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Colaborou Francisco Michielin.

Considerado como um funcionário exemplar por seus superiores na Biblioteca do Estado, o rapazola da cidade de Montenegro sabia que o futebol poderia arruinar o sonho de um dia ser diplomado no curso de Direito.

Mas o destino fez com que seu futebol aplicado fosse rapidamente aproveitado no elenco principal do Grêmio em 1941. Mais tarde, Clarel revelou para a revista Esporte Ilustrado que nunca alimentou qualquer arrependimento pela escolha de prosseguir no mundo da bola.

Clarel Reynaldo Kauer nasceu no município de Montenegro (RS), em 13 de outubro de 1922. Jogava inicialmente pelo time do Colégio Rosário, antes de chegar bem recomendado aos quadros amadores do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense (RS) em 1939.

No início da década de 1940, o Grêmio precisava urgentemente arrumar o time, que necessitava de bons jogadores em várias posições, principalmente na zaga-central, em razão da aposentadoria do eficiente Luís Luz.

o zagueiro gaúcho foi apresentado em São Januário pelo montante de 500.000 cruzeiros. Crédito: revista O Globo Sportivo.

Em São Januário, Tesourinha cumprimenta Clarel ao lado de outro gaúcho, o atacante Cabano. Crédito: revista Esporte Ilustrado número 675 – 15 de março de 1951.

Dessa forma, a solução encontrada pela comissão técnica gremista foi o pronto aproveitamento do promissor Clarel, que não demorou muito para mostrar suas qualidades.

Com técnica refinada e muita disposição, Clarel dominava o jogo aéreo com uma enorme desenvoltura. Se categoria não lhe faltava, o jovem zagueiro também não tinha pudores para jogar duro quando necessário.

Contudo, o Grêmio daquele período era um time apenas limitado. Entre 1940 e 1955, o Internacional dominou o cenário gaúcho com certa facilidade, inclusive ficando conhecido como “Rolo Compressor”.

Nesse espaço de tempo, o Internacional faturou 13 “canecos”, apenas deixando escapar os campeonatos de 1946 e 1949 ganhos pelo Grêmio e o de 1954, conquistado pelo Renner.

E mesmo com o Grêmio adormecido em uma espécie de sono profundo, Clarel sempre foi considerado pela imprensa esportiva como uma unanimidade em sua posição.

Os gaúchos Clarel e Cabano. Crédito: revista Esporte Ilustrado número 675 – 15 de março de 1951.

Clarel chegou com muita moral ao Vasco da Gama. Crédito: revista Esporte Ilustrado número 675 – 15 de março de 1951.

Uma de suas grandes vitórias contra o Internacional aconteceu em 13 de agosto de 1944, no chamado “Grenal da Virada”, quando o Grêmio perdia no primeiro tempo por 3×0 e depois estabeleceu uma virada espetacular por 4×3.

Após vencer o “gauchão” de 1949, o Grêmio realizou uma excursão invicta pelos gramados da América Central. Ainda em 1949, no mês de maio, o Grêmio derrotou o poderoso Nacional de Montevidéu por 3×1 no Estádio Centenário.

Pouco depois, alguns jogadores gaúchos foram lembrados na preparação do escrete nacional para o mundial de 1950. Foram eles: Clarel, Geada, Sérgio Moacir, Nena, Adãozinho e Tesourinha; além de Juvenal Amarijo do Flamengo e Chico do Vasco da Gama.

Vivendo uma grande fase, Clarel logo despertou o interesse de vários clubes do centro do país. Assim, no início do mês de março de 1951, o zagueiro gaúcho foi apresentado em São Januário pelo montante de 500.000 cruzeiros.

Clarel já era figura conhecida do público carioca desde 15 de novembro de 1950, quando o Grêmio venceu o Flamengo por 3×1, no primeiro triunfo gremista no gramado do Maracanã.

Clarel não ficou por muito tempo nas fileiras do Vasco da Gama! Crédito: revista O Globo Sportivo número 651 – 4 de agosto de 1951.

O Vasco da Gama pronto para mais uma batalha no Maracanã. Em pé: Eli do Amparo, Barbosa, Danilo, Augusto, Clarel e Alfredo. Agachados: Tesourinha, Ademir, Friaça, Maneca, Djair e o massagista Mário Américo. Crédito: revista Esporte Ilustrado número 682 – 3 de maio de 1951.

Em sua apresentação no Vasco da Gama, Clarel achou graça quando seus novos companheiros revelaram um certo espanto pela grande semelhança entre Clarel e Chico.

Um tanto incomodado pela alta temperatura do Rio de Janeiro, Clarel fez sua primeira participação diante do São Paulo. No decorrer do certame, o zagueiro participou de 17 dos 20 compromissos disputados pelo quadro cruzmaltino.

Clarel era o dono absoluto da posição na formação cruzmaltina que contava com Barbosa; Augusto e Clarel; Eli do Amparo, Danilo e Alfredo (Jorge); Tesourinha, Maneca, Edmur, Ipojucan e Friaça.

Com graves contusões em Ademir e Chico, o time acusava a ausência da valiosa dupla; mas ainda assim tinha cacife suficiente para chegar ao tricampeonato na temporada de 1951.

Todavia, a campanha vascaína foi um inesperado fracasso. O Fluminense, com um time sem grandes estrelas – exceto por Castilho e Didi – levantou o caneco de 1951 em uma decisão-extra diante do Bangu, com dois triunfos por 1×0 e 2×0 respectivamente!

Vasco da Gama 3×1 Santos no Maracanã, jogo válido pelo Torneio Rio-São Paulo. Crédito: revista Esporte Ilustrado número 728 – 20 de março de 1952.

Outro momento da vitória do Vasco da Gama sobre o Santos por 3×1 no Maracanã, jogo válido pelo Torneio Rio-São Paulo. Crédito: revista Esporte Ilustrado número 728 – 20 de março de 1952.

Ainda com a camisa do Vasco da Gama, o zagueiro Clarel novamente levou vantagem contra os uruguaios no dia 8 de abril de 1951.

Foi no chamado “Jogo da Vingança” frente ao Peñarol no Estádio Centenário, quando anulou o sempre perigoso atacante Miguez. O quadro carioca venceu pelo placar de 3×0.

Clarel manteve sua escrita pessoal contra os uruguaios nas vitórias por 2×0 contra o mesmo Penãrol em 22 de abril de 1951 e depois; em 8 de julho de 1951, quando o Vasco da Gama bateu o Nacional por 2×0 no mesmo Maracanã.

Em 1952, Clarel ainda disputou alguns compromissos pelo Torneio Rio-São Paulo antes de deixar São Januário. Mesmo com elogios da crítica carioca, Clarel optou por voltar ao Grêmio, equipe onde encerrou sua caminhada no findar de 1953.

Ao todo, Clarel participou de 37 clássicos do “Grenal”. Venceu 6, empatou 10 e perdeu 21 confrontos. Clarel Reynaldo Kauer faleceu em Porto Alegre (RS), no dia 29 de janeiro de 1993.

O trio final do Vasco da Gama com Barbosa (em pé), Augusto e Clarel. Crédito: revista O Globo Sportivo número 668.

Geada e Clarel antes do duelo entre Floriano e Grêmio em 1953. Crédito: futebolgaucho.tumblr.com.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Albino Castro Filho), revista do Grêmio, revista Esporte Ilustrado (por Charles Guimarães), revista Grandes Clubes Brasileiros, revista O Cruzeiro, revista O Globo Sportivo (por Indaiassú Leite e José Luíz Pinto), Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, cacellain.com.br, campeoesdofutebol.com.br, Francisco Michielin, futebolgaucho.tumblr.com, gremio.net, vasco.com.br.