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Em 1968, o presidente do Esporte Clube Juventude, Djalma Losquiavo, não contava com dinheiro em caixa. Com cautela para não se endividar, o dirigente decidiu tomar uma atitude inovadora, apesar dos riscos envolvidos para um cargo tão estratégico.

Dessa forma, o alviverde de Caxias do Sul apostou suas fichas em um jovem treinador, que desenvolvia um trabalho de muita qualidade nas categorias amadoras do Internacional.

Era uma oportunidade e tanto. Então, o gordinho Daltro Menezes agarrou essa chance com unhas e dentes e realizou um grande trabalho.

O simpático Daltro Rodrigues Menezes nasceu na cidade de Porto Alegre (RS), em 18 de janeiro de 1938.

Naquele período no Juventude, Daltro Menezes montou uma linha de ataque de muito sucesso; Juarez, Balzaretti, Ari, Laone e Puccinelli. Com os bons resultados apresentados, o Internacional trouxe de volta o “gordinho” Daltro.

Crédito: revista Placar – 28 de agosto de 1970.

Crédito: revista Grandes Clubes Brasileiros.

Daltro Menezes assinou com o “Colorado” em setembro de 1968. Conforme divulgado no site internacional.com.br, o contrato foi estabelecido inicialmente em 5 mil cruzeiros mensais.

Aos 30 anos de idade, Daltro Menezes começou sua caminhada napoleônica diante das obras da estupenda “Pirâmide Colorada”, nas margens do Guaíba.

Substituindo Oswaldo Rolla, Daltro Menezes encontrou um time inconstante. Sem muito tempo para mudar alguma coisa, o resultado do primeiro jogo não foi o esperado. Abaixo, a primeira partida de Daltro Menezes no “Robertão” de 1968:

18 de setembro de 1968 – Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Torneio Robertão) – Internacional 2×1 Vasco da Gama – Estádio Olímpico – Árbitro: Aírton Vieira de Moraes – Gols: Claudiomiro aos 32′ do primeiro tempo; Valfrido aos 58’ e Bráulio aos 65‘ do segundo tempo.

Internacional: Luís Carlos Schneider; Laurício, Luís Carlos Scala, Luís Carlos, Sadi Schwerdt, Élton Fensterseifer (Bibiano Pontes), Dorinho e Carlitos; Bráulio, Claudiomiro e Valdomiro (Canhoto). Técnico: Daltro Menezes. Vasco da Gama: Pedro Paulo; Ferreira, Brito, Fontana e Eberval; Benetti e Buglê; Nado, Nei Oliveira (Adílson), Valfrido e Silvinho. Técnico: Paulinho De Almeida. 

Bráulio, o personagem principal da saída de Daltro Menezes do Beira Rio. Crédito: revista Grandes Clubes Brasileiros.

Crédito: revista Placar – 16 de abril de 1971.

Com sua costumeira capacidade de comunicação, o simpático “gordinho” logo demarcou seu território e desenhou um esquema competitivo de jogo.

Os bons resultados no Torneio “Robertão” de 1968 foram determinantes. O vice-campeonato da competição (mesma colocação obtida na edição de 1967) revelou uma equipe em franco desenvolvimento.

Mas seu maior desafio era mesmo o campeonato gaúcho, dominado pelos gremistas desde 1962.

Em 6 de abril de 1969, o Estádio Beira Rio foi inaugurado com uma vitória sobre o Benfica de Portugal por 2×1. Com sua nova praça esportiva, o Internacional finalmente rompeu o ciclo de conquistas do Grêmio e ficou com o título de 1969.

Com o bicampeonato gaúcho de 1970, Daltro Menezes inaugurou o período dos “anos de chumbo” vividos pelo Grêmio.

Crédito: revista Placar – 1 de dezembro de 1972.

Foto de Arthur Franco. Crédito: revista Placar – 1 de dezembro de 1972.

Mesmo com os títulos e a simpatia do presidente Carlos Stechman, além do apoio de boa parte dos integrantes dos “Mandarins” (um grupo seleto de torcedores, jornalistas e conselheiros), Daltro Menezes entrou na corda bamba em 1971.

O pivô dessa instabilidade foi o jovem meio campista Bráulio Barbosa de Lima, um talento promissor revelado nas categorias amadoras do Internacional.

Considerado um autêntico “diamante” pelo técnico Oswaldo Rolla, Bráulio ficou conhecido como “Garoto de Ouro”. Se por um lado Daltro Menezes reconhecia muito valor em Bráulio, sua teimosia em deixá-lo de fora do time aborrecia os torcedores.

Em certa ocasião, Daltro Menezes, declarou para uma Rádio de Belo Horizonte que tinha em seu elenco um jogador tão bom quanto Tostão. Mais do que depressa, o hábil repórter retrucou: “Ué, então o coloque para jogar”.

E Bráulio, surpreso, continuava no banco de reservas. Enquanto isso, Daltro Menezes se defendia da ira da torcida pela ausência do “Garoto de Ouro”.

Uma estrela no Itabaiana (SE). Foto de José Martins. Crédito: revista Placar – 31 de maio de 1974.

Uma estrela no Itabaiana (SE). Foto de José Martins. Crédito: revista Placar – 31 de maio de 1974.

O treinador afirmava que preferia escalar Sérgio Galocha para ajudar Claudiomiro nas batalhas pelo interior gaúcho. Mas, a forte pressão da torcida não calava. Como era possível Bráulio não jogar?

Então, Daltro mudou completamente seu discurso.

Dizia que os “diamantes” só deveriam ser usados em ocasiões especiais, ao mesmo tempo em que não via sentido escalar Bráulio para tomar pernadas dos beques.

E assim o cenário anterior de completo apoio foi ruindo até desabar completamente, em abril de 1971. Na revista Placar de 16 de abril de 1971, o então ex-treinador do Internacional afirmou:

– Me derrubaram por causa do Bráulio. Um erro. Vão colocar muita responsabilidade nas costas do garoto. Ele é um bom sujeito. Não teve culpa!

No Itabaiana (SE). Foto de José Martins. Crédito: revista Placar – 31 de maio de 1974.

Daltro em sua época na Francana. Foto de Manoel Motta. Crédito: revista Placar – 4 de maio de 1979.

Além do Internacional, em duas oportunidades, Daltro Menezes comandou o Galícia (BA), Vitória (BA), Ceará (CE), Sport Recife (PE), Colorado (PR), Coritiba (PR), Glória (RS), Grêmio (RS), Juventude (RS), Novo Hamburgo (RS), Santa Cruz (RS), Criciúma (SC), Figueirense (SC), Itabaiana (SE), Francana (SP), Guarani (SP) e Santos (SP).

Apesar da competência, Daltro Menezes era considerado pela imprensa como um “falastrão” de personalidade forte. Conforme artigo publicado pela revista Placar em 6 de dezembro de 1985, o “gordinho” também se considerava um revolucionário:

– Fui o primeiro técnico do Brasil que teve a iniciativa de utilizar dois volantes. Foi com Tovar e Carbone em 1971. 

Os anos passaram e os efeitos da obesidade foram agravados na década de 80, um problema que nunca foi considerado como deveria.

Pelo contrário. quando era treinador do Internacional, Daltro disputava o troféu de maior comilão com o atacante Claudiomiro. Daltro Rodrigues Menezes faleceu na cidade de Porto Alegre (RS), em 18 de agosto de 1994.

Crédito: revista Placar – 21 de maio de 1982.

Daltro Menezes e Júlio Espinosa. Crédito: revista Placar – 20 de janeiro de 1986.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Arthur Franco, Carlos Libório, Divino Fonseca, Genevaldo Matos, José Martins, Manoel Motta, Maurício Azêdo, Roque Mendes e Roberto José da Silva), revista Grandes Clubes Brasileiros, revista Manchete Esportiva, campeoesdofutebol.com.br, globoesporte.globo.com, internacional.com.br, juventude.com.br, memoriadointer.blogspot.com.br, ricardoorlandini.net, zh.clicrbs.com.br.