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bola de prata revista Placar, Copa do Mundo de 1970, Everaldo Marques da Silva, lateral esquerdo Everaldo
O telefone toca o dia inteiro. Na linha, um batalhão de comerciantes aguarda para oferecer presentes, jantares e homenagens. Enquanto isso, o movimento continuava forte em frente ao apartamento do jogador, na Rua Jerônimo Ornelas.
Eram torcedores em fila para entregar doces caseiros, trabalhos manuais ou ainda esperar por um simples autógrafo.
Pela conquista do tricampeonato mundial de 1970, o lateral esquerdo do Grêmio conquistou muito mais do que respeito. Ganhou automóvel, cadernetas de poupança, dinheiro, eletrodomésticos, medalhas, relógios, ternos, troféus e títulos honorários.
Mas tudo isso não foi suficiente para amenizar a decepção pela ausência no elenco canarinho na Taça Independência em 1972.
Everaldo Marques da Silva nasceu em Porto Alegre (RS), no dia 11 de setembro de 1944.
Ainda um guri, Everaldo chegou ao Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense em 1957. Passou com destaque pelas categorias de base, antes de seu efetivo aproveitamento no time principal.
Em 1964 foi emprestado ao Juventude de Caxias do Sul, inclusive participando da ótima campanha do time no vice-campeonato gaúcho de 1965.
De volta ao Grêmio, Everaldo foi lembrado pela primeira vez na Seleção Brasileira para disputar a Copa Rio Branco, em 1967.
Heptacampeão gaúcho em 1968, Everaldo também esteve em campo na pancadaria do primeiro “Grenal” do Beira Rio, em abril de 1969.
Eficiente e regular, Everaldo disputava um lugar no escrete durante preparação para o mundial de 1970. Para isso, teria que superar o futebol do experiente Rildo e do emergente Marco Antônio Feliciano.
Mesmo contrariando a opinião dos críticos favoráveis pela manutenção de Rildo, Everaldo foi convocado no grupo que embarcou para buscar o tricampeonato no México.
E foi preciso muito trabalho para superar a preferência pelo futebol do jovem Marco Antônio. Everaldo ganhou a posição e não comprometeu o sistema defensivo montado por Zagallo.
Consagrado pelo “Tri”, sua apoteótica chegada em Porto Alegre causou uma das maiores mobilizações populares da história do futebol gaúcho. O Boeing que trouxe o jogador de volta ao Sul foi acompanhado por jatos da FAB.
Vestindo uma jaqueta de couro com franjas no estilo “Búfalo Bill”, Everaldo foi recebido no Palácio Piratini pelo governador Walter Peracchi Barcelos.
Além da calorosa recepção, em 30 de junho de 1970 o Grêmio perpetuou oficialmente sua figura ao dedicar uma estrela dourada na bandeira oficial. Ainda em 1970, Everaldo recebeu o concorrido prêmio da “Bola de Prata” da revista Placar.
Mas os dias de glória cobraram seu preço. Em 1972 Everaldo foi o personagem principal de um acontecimento marcante. Como preparação para disputar a Taça Independência, os tricampeões do mundo enfrentaram um combinado Gaúcho no Beira Rio.
Naquela oportunidade, o público local estava indignado pela ausência de jogadores gaúchos no grupo convocado por Zagallo, especialmente do lateral esquerdo Everaldo.
A partida, muito disputada, terminou com o placar de 3×3. Abaixo, os registros do jogo em que o escrete canarinho foi vaiado pelos torcedores no Beira Rio:
17 de junho de 1972 – Amistoso – Brasil 3×3 Seleção Gaúcha – Estádio Beira Rio – Árbitro: Robert Heliés (França) – Gols: Jairzinho, Paulo César e Rivellino para a Seleção Brasileira; Tovar, Carbone e Claudiomiro para a Seleção Gaúcha.
Brasil: Leão (Sérgio); Zé Maria, Brito, Vantuir e Marco Antônio; Clodoaldo, Wilson Piazza e Rivellino; Jairzinho, Leivinha e Paulo César Lima. Técnico: Zagallo. Seleção Gaúcha: Schneider; Espinosa, Ancheta, Figueroa e Everaldo; Carbone, Tovar e Torino; Valdomiro, Claudiomiro e Oberti (Mazinho). Técnico: Aparício Vianna e Silva.
Mas os reflexos da não convocação para a Taça Independência causaram mais prejuízos ainda. Em 18 de outubro de 1972, Grêmio e Cruzeiro jogavam pela 12ª rodada do campeonato brasileiro de 1972.
Everaldo, provavelmente ainda de cabeça quente por não ser lembrado na seleção, agrediu o árbitro José Faville Neto depois da marcação de uma penalidade no atacante Palhinha. O jogo terminou empatado em 1×1.
Curiosamente, o fato aconteceu logo depois do prêmio Belfort Duarte por sua exemplar conduta disciplinar. Punido pela agressão, Everaldo foi suspenso do futebol por 1 ano e anunciou publicamente sua renuncia ao referido prêmio.
Em entrevista para a revista Placar de 22 de junho de 1973, o jogador do Grêmio falou sobre o que viveu durante o período de sua suspensão:
– Se estou angustiado por ficar sem jogar? Não estou nem um pouco. Apenas mantenho minha rotina de falar com meus advogados sobre o andamento do processo.
A renovação do contrato com o Grêmio, em janeiro de 1973, foi rapidamente resolvida pela diretoria, o que ajudou bastante na esperança de Everaldo voltar aos gramados.
Aos 30 anos de idade e com o futebol próximo do fim, o lateral aproveitou da grande popularidade para sua campanha política ao cargo de Deputado Estadual pela extinta Arena gaúcha.
E foi nessa campanha política pelo interior gaúcho, que Everaldo faleceu em um acidente automobilístico na madrugada de 27 de outubro de 1974.
A ocorrência fatal com o automóvel Dodge Dart aconteceu perto da localidade de Cachoeira do Sul (RS). Sensibilizados, os jogadores do Grêmio estabeleceram um pacto pela conquista do campeonato gaúcho de 1974.
A intenção dos companheiros gremistas foi nobre. No entanto, o Internacional ficou com o caneco da temporada.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Assis Hoffmann, Divino Fonseca, Jones Lopes da Silva, Lenivaldo Aragão, Michel Laurence e Teixeira Heizer), revista do Grêmio, revista Grêmio 70, revista Grandes Clubes Brasileiros, revista Fatos e Fotos, revista Manchete, Jornal Correio do Povo, Jornal Folha da Tarde, Jornal Zero Hora, campeoesdofutebol.com.br, correiodopovo.com.br, globoesporte.globo.com, grêmio.net, placar.abril.com.br, site do Milton Neves (por Rogério Micheletti).