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Alguns torcedores mais fanáticos do “Bugre” afirmavam sem pestanejar que Flamarion e Washington não deviam absolutamente nada ao futebol praticado por Dudu e Ademir da Guia; ou ainda por Clodoaldo e Pelé.

Com a devida prudência nas comparações, o certo é que Flamarion escreveu seu nome no Brinco de Ouro. Até hoje é lembrado como um dos grandes craques da safra que antecedeu os campeões brasileiros de 1978.

O meio-campista Washington Luíz de Paula também foi um dos grandes valores daquela geração, inclusive sendo apontado como o legítimo sucessor do “Rei do Futebol”.

Contudo, o rápido sucesso de Washington foi perdendo espaço e caiu no quase absoluto esquecimento. Depois de algum tempo, pouco se ouvia falar nesse habilidoso jogador que também passou pelo Corinthians!

Descendente de italianos, Flamarion Nunes Tomazoli nasceu no município de Ouro Fino (MG), em 26 de agosto de 1951.

Mineiro de Ouro Fino, Flamarion cresceu respirando futebol. Foto de Manoel Motta. Crédito: revista Placar – 20 de julho de 1973.

Inicialmente, o jovem de Ouro Fino jogava como médio-volante no time do Sete de Setembro, por duas vezes campeão Sul-Mineiro no início da década de 1960.

O treinador do Sete de Setembro era seu Osmar, o pai de Flamarion, que ainda contava com os irmãos Acácio como lateral-direito e Escurinho na posição de meia-armador.

Em meados de 1966, o treinador Godê gostou das qualidades que encontrou em Flamarion. Depois de conversar com seu Osmar, Godê prontamente levou Flamarion aos quadros amadores do Guarani Futebol Clube de Campinas (SP).

Seu aproveitamento entre os profissionais do “Bugre” aconteceu em 1968, o ano da famosa “marmelada” documentada entre Guarani e Palmeiras.

De acordo com artigos jornalísticos publicados na época, naquela oportunidade o Guarani colocou em campo jogadores que não contavam com o devido registro na Federação Paulista de Futebol.

Preso ao rigor dos esquemas táticos, Flamarion sentia saudade da liberdade que tinha nos tempos do Sete de Setembro. Foto de Manoel Motta. Crédito: revista Placar – 20 de julho de 1973.

Médio-volante de técnica muito refinada, Flamarion gostava de liberdade para armar jogadas e surpreender os sistemas defensivos, principalmente quando aparecia de surpresa nas manobras de ataque do “Bugre”. Crédito: revista Placar – 13 de dezembro de 1974.

Um deles foi Flamarion, que entrou no decorrer da partida e fez ultrapassar o limite de jogadores amadores permitidos. Com isso o Guarani perdeu os pontos no T.J.D (Tribunal de Justiça Desportiva).

A arquitetura dessa “manobra” foi disparada por um resultado inesperado do Palmeiras frente ao Comercial de Ribeirão Preto.

Como o Palmeiras tinha priorizado os compromissos da Taça Libertadores da América, os jogos do campeonato paulista foram se acumulando, o que forçou uma verdadeira maratona em busca de pontos vitais para escapar de uma iminente degola.

Faltando apenas três compromissos para o término do campeonato, o Palmeiras venceu o América (SP) por 2×0 em São José do Rio Preto (SP), três dias antes do discutido empate em 1×1 contra o Guarani no Estádio Brinco de Ouro em 29 de junho.

Assim, o resultado no julgamento do T.J.D referente ao jogo contra o Guarani ganhou uma importância inesperada para o alviverde da capital, principalmente depois do surpreendente “naufrágio” diante do Comercial no Parque Antártica.

O duelo entre Pedro Rocha e Flamarion. Um toque de classe no meio de campo! Crédito: revista Placar – 21 de março de 1975.

Disputa acirrada na meia-cancha. Pelo campeonato paulista, São Paulo e Guarani não saíram de um apático 0x0 no Morumbi. Crédito: revista Placar – 21 de março de 1975.

Para afastar definitivamente qualquer risco de um vergonhoso rebaixamento, o Palmeiras precisava de apenas um ponto contra o time de Ribeirão Preto no dia 3 de julho.

Mas o cansado Palmeiras perdeu por 3×2 para o Comercial e os pontos do então polêmico jogo realizado em Campinas – conquistados depois no T.J.D – valeram uma salvadora permanência na divisão especial.

Em 1970, o meio-campista Flamarion já era uma realidade no quadro bugrino, inclusive sendo lembrado para servir o selecionado paulista de novos.

Médio-volante de técnica refinada, Flamarion gostava de liberdade para armar jogadas e surpreender os sistemas defensivos, principalmente quando aparecia de surpresa nas manobras de ataque do “Bugre”.

Dono indiscutível da posição, Flamarion continuou firme em sua caminhada no disputado cenário paulista. Aos poucos, o futebol cadenciado e solidário de Flamarion foi transformado em um elemento determinante no esquema de jogo do quadro campineiro.

Pelo Guarani, Flamarion fez parte do time que faturou o primeiro turno do campeonato paulista de 1976. Crédito: revista Placar.

O Guarani campeão do primeiro turno do campeonato paulista de 1976. Em pé: Miranda, Neneca, Amaral, Nélson, Deodoro e Flamarion. Agachados: Renato, Zenon, André, Davi e Ziza. Crédito: revista Placar.

Em 26 de agosto de 1973, dia do aniversário de Flamarion, o Guarani recebeu o Nacional de Manaus no Brinco de Ouro em Campinas. Naquela tarde, o quadro amazonense vencia por 1×0; até Flamarion marcar o gol de empate, o primeiro como profissional e o primeiro do Guarani na história do campeonato brasileiro.

Pelo Guarani, Flamarion foi campeão do primeiro turno do campeonato paulista de 1976. O time da época contava com alguns jogadores que chegariam ao memorável título brasileiro de 1978; como Édson Alves, Miranda, Neneca, Renato e Zenon.

Abaixo, uma das participações de Flamarion na grande campanha do “Bugre” no campeonato paulista de 1976:

25 de julho de 1976 – Campeonato paulista segundo turno – São Paulo 1×1 Guarani – Estádio do Morumbi – Árbitro: Roberto Nunes Morgado – Gols: Campos para o Guarani e Mickey para o São Paulo.

São Paulo: Waldir Peres; Nelson, Primo (Teodoro), Arlindo e Gilberto; Chicão e Pedro Rocha; Mickey, Muricy, Serginho e Zé Carlos (Zé Sérgio). Técnico: José Poy. Guarani: Neneca; Miranda, Amaral, Édson Alves e Deodoro; Flamarion e Zenon; Roberto, Renato, Campos e Romário (Osnir). Técnico: Diede Lameiro.

Sócrates e Flamarion. Não faltava classe no interior paulista. Foto de Manoel Motta. Crédito: revista Placar – 29 de abril de 1977.

Uma grande responsabilidade recebida das mãos de Wilson Piazza. Foto de Célio Apolinário. Crédito: revista Placar – 3 de junho de 1977.

No segundo semestre da temporada de 1977, o “Craque de Ouro Fino” retornou feliz ao cenário mineiro para defender o Cruzeiro Esporte Clube (MG).

Vencedor da Taça Libertadores da América de 1976, o Cruzeiro iniciava um longo e necessário processo de renovação, com estrelas como Wilson da Silva Piazza sinalizando seu merecido descanso!

Logo em sua primeira temporada na Toca da Raposa, Flamarion conquistou o título mineiro. Continuou em Minas Gerais até 1979, quando assinou com o Sport Club do Recife (PE).

Voltou ao futebol paulista em 1980 para defender o Botafogo de Ribeirão Preto (SP). Ao deixar os gramados em 1984, Flamarion trabalhou como auxiliar técnico e como treinador em algumas equipes do Brasil e do Oriente Médio.

Depois de uma longa luta contra um câncer, Flamarion Nunes Tomazoli faleceu na madrugada de 27 de janeiro de 2020 em sua cidade natal.

Em 1977 o “Craque de Ouro Fino” voltou ao futebol mineiro para defender o Cruzeiro. Crédito: revista Placar – 2 de dezembro de 1977.

O médio-volante permaneceu em Minas Gerais até 1979, quando assinou com o Sport Club do Recife (PE). Foto de Célio Apolinário. Crédito: revista Placar – 2 de dezembro de 1977.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Célio Apolinário, Manoel Motta, Marcelo Duarte e Sérgio A. Carvalho), revista Manchete Esportiva, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal Folha de São Paulo, campeoesdofutebol.com.br, cruzeiro.com.br, gazetaesportiva.net, guaranifc.com.br, placar.abril.com.br, site do Milton Neves, Livro: A História do Campeonato Paulista – André Fontenelle e Valmir Storti – Publifolha.