélson e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu Bala (Fedato), Héctor Silva, César e Pio. Técnico: Brandão. Grêmio: Jair, Espinosa, Ancheta, Beto e Everaldo; Jadir e Gaspar; Flecha, Caio (Joãozinho), Selmar (Plein) e Loivo. Técnico: Otto Glória.

Luís Pereira foi o autor de um gol memorável no Pacaembu. Depois de uma dividida no círculo central, a bola ganhou altura e acabou encobrindo o goleiro Jair do Grêmio. Crédito: revista Veja.

Jair e a filha na sala de seu apartamento. Crédito: revista Placar – 24 de novembro de 1972.

Mas Jair continuou como titular e foi campeão da Taça do Atlântico em 1971, um triangular organizado pelo Grêmio com a participação do River Plate da Argentina e do Nacional do Uruguai.

Ainda em 1971, Jair foi considerado, pela mesma imprensa que o criticava, como o melhor goleiro do campeonato estadual. No ano seguinte, viveu sua melhor fase sob o comando do técnico Otto Glória.

Mas, bastaram cinco derrotas consecutivas para que o “Pinduca”, apelido de Jair junto aos companheiros, desenvolvesse uma espécie de complexo de culpa.

Naquele mesmo período, o Grêmio trouxe o experiente goleiro Picasso. Jair foi parar no banco de reservas e lá permaneceu por um bom tempo.

Se o momento no plantel do tricolor gaúcho não era dos melhores, pelo menos os negócios fora do futebol até que caminhavam muito bem!

Crédito: revista Placar – 24 de novembro de 1972 – Foto de Lemyr Martins.

Os negócios estavam de “vento em popa” até o dia 27 de outubro de 1974, quando o amigo e sócio Everaldo faleceu em um acidente automobilístico no interior gaúcho. Sem o apoio do amigo Everaldo, Jair vendeu o restaurante.

A ocorrência fatal com o automóvel Dodge Dart de Everaldo Marques da Silva aconteceu próximo da localidade de Cachoeira do Sul (RS).

No mesmo período, percebendo que não estava mais nos planos do Grêmio, Jair conversou com os diretores e recebeu o “Passe Livre”. Então, ainda em 1974, o goleiro foi jogar pelo Esporte Clube Bahia (BA), equipe que também defendeu na temporada de 1977.

No mês de abril de 1975 surgiu o interesse do Santa Cruz (PE), onde também continuou sofrendo com o mesmo problema de autoconfiança. Mesmo com a ótima campanha no campeonato brasileiro, o insucesso no campeonato pernambucano também estourou no pequeno goleiro gaúcho.

Em 1976 Jair reencontrou Picasso no Santa Cruz. Naquele ano, o quadro Coral faturou o campeonato estadual contando com três goleiros muito experientes: Jair, Picasso e Gilberto.

Crédito: revista Placar – 12 de dezembro de 1975.

Crédito: revista Placar – 23 de julho de 1976.

Ao deixar o cenário nordestino, Jair continuou sua trajetória pelo interior gaúcho até 1978, na Sociedade Esportiva e Recreativa Caxias do Sul (RS).

Jogar pelo Caxias foi um momento marcante na carreira de Jair, principalmente na recuperação de sua autoconfiança. Seu rendimento ganhou espaço nos jornais e representou novas oportunidades de reafirmação.

Contratado pelo Club de Regatas Vasco da Gama (RJ), Jair foi suplente de grandes goleiros, como Leão e Mazaropi. Encerrou sua carreira em 1982. Em seguida, incentivado pelo técnico Antônio Lopes, assumiu como treinador de goleiros.

Posteriormente foi para a Arábia Saudita, onde permaneceu até o ano de 1986. De volta ao Brasil firmou compromisso com o Vasco e ajudou o goleiro Acácio em sua trajetória no cruzmaltino.

Depois de cinco anos trabalhando no futebol do Catar, Jair voltou novamente ao Vasco da Gama em 2006, quando foi convidado para trabalhar como coordenador dos treinadores de goleiros.

Crédito: revista Placar – 23 de julho de 1976.

Jair foi parar no banco de reservas do Santa Cruz. Crédito: revista Placar – 8 de abril de 1977.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar, (por Divino Fonseca e Lenivaldo Aragão), revista Grandes Clubes Brasileiros, revista Veja, revista do Grêmio, revista Manchete Esportiva, gazetaesportiva.net, albumefigurinhas.no.comunidades.net, futebolgaucho.tumblr.com, site do Milton Neves, cacellain.com.br, campeoesdofutebol.com.br, valdirespinosa.zip.net, arquivocoral.com.br.