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Filho de Artur Pereira e Maria da Penha Pereira, Waldir Pereira, ou Valdir Pereira como encontrado em algumas publicações, nasceu no dia 8 de outubro de 1929 em um pequeno sobrado da Rua Aquidabã, em Campos (RJ).

A rua, uma passagem de chão batido, todo final de tarde era transformada em um pequeno campo de peladas. Foi então que dona Maria da Penha percebeu que o filho estava jogando entre os marmanjos.

E não tardou para Waldir chegar em casa todo machucado. Os amigos, que chamavam Waldir de “Didi”, logo perceberam que os machucados estavam piorando.

Em pouco tempo, o pequeno Didi virou uma espécie de “paciente hospitalar” da avó Creusolina, que curava os machucados do neto com muita reza e óleo de rim de carneiro.

Não fosse o tratamento da avó Creusolina, a perna de Didi corria o risco de ser amputada. O certo é que algum tempo depois, o menino voltou a andar, mesmo que amparado por muletas.

Crédito: revista Esporte Ilustrado. Número 629 – 27 de abril de 1950.

Quando ficou bom de vez, Didi apresentava a perna direita um centímetro mais curta que a esquerda, o que o fazia usar chuteiras com numerações diferentes.

Em 1944 o pai de Didi matriculou o filho no Colégio Aprendiz Artífice. Os elogios da escola vinham mais em razão do futebol do que propriamente pelas notas obtidas nas matérias.

Com o passar do tempo, Didi começou a jogar pelo Industrial, um time formado no bairro da Lapa e sustentado por uma fábrica de tecidos.

Depois disso perambulou por várias equipes. Primeiramente pelo juvenil do São Cristóvão e depois encarou uma verdadeira aventura, quando esteve no interior paulista para jogar pelo Lençoense.

No entanto, antes de viajar para São Paulo, o jovem já tinha assinado um pré-contrato com o Clube Esportivo Rio Branco da cidade de Campos, o que o fez voltar ao Rio de Janeiro.

Crédito: revista O Globo Sportivo número 627.

Após esse período no Rio Branco, Didi jogou algumas partidas pelo Americano Futebol Clube de Campos, até ser levado em 1947 ao Madureira Esporte Clube por um olheiro chamado Benedito Rosa.

E foi no Madureira que Didi desencantou de vez. Quando Jair Rosa Pinto foi vendido para o Vasco, Didi foi promovido ao time titular e disputou um excelente campeonato carioca em 1948.

No findar de 1949, recém-casado com Maria Luíza e esperando o filho Adilson, Didi foi negociado com o Fluminense Football Club, que desembolsou 500.000 cruzeiros velhos pelo seu passe.

Em 1950 Didi participou do selecionado carioca de novos que inaugurou o Estádio do Maracanã. Foi o autor do primeiro gol do então “Maior do Mundo”, na partida que foi vencida pelo quadro paulista por 3×1.

Jogando pelo Tricolor das Laranjeiras, Didi conheceu triunfos e também suas primeiras dificuldades. O técnico Zezé Moreira não gostava de seu futebol cadenciado e o achava displicente.

Campeão da Copa Rio de 1952, Didi recebeu do jornalista Nelson Rodrigues o apelido de “Príncipe Etíope”. Crédito: revista O Globo Sportivo – 7 de junho de 1952.

Mesmo assim, Didi ficou no time e foi campeão carioca de 1951. Naquele ano separou-se de Maria Luíza, o que mais tarde lhe trouxe muitos dissabores.

O ano de 1952 trouxe o título da segunda Copa Rio e também suas primeiras participações na Seleção Brasileira, na conquista do Pan-Americano do Chile.

A essa altura, Didi já era considerado o sucessor do mestre Zizinho. O escritor e jornalista Nelson Rodrigues o apelidou de “Príncipe Etíope”, por sua classe em campo.

Convocado para o mundial de 1954, Didi conquistou o reconhecimento da crítica esportiva internacional. Mesmo com o fracasso do escrete frente aos húngaros, o meio campista do Fluminense voltou da Suíça com fama de craque.

Dotado de um senso de improviso incomum, Didi era capaz de jogar machucado sem que isso fosse facilmente notado.

Crédito: revista Esporte Ilustrado número 778 – 5 de março de 1953.

Garrincha e Didi. Crédito: revista do Esporte.

Antes de uma partida contra o América pelo campeonato carioca, Didi sentia uma lesão no peito do pé e quase ficou fora do jogo.

Ao cobrar uma falta, Didi bateu no meio da bola usando apenas três dedos para não magoar o pé. A bola subiu e transpôs a barreira para cair subitamente. Estava assim criada a “Folha-Seca”!

Se o mundo da bola reverenciava Didi, no Fluminense ele ainda continuava com fama de “displicente”, tanto que para renovar o contrato lhe ofereciam apenas migalhas.

Os problemas familiares com o pagamento de pensão alimentícia eram um tormento. Os diretores do Fluminense, cansados das constantes problemáticas, resolveram colocar seu passe em disponibilidade.

E pediram alto: Dois milhões de cruzeiros antigos. O Botafogo de Futebol e Regatas pagou o preço e no dia 23 de abril de 1956 o jogador foi apresentado no time da “Estrela Solitária”.

Crédito: revista A Gazeta Esportiva Ilustrada número 111.

Se os dias de 1956 não foram lá essas coisas, o ano de 1957 trouxe muitas alegrias na carreira do craque.

A final do campeonato carioca da temporada aconteceu justamente contra o Fluminense.

E Didi comandou os craques do Botafogo na impiedosa goleada por 6×2, com direito ao show particular de Paulinho Valentim. Nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1958, Didi classificou o Brasil ao fazer o famoso gol “Folha Seca”, contra o Peru no Maracanã.

Com o prestígio em alta o craque adoeceu durante uma excursão pela América do Sul. Saldanha, um admirador declarado, não mediu esforços para o bem estar de Didi e da atriz Guiomar Batista, sua nova companheira.

A diretoria do Botafogo fazia questão de não descontar o valor da preocupante “pensão alimentícia”, que drenava o salário do jogador em sua época de Fluminense.

Crédito: revista Manchete Esportiva número 186 – Rio de Janeiro, primeira quinzena de julho de 1959.

Além disso, quando o Valência da Espanha tentou comprar seu passe de qualquer maneira, o Botafogo reajustou seu salário. O filósofo da bola Neném Prancha, descrevia assim o estiloso craque botafoguense:

– “Quem o vê (Didi) andando pela rua, mesmo sem saber quem ele é, diz logo: Esse crioulo é algum cara muito importante”.

E foi no mundial da Suécia, antes do confronto contra País de Gales, que surgiu uma famosa frase de Didi. Moacir do Flamengo estava arrebentando nos treinos e sabe-se lá em qual momento, Didi foi categórico ao dizer: “Treino é treino e jogo é jogo”.

Ainda durante a disputa da Copa do Mundo, o Real Madrid de Di Stéfano, Puskas e Gento já estava de olho fixo no futebol de Didi.

Confirmando o apogeu na exibição de gala contra os franceses, o cognome atribuído a Didi diz tudo: “Monsieur Football”. Agora era hora de pensar na final contra os donos da casa.

Crédito: revista Manchete Esportiva.

Na final da Copa do Mundo de 1958, os suecos marcaram o primeiro gol logo no início do jogo, em um chute rasteiro de Liedholm, que foi de encontro ao canto direito do goleiro Gylmar.

O capitão Bellini caminhou até nossa baliza e retirou o couro das malhas, entregando nas mãos de Didi.

Naquele instante, com passadas calmas e serenas, Didi foi em direção ao circulo central com a bola nas mãos. Era uma energia mágica que refletia um recado claro:

– Gente, isso não foi nada!

No regresso da campanha vitoriosa da Suécia, o Botafogo já não tinha como resistir aos apelos milionários do futebol europeu. Em julho de 1959 o astro do Botafogo rumou para o time de Santiago Bernabéu.

Crédito: revista do Esporte número 170 – 9 de junho de 1962.

Porém, no Real Madrid, Didi não conseguia se soltar. Parecia preso, distante… Enquanto isso, Dona Guiomar sentia falta do Rio de Janeiro e estava triste por saber que Didi também estava triste.

Alfredo Di Stéfano, que se sentia o dono do Real Madrid, soltava na imprensa declarações pesadas sobre o futebol de Didi:

– Na Espanha, jogador de meio campo não pode ficar muito tempo com a bola nos pés!

Assim, Didi amargava o banco de reservas e sonhava com sua volta ao Botafogo. Viveu dias amargos e sofria calado ao lado da esposa e dos amigos que fez na Espanha.

Em 1960, a bordo de um avião Constellation da antiga empresa Panair, Didi desembarcou novamente no Rio de Janeiro para vestir a camisa do Botafogo.

Didi treinou o selecionado peruano na Copa de 1970. Crédito: revista Placar.

Foto de Sebastião Marinho. Crédito: revista Placar – 14 de janeiro de 1972.

Bicampeão carioca de 1961 e 1962 e campeão do Torneio Rio–São Paulo 1962, Didi também foi bicampeão do mundo no Chile pela Seleção Brasileira. Foi uma boa resposta para Di Stéfano!

Pelo Botafogo foram 313 partidas disputadas e 114 gols marcados, antes de jogar pelo Club Sporting Cristal do Peru.

Voltou ao futebol brasileiro em 1966 para defender o São Paulo Futebol Clube. Foram apenas 4 partidas com 1 vitória e 3 derrotas. Os números foram publicados pelo Almanaque do São Paulo, do autor Alexandre da Costa.

Depois de deixar os gramados, Didi foi treinador e comandou o Cruzeiro (MG), Bangu (RJ), Botafogo (RJ), Fluminense (RJ), Alianza Lima e Sporting Cristal (Peru), Fenerbahce (Turquia), River Plate (Argentina), Al-Ahli (Arábia Saudita), além da seleção peruana na Copa do Mundo de 1970.

Didi faleceu no dia 12 de maio de 2001, no Hospital Pedro Ernesto no Rio de Janeiro, dois dias após sofrer procedimentos cirúrgicos para retirar parte do intestino e da vesícula.

Foto de Rodolpho Machado. Crédito: revista Placar – 10 de outubro de 1975.

Foto de Rodolpho Machado. Crédito: revista Placar – 30 de dezembro de 1977.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Fausto Neto, Luíz Augusto Chabassus, Paulo Vinícius Coelho, Pedro Uzquiza, Péris Ribeiro, Raul Quadros, Rodolpho Machado e Sebastião Marinho), revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, revista do Esporte, revista El Gráfico, revista Esporte Ilustrado, revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Cruzeiro, revista O Globo Sportivo (por José Luíz Pinto), Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, campeoesdofutebol.com.br, cacellain.com.br, globoesporte.globo.com, site do Milton Neves (por Rogério Micheletti), Almanaque do São Paulo – Alexandre da Costa, Livro: Didi – O Gênio da Folha Seca – Péris Ribeiro – Editora GRYPHUS.