Filho do casal de imigrantes italianos Francesco Fiume e Estephania Fiume, Waldemar Fiume nasceu na cidade de São Paulo (SP), em 12 de outubro de 1922. (*) Algumas fontes apontam seu nascimento em 1920.
Conforme matéria publicada no Jornal Mundo Esportivo em 7 de dezembro de 1951, seu Francesco Fiume sofreu um bocado tentando doutrinar o filho nos estudos.
Para jogar futebol, Waldemar Fiume vivia escapando da vigilância severa do pai, que também não poderia imaginar que um dia o rapazola ficaria conhecido como “O Pai da Bola”.
Quando queria saber onde estava o filho, seu Francesco deixava a tipografia aos cuidados de um empregado e descia até os inúmeros campinhos de futebol da baixada do Glicério. E não precisava procurar muito para encontrar o garoto!
Primeiro foi o infantil do Santo Alberto Futebol Clube. Depois foi o juvenil de um time chamado Atlas, até chegar bem recomendado aos quadros do Bangu, uma agremiação que fazia bastante sucesso na região do Glicério.
E antes mesmo de proclamar o pronto retorno para casa, o velho Fiume repetia um ritual particular. Abria um lenço e sentava nos barrancos para assistir um pouquinho da habilidade do filho com o couro nos pés.
Depois, com o avançar das horas, seu Francesco Fiume chamava o guri e ambos voltavam conversando sobre aquele mesmo assunto dos últimos dias.
O tema era a moderna impressora que foi comprada com muito sacrifício para melhorar a produtividade da tipografia. Nos manuais complicados, a única coisa decifrável era o próprio nome do equipamento: “Frankental”.
Os negócios da família até que caminhavam muito bem, mas Waldemar Fiume parecia ignorar os constantes apelos do pai para aprender os segredos da tão sofisticada máquina:
– Você precisa me ajudar! A empresa é o que existe de concreto para garantir o nosso futuro. Poucas tipografias tem essa máquina e você só pensa em jogar bola… Tome vergonha rapaz!
No dia seguinte, depois da escola, lá estava o magrinho Waldemar Fiume pronto para jogar futebol. E não importava o tipo de partida; casados contra solteiros, gordos contra magros, ou ainda grandes contra pequenos.
Em uma dessas jornadas, Waldemar Fiume foi observado mais atentamente por Antônio Cavallini, o popular “Canhoto”, que na época já era um meio-campista consagrado nas fileiras do Palestra Itália.
E foi o impressionado Canhoto que disparou o convite para Waldemar Fiume fazer uma experiência no time do Parque Antártica.
Waldemar Fiume contava então com 19 de idade quando entrou pela primeira vez no alviverde. Satisfeito com o rendimento do rapaz, o técnico Caetano de Domênico não perdeu tempo em procurar seu Francesco Fiume para validar o contrato do filho.
Logo depois, em 14 de setembro de 1941, Waldemar Fiume fazia sua primeira participação como meia-direita do Palestra Itália na goleada de 4×0 diante do Comercial da capital.
Eram dias muito difíceis! O mundo estava em guerra e as letras PI – Palestra Itália – logo foram transformadas em “P” de Palmeiras.
Contudo, essa providencial troca de letras não foi suficiente para evitar maiores problemas. Então, pouco antes da partida decisiva do campeonato paulista de 1942, os dirigentes decidiram isolar o elenco em uma chácara na cidade de Poá (SP).
Em 20 de setembro de 1942, já rebatizado com o nome de Palmeiras, o ônibus da delegação esmeraldina partiu para o Estádio do Pacaembu com uma bandeira nacional na bagagem.
A bandeira foi usada para entrar no gramado. Assim, surgiu o novo campeão paulista, que venceu o São Paulo por 3×1 com outra atuação espetacular de Waldemar Fiume.
Habilidoso no jogo curto, o futebol vistoso de Waldemar Fiume apresentava poucos defeitos. Chutava mal e durante o quarto final das partidas perdia o fôlego, decerto pelo consumo exagerado de cigarros!
Aparência tristonha e quase sempre calado, Waldemar Fiume jamais falou mal de nenhum treinador ou companheiro. Em 17 anos de carreira foi expulso de campo em apenas uma oportunidade diante da Portuguesa de Desportos.
Em setembro de 1958, Waldemar Fiume deixou os gramados. Seu busto foi esculpido pelo artista Ruffo Fanucci e permanece nos jardins do clube, bem como seu histórico de grandes conquistas:
– Taça Cidade de São Paulo de 1950 e 1951, primeira edição da Copa Rio de 1951, Torneio Rio-São Paulo de 1951, Torneio Campeões do Rio-São Paulo de 1947 e o campeonato paulista de 1942, 1944, 1947 e 1950.
Entre 1941 e 1958 foram 601 partidas com 337 vitórias, 120 empates, 144 derrotas e 27 gols marcados. Os números foram publicados pelo Almanaque do Palmeiras, dos autores Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti.
Com o falecimento do pai e do único irmão em 1959, Waldemar Fiume assumiu os negócios da família. Seu falecimento ocorreu em 6 de novembro de 1996, na cidade de São Paulo (SP).
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Carlos Maranhão, Michel Laurence e José Pinto), revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, revista do Esporte, revista Esporte Ilustrado, revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Cruzeiro, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal Mundo Esportivo (por Odilon C. Brás e Sérgio de Andrade), acervo.oglobo.globo.com, campeoesdofutebol.com.br, fotografia.folha.uol.com.br, gazetaesportiva.net, museudosesportes.blogspot.com.br, palmeiras.com.br, placar.abril.com.br, site do Milton Neves (por Gustavo Grohmann), Almanaque do Palmeiras – Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti.
joão marquezin disse:
Tive a felicidade de ver o Fiume jogar em diversas ocasiões, era um magico em campo, que o diga o Idario que era sua principal “vitima”,jogador do Corintians na época, se estivesse hoje na ativa seria mais valorizado que o Neimar, dada toda a sua categoria. “Deus” o tenha, pois deu exemplos de profissionalismo e dignidade dentro de sua profissão. Oxalá nossos craques de hoje tivessem o mesmo carater desse “monstro do futebol” Waldemar Fiume. João Marquezin.