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O que Garrincha fazia na ponta-direita, Canhoteiro também fazia pela esquerda. Garrincha foi um mito maior; porém Canhoteiro, que tinha o mesmo espírito brincalhão, não ficava devendo nada quando o assunto era encantar multidões. 

Mais conhecido como “Canhoteiro”, José Ribamar de Oliveira nasceu no pequeno município de Coroatá (MA), em 24 de setembro de 1932.

Ainda criança, Canhoteiro encantava os trabalhadores que assistiam peladas no estacionamento reservado para descarregar mercadorias no mercado local. Lépido, o menino prendia a ponta da camisa na mão e driblava todo mundo!

E quando a bola não rolava, inúmeros olhares continuavam procurando pelo acanhado guri, que fazia embaixadas com caixas de fósforos e controlava moedas na ponta do pés.

Nesse mesmo mercado, o batalhador Cecílio de Oliveira – o pai de Canhoteiro – ganhava o sustento da família com um pequeno comércio onde vendia mingau de milho e tapioca. 

Canhoteiro chegou ao tricolor para fazer sombra ao ídolo Teixeirinha. Em pouco tempo, seu nome era motivo de assunto em qualquer canto da cidade. Crédito: reprodução revista Manchete Esportiva número 94 – 7 de setembro de 1957.

Contudo, o preocupado seu Cecílio não aceitava muito bem o apego do filho pelo futebol. “O que será desse menino quando crescer? Se continuar vivendo longe dos livros vai terminar vendendo mingau no mercado”.

Com o passar do tempo, Canhoteiro era praticamente “caçado” para jogar nos times da região, até ser encaminhado aos quadros amadores do Moto Club de São Luís.

Paralelamente ao sonho do futebol, a amizade com os comerciantes do mercado proporcionou para Canhoteiro um emprego como motorista de caminhão, uma ocupação para entregas de curta distância.

Essa rotina foi alterada no início da década de 1950, quando o presidente do América Football Club (CE) conversou com seu Cecílio e levou o conceituado rapazola para o cenário cearense.

Oportunamente convocado para defender o selecionado cearense, Canhoteiro logo entrou na mira dos dirigentes do São Paulo Futebol Clube, que na ocasião desembolsou 100 mil cruzeiros para contar com o promissor ponteiro-esquerdo.

Fora dos gramados, o principal passatempo de Canhoteiro era comer um bom sanduíche de Bauru no então famoso “Ponto Chic”. Crédito: reprodução revista A Gazeta Esportiva Ilustrada.

Canhoteiro chegou ao tricolor para fazer sombra ao ídolo Teixeirinha. Em pouco tempo, seu nome era motivo de assunto nos botecos ou qualquer outro lugar que o tema fosse futebol.

Conforme publicado pelo site saopaulofc.net, Canhoteiro fez sua primeira partida com a camisa do São Paulo em 18 de abril de 1954, na derrota por 2×1 diante do Linense, confronto amistoso realizado na cidade de Lins (SP).

Habilidoso e rápido, Canhoteiro fazia do futebol uma arte para divertir o público. Os dribles desconcertantes costumavam entortar seus marcadores, que na impossibilidade do desarme preferiam manter uma espécie de distância segura.

Fora dos gramados, o principal passatempo de Canhoteiro era comer um bom sanduíche de Bauru ao lado dos amigos, no então famoso estabelecimento “Ponto Chic” no Largo do Paissandú.

Jogando pelo São Paulo, Canhoteiro foi campeão paulista de 1957; além de faturar vários torneios nacionais e internacionais, como o Torneio Jarrito no México e a Pequena Taça do Mundo na Venezuela, ambos na temporada de 1955.

Entre Idário e Olavo, o arisco Canhoteiro marca o segundo gol do São Paulo no duelo que decidiu o certame paulista de 1957. Crédito: saopaulofc.net.

Momento da comemoração do gol de Canhoteiro na vitória por 3×1 sobre o Corinthians no Pacaembu em 1957. Partindo da esquerda; Riberto deitado no chão, Gino Orlando, Canhoteiro, Zizinho e o camisa 7 Maurinho. Crédito: revista Manchete Esportiva número 163 – Janeiro de 1958.

No duelo que decidiu o campeonato de 1957 contra o Corinthians no Pacaembu, Canhoteiro foi o autor do segundo gol do tricolor na vitória pelo placar de 3×1.

Após receber um primoroso passe de Amaury, o ponteiro avançou totalmente livre pela esquerda até driblar Idário. Em seguida, deixou Olavo no chão com dois cortes espetaculares antes de concluir para o fundo das redes do goleiro Gylmar.

Pela Seleção Brasileira, Canhoteiro disputou o Sul-Americano Extra de Lima e a Taça Oswaldo Cruz. Participou também da excursão preparatória para o mundial de 1958 e de alguns compromissos disputados em 1959.

Com a camisa canarinho foram 16 participações com 10 vitórias, 4 empates e 2 derrotas. Seu único gol foi marcado no empate por 3×3 contra o Paraguai em 17 de novembro de 1955.

Os registros de Canhoteiro pela Seleção Brasileira foram publicados no livro “Seleção Brasileira 90 Anos”, dos autores Antônio Carlos Napoleão e Roberto Assaf.

O medo de viajar de avião e a predileção pela boemia o levaram ao total desinteresse pelo escrete! Crédito: revista do Esporte número 42 – 26 de dezembro de 1959.

Com dificuldade para recuperar a boa forma depois de uma delicada cirurgia no joelho, seu futebol já não era mais o mesmo! Crédito: revista A Gazeta Esportiva Ilustrada número 163 – Julho de 1960.

Pouco antes da Copa do Mundo de 1958, Paulo Machado de Carvalho anunciou os cortes de Roberto Belangero do Corinthians e de Canhoteiro.

Na época, o sentimento dos críticos é que Canhoteiro merecia ter feito parte do elenco campeão mundial na Suécia. Todavia, o medo de viajar de avião e sua declarada predileção pela boemia o levaram ao desinteresse pelo escrete.

Canhoteiro também participou das festividades de inauguração do Estádio do Morumbi contra o Sporting Lisboa, jogo disputado em 2 de outubro de 1960.

Ainda em 1960, após uma séria contusão no joelho provocada por um choque acidental com o zagueiro Olavo, Canhoteiro entrou em franco declínio. Com enorme dificuldade para recuperar a boa forma depois de uma delicada cirurgia, seu futebol já não era mais o mesmo!

Ao todo, Canhoteiro realizou 402 partidas pelo São Paulo. Foram 224 vitórias, 89 empates, 89 derrotas e 104 gols marcados. Os números foram publicados pelo Almanaque do São Paulo, do autor Alexandre da Costa.

Habilidoso e rápido, Canhoteiro fazia do futebol uma arte para divertir o público! Crédito: revista do Esporte número 185 – 22 de setembro de 1962.

Garantem os mais velhos – Canhoteiro era capaz de driblar no espaço de um lenço! Crédito: revista do Esporte.

Em setembro de 1963, Canhoteiro foi negociado com o Deportivo Toluca Fútbol Club do México, equipe onde permaneceu por pouco tempo.

No retorno ao Brasil jogou pelo Nacional Atlético Clube (SP) e finalmente pelo SAAD da cidade de São Caetano do Sul, quando finalmente deixou os gramados em 1967.

Depois do futebol, Canhoteiro foi de encontro ao vício da bebida. Com ajuda de admiradores e amigos, o ex-jogador do São Paulo conquistou um providencial emprego no Banco do Estado de São Paulo.

Na tarde do dia 13 de agosto de 1974, Canhoteiro estava feliz e almoçou uma costumeira feijoada acompanhada de caipirinha e cerveja. Ao caminhar pela rua reclamou de uma forte dor de cabeça.

Então, antes de seguir para o banco decidiu descansar um pouco na casa de um amigo e desmaiou. Eram os efeitos de um derrame cerebral. Faleceu três dias depois no hospital, com apenas 41 anos de idade. 

Gino Orlando e Canhoteiro. Crédito: revista do Esporte número 214 – Abril de 1963.

Depois do futebol, Canhoteiro conquistou um providencial emprego no Banco do Estado de São Paulo. Crédito: revista do Esporte número 1 – 14 de março de 1959.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Carlos Maranhão, Dagomir Marquezi, Emanoel Mattos, José Maria de Aquino e Sandro Moreyra), revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, revista do Esporte (por Gérson Monteiro e Jurandir Costa), revista Manchete Esportiva, revista Tricolor, Jornal A Gazeta Esportiva, campeoesdofutebol.com.br, gazeta esportiva.net, saopaulofc.net, site do Milton Neves (por Gustavo Grohmann e Rogério Micheletti), Almanaque do São Paulo – Alexandre da Costa, Livro: Canhoteiro – O homem que driblou a glória – Renato Pompeu – Editora Ediouro, Livro: Seleção Brasileira 90 Anos – Antônio Carlos Napoleão e Roberto Assaf.