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Ao completar os 33 anos de idade, Perácio até pensou em continuar jogando por mais algum tempo, talvez até no disputado cenário paulista!

No entanto, a dura rotina do mundo da bola perdeu espaço nos apelos familiares e na pouca disposição em entrar em forma novamente.

O novo trabalho como Chofer de Praça era um sonho de adolescência, tempos em que ainda não imaginava que um dia teria recursos suficientes para comprar o seu tão desejado automóvel.

Se na nova ocupação ao volante dinheiro não lhe faltava, o vazio deixado pelas coisas do futebol era preenchido nas rodas de prosa com os novos colegas de profissão, quando Perácio discutia em altos brados os últimos acontecimentos do querido esporte bretão.

José Perácio Berjun nasceu no município de Nova Lima (MG), em 2 de novembro de 1917. Sua caminhada esportiva foi iniciada em 1932, nas fileiras amadoras do Villa Nova Atlético Clube (MG).

Depois da bola, Perácio decidiu trabalhar como Chofer de Praça e ganhou mais tempo ao lado da família. Foto de Ângelo Gomes. Crédito: revista O Globo Sportivo número 636.

Rapidamente aproveitado no elenco principal do Villa Nova, Perácio participou do grande esquadrão que faturou o tricampeonato mineiro em 1933, 1934 e 1935.

De acordo com reportagem especial publicada nas páginas de O Globo Sportivo, o primeiro clube interessado no concurso de Perácio foi o Fluminense, que em 1937 chegou na frente das investidas do Botafogo e do Palestra Itália (atual Palmeiras).

Com o destino bem encaminhado, mas nada oficialmente assinado, o promissor jogador mineiro permaneceu por algum tempo nas Laranjeiras, até sumir do mapa sem maiores explicações!

Só foi aparecer alguns dias depois no centro da cidade de São Paulo, com uma considerável bagagem e planos bem desenhados para vencer com a camisa do Palestra Itália.

Contudo, no time do Parque Antártica, Perácio também não recebeu a atenção que tanto esperava. Sem qualquer vínculo acertado ou mesmo em andamento, Perácio saiu de fininho e voltou correndo ao mesmo Villa Nova.

Craques do escrete. Partindo da esquerda; Romeu Pellicciari, Leônidas da Silva, Perácio e Carreiro. Crédito: Seleção Brasileira 1914–2006 – Antônio Carlos Napoleão e Roberto Assaf – Mauad Editora.

Em pé: Biguá, Domingos da Guia, Jurandyr, Newton Canegal, Quirino e Jayme. Agachados: Zizinho, Nilo, Sylvio Pirillo, Perácio e Vevé. Crédito: revista Placar – 50 times do Flamengo.

Mas os homens do time da “Estrela Solitária” não estavam dispostos em ficar sem o vistoso futebol de Perácio para os compromissos da temporada de 1937.

Em uma investida considerada arrojada, os cartolas botafoguenses finalmente concretizaram o desejo de contar com o habilidoso meia-esquerda do alvirrubro de Nova Lima.

Jogando pelo Botafogo, Perácio foi convocado para disputar o mundial de 1938, oportunidade em que foi um dos destaques do quadro nacional na memorável campanha realizada nos gramados da França.

Todavia, conforme reportagem publicada no Globo Sportivo de 18 de setembro de 1942, o ótimo desempenho de Perácio na Copa do Mundo de 1938 custou alguns dissabores posteriores.

Diante da explosão de popularidade, o futebol de Perácio caiu de rendimento, o que para alguns críticos era o fruto direto dos mimos que recebia dos dirigentes do Botafogo.

Partindo da esquerda; Perácio, Sylvio Pirillo e Zizinho. Crédito: reprodução revista Esporte Ilustrado número 308 – 2 de março de 1944.

Uma das formações ofensivas do Flamengo em 1944. Partindo da esquerda: Nilo, Zizinho, Tião, Perácio, e Vevé. Crédito: revista Esporte Ilustrado número 314 – 13 de abril de 1944.

O fim de sua trajetória em General Severiano foi decretado pela caneta pesada do presidente João Lyra Filho, que no calor do chumbo trocado disparou que o jogador parecia ter maior interesse em automóveis do que nos compromissos do Botafogo.

Para piorar o quadro de total discórdia, o mandatário botafoguense já estava bem farto dos atrasos constantes de Perácio aos treinamentos, com suas justificativas fantasiosas e infundadas.

De contrato rescindido e acompanhado do rótulo de indisciplinado, em maio de 1941 Perácio foi defender o Canto do Rio Foot-Ball Club, uma verdadeira “pechincha” para o simpático quadro de Niterói.

Ao término da passagem pelo modesto Canto do Rio, Perácio foi sondado pelos dirigentes do América, que naquele momento procurava atravessar o iminente interesse do Flamengo.

Enquanto os dirigentes do Rubro Negro tentavam formalizar o acerto sobre os direitos federativos de Perácio, o jogador disputou uma partida amistosa pelo América.

Perácio foi um dos valentes “pracinhas” da Força Expedicionária Brasileira que combateram na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Crédito: revista O Globo Sportivo número 659 – 2 de setembro de 1951.

Perácio aparece ao lado de Jaime de Carvalho, o fundador da “Charanga Rubro-Negra”, a primeira torcida organizada do Flamengo. Crédito: revista Placar – 20 de janeiro de 1978.

Com o negócio devidamente firmado com o Flamengo, Perácio chegou um tanto desacreditado na Gávea, embora o exigente treinador Flávio Costa fosse um admirador declarado dos fortes petardos do meia-atacante mineiro.

Pelo Flamengo, Perácio viveu seu momento mais produtivo. Sua participação foi importante na conquista do tricampeonato carioca nas edições de 1942, 1943 e 1944.

Ainda em 1944, Perácio precisou paralisar sua caminhada para servir na Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Perácio jogou pelo Flamengo até 1947 e depois encerrou a carreira no Canto do Rio.

Pelo Flamengo foram 119 jogos com 71 vitórias, 25 empates, 23 derrotas e 98 gols marcados. Os números foram publicados pelo Almanaque do Flamengo, dos autores Clóvis Martins e Roberto Assaf.

José Perácio Berjun faleceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 10 de março de 1977.

Perácio foi um dos importantes destaques no tricampeonato do Flamengo nas edições de 1942, 1943 e 1944. Crédito: revista Esporte Ilustrado número 440 – 12 de setembro de 1946.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Fausto Neto, José Maria de Aquino, Marcelo Rezende e Maurício Cardoso), revista Esporte Ilustrado, revista Grandes Clubes Brasileiros, revista O Cruzeiro, revista O Globo Sportivo (por Ângelo Gomes e Geraldo Romualdo da Silva), Jornal dos Sports, Jornal O Globo, acervo.oglobo.globo.com, botafogo.com.br, campeoesdofutebol.com.br, cantodoriofc.com.br, flamengo.com.br, site do Milton Neves (por Marcelo Rozenberg), Almanaque do Flamengo – Clóvis Martins e Roberto Assaf, Livro: Seleção Brasileira 1914–2006 – Antônio Carlos Napoleão e Roberto Assaf – Mauad Editora.

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