Era sempre a mesma cantilena! Quando enormes pilhas de louça suja chegavam ao teto e a fila do caixa estava quase por sair da padaria, o bom e velho Albella procurava desesperadamente pelo filho.
Enquanto isso, nos fundos do estabelecimento, o avental do garoto repousava apoiado em uma cadeira. Mais uma vez, o danado do jogo de bola tinha levado o “Gustavinho” para longe de suas obrigações.
Mas, diferente do que o leitor possa imaginar, esse tal jogo de bola não era nos gramados. Gustavinho e seus amiguinhos gostavam de jogar basquetebol, ainda que o menino fosse baixinho.
O argentino Gustavo Albella nasceu na localidade de Alta Grácia, província de Córdoba, em 22 de agosto de 1925.
Depois dos primeiros desencantos com o esporte da “cestinha”, Gustavo Albella iniciou sua trajetória no mundo do futebol nos primeiros anos da década de 1940, como centro-médio do Sportivo Alta Grácia.
E naquela faixa do gramado, Gustavo Albella era criticado por prender o couro em demasia, além dos enormes buracos causados pelas falhas de cobertura e marcação.
Convencido de que jogava na posição errada, Gustavo Albella foi aproveitado na meia-direita e foi muito bem. Em seguida, o rapazola defendeu o 25 de Mayo e o Colón por um curto período.
Em 1944 chegou ao Club Atlético Talleres. Assinou um compromisso com ganhos diminutos e encontrou sua verdadeira vocação no comando do ataque.
Rapidamente, seu futebol vistoso despertou o pronto interesse dos dirigentes do Club Atlético Boca Juniors, que não pouparam qualquer esforço para contar com o jovem atacante na “Bombonera”.
Jogou inicialmente pelo quadro de Aspirantes e fez suas primeiras partidas no time principal em razão da contusão de Jaime Sarlanga.
Com a venda da padaria, a família Albella mudou para Buenos Aires. Contudo, o serviço militar obrigatório prejudicou sua efetivação no Boca Juniors.
Negociado em agosto de 1945 com o Club Atlético Banfield, o promissor Gustavo Albella disputou o campeonato da segunda divisão em 1946, quando marcou incríveis 35 gols em 28 partidas disputadas.
Jogando pelo Banfield, Gustavo Albella fez parte da memorável linha ofensiva que encantou os torcedores: Converti, Sanchez, Gustavo Albella, Moreno e Huarte.
Seu melhor momento aconteceu na temporada de 1951, quando o destemido Banfield chegou ao vice-campeonato argentino.
Durante uma excursão do Banfield aos gramados da América Central, Gustavo Albella recebeu um telefonema internacional que o deixou assustado. Seria alguma notícia funesta?
Era o presidente do clube, que na oportunidade queria saber se Gustavo Albella aceitaria jogar no futebol brasileiro, já que o companheiro Moreno também fazia parte dos planos do São Paulo Futebol Clube.
Conforme reportagem do jornalista Solange Bibas nas páginas do Jornal Mundo Esportivo em agosto de 1952, outros clubes também estavam interessados nos gols de Gustavo Albella.
O Boca Juniors o queria de volta. Além disso, o Racing Club também entrou na parada oferecendo uma quantia atrativa. Todavia, o São Paulo trabalhou bem nos bastidores e superou seus concorrentes.
Assim, Gustavo Albella e Moreno acabaram firmando um bom acordo financeiro com o tricolor paulista. Assim, os jogadores argentinos foram bem recebidos na capital paulista no início do mês de março de 1952.
No São Paulo, Gustavo Albella viveu uma verdadeira “montanha russa”. Criticado em algumas partidas, o atacante argentino sofreu muito em seu período inicial de adaptação!
Com o apelido de “El Atômico”, Gustavo Albella foi aproveitado pela meia-direita, já que Gino Orlando vivia um momento especial no comando do ataque.
Campeão paulista de 1953, Gustavo Albella permaneceu nas fileiras do tricolor até fevereiro de 1954. Ao todo, foram 81 participações com 47 gols marcados.
Sua passagem pelo São Paulo é sempre lembrada por sua grande dedicação e determinação para colocar o couro no fundo das redes!
Depois, Gustavo Albella voltou ao mesmo Banfield para entrar definitivamente nos livros de história. É o maior artilheiro da história do clube com 136 gols.
Em 1957 firmou seu último contrato com o Club de Deportes Green Cross do Chile. Permaneceu no cenário chileno até 1961, ano em que também encerrou sua rica trajetória nos gramados. Gustavo Albella faleceu em 13 de junho de 2000.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar, revista El Gráfico, revista Esporte Ilustrado, revista Estádio, revista Mundo Deportivo, revista Tricolor, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal Mundo Esportivo (por Solange Bibas), campeoesdofutebol.com.br, saopaulofc.net.