Tags
artilheiro do campeonato carioca de 1945, campeão carioca de 1945, Estádio Conselheiro Galvão, Lelé Vasco da Gama e Madureira, Manuel Pessanha
Corria o movimentado ano de 1964. Em uma das edições da conceituada revista “A Gazeta Esportiva Ilustrada”, o repórter Armando de Castro voltou no tempo para lembrar o que muitos reputaram como um verdadeiro desatino cometido pelos dirigentes do Vasco.
Que os três meninos do Madureira tinham lá o seu valor, ninguém seria capaz de dizer o contrário! Mas desembolsar o montante de 80 mil cruzeiros? Onde vamos parar com essa moda de patetas?
A essa altura em 1964, o meia-atacante que ficou conhecido pelo apelido de Lelé já estava distante do mundo da bola, embora a memorável trajetória dos “Três Patetas” do Madureira ainda tocasse fundo em um cantinho do seu coração!
Lelé contava então com 46 anos de idade e era um apaixonado pela cidade de Campinas (SP). Ao deixar as fileiras da Ponte Preta, o ex-jogador ganhava o sustento trabalhando no setor alfandegário do Aeroporto de Viracopos.
Famoso pelos “petardos” de perna direita, Manuel Pessanha, o Lelé, nasceu no município de Campos dos Goytacazes (RJ), em 23 de fevereiro de 1918. (*) Algumas fontes encontradas apontam seu nascimento no mês de março.
De acordo com reportagem publicada na revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, o jovem Lelé começou no Americano Futebol Clube de Campos dos Goytacazes (RJ), até ser bem recomendado ao Madureira, o famoso “Tricolor Suburbano”.
Lelé ganhou destaque rapidamente ao lado dos companheiros Isaías e Jair Rosa Pinto, justamente no período em que o seriado do trio de humoristas conhecido como “Os Três Patetas” fazia um enorme sucesso nas telas de cinema!
Naqueles tempos, o surpreendente time do Madureira também ganhava espaço nas manchetes esportivas, principalmente pelo desempenho de seu emergente trio ofensivo! Assim, logo foi estabelecido a pronta identificação com o referido seriado norte-americano.
Entre tantas jornadas marcantes vestindo a bonita camisa do Madureira, Lelé participou da partida inaugural do Estádio Aniceto Moscoso, também conhecido como “Conselheiro Galvão”.
A nova praça esportiva ainda cheirava tinta fresca na tarde em que abrigou mais de dez mil pagantes, sem contar com uma verdadeira multidão espremida pelos arredores da Rua Conselheiro Galvão.
Nas páginas da revista Esporte Ilustrado de 26 de junho de 1941, os detalhes do esperado confronto entre Madureira e Fluminense foram apresentados com uma esmerada riqueza de detalhes.
Em tarde de alegria e festa, o Madureira saiu perdendo e acabou superado pelo quadro das Laranjeiras na primeira etapa, com um gol marcado pelo atacante Rongo.
No segundo período da contenda, o time suburbano, que na oportunidade usava camisas brancas, logo pulou na frente do marcador e aplicou uma sensacional virada por 4×2 no Fluminense. Abaixo, os registros da referida partida:
15 de junho de 1941 – Campeonato carioca – Primeiro turno – Madureira 4×2 Fluminense – Estádio Conselheiro Galvão – Árbitro: José Ferreira Lemos – Gols: Isaías (2), Oséas e Jorginho para o Madureira; Rongo (2) para o Fluminense.
Madureira: Alfredo; Benedito e Ápio; Otacílio, Jair II e Alcides; Jorginho, Lelé, Isaías, Jair Rosa Pinto e Oséas. Fluminense: Maia; Moisés e Machado; Bioró, Spinelli e Afonsinho; Pedro Amorim, Pedro Nunes, Rongo, Tim e Hércules.
Mas esse memorável triunfo do Madureira sobre o Fluminense não foi o único na espetacular caminhada dos “Três Patetas”, enquanto defenderam o simpático Tricolor Suburbano.
No campeonato carioca de 1942, o valente Madureira ofereceu aos torcedores outra apresentação de “gala”, ao golear o badalado Vasco da Gama com relativa facilidade pela contagem de 5×1.
Em uma época dominada por conquistas do Flamengo e do Fluminense, o Vasco da Gama vivia um incômodo jejum de títulos. No findar de 1942, os “cartolas” do cruzmaltino levaram em um pacote único os “Três Patetas” do Madureira.
E a paciência dos dirigentes do Vasco foi premiada em 1945, quando o time de São Januário conquistou o título de campeão carioca invicto, com Lelé como o artilheiro da competição com 15 gols marcados.
Apelidado de “Canhão da Colina”, Lelé foi homenageado no carnaval de 1946, quando seu nome fez parte da letra da marchinha – No Boteco do José – dos autores Wilson Batista e Augusto Garcez, interpretado na voz de Linda Batista.
Pelo Vasco da Gama, Lelé também foi campeão carioca de 1947. Faturou ainda o campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões em 1948, o Torneio Relâmpago de 1944 e 1946, o Torneio Municipal de 1944, 1945, 1946 e 1947, sem esquecer do Torneio Início de 1944 e 1945.
Além de várias participações no selecionado carioca, Lelé esteve em campo em três compromissos pela Seleção Brasileira. Foram duas vitórias contra o Uruguai em 1944 e uma derrota por 4×3 para a Argentina em 1945.
Um dos maiores artilheiros da história do Vasco com 147 gols, Lelé deixou São Januário em 1948 ao ser transferido para o São Paulo Futebol Clube. No tricolor, Lelé participou do elenco que conquistou o bicampeonato paulista em 1949.
Em 1950 firmou compromisso com a Ponte Preta da cidade de Campinas (SP). Continuou no quadro campineiro até o final da temporada de 1952, inclusive colaborando no papel de treinador por alguns meses.
Algumas fontes registram também uma rápida passagem pelo Clube de Regatas do Flamengo (RJ) em 1948. Manuel Pessanha faleceu em Campinas (SP) no dia 16 de agosto de 2003.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Alfredo Ogawa, Mílton Costa Carvalho e Teixeira Heizer), revista A Gazeta Esportiva Ilustrada (por Armando de Castro), revista Esporte Ilustrado (por Alberto Ferreira, Fernando Jacques, Gagliano Neto, Leunam Leite, Levy Kleiman, Luís Mendes, Mário Gabriel e Véritas Junior), revista Grandes Clubes Brasileiros, revista O Cruzeiro, revista O Globo Sportivo, Jornal A Noite, Jornal dos Sports, Jornal Mundo Esportivo, acervo.oglobo.globo.com, campeoesdofutebol.com.br, madureiraec.com.br, vasco.com.br.