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Como jogador,  o “Velho Lobo” foi vitorioso no Botafogo, Flamengo e Seleção Brasileira. Sua fama correu o mundo ao lado de craques como Didi, Djalma Santos, Garrincha, Nilton Santos, Pelé, Zito e outros tantos valores daquele período.

Como treinador, nunca abriu mão de suas convicções defensivas e da fidelidade aos esquemas de jogo, uma herança dos tempos em que recuava da ponta esquerda para desempenhar importante papel na meia-cancha.

Mário Jorge Lobo Zagallo nasceu em Maceió (AL), no dia 9 de agosto de 1931. Chegou ao Rio de Janeiro ainda no colo da mãe e cresceu morando no bairro da Tijuca.

O pai, Aroldo Cardoso Zagallo, encarou o desafio de vencer na “Cidade Maravilhosa” como representante comercial dos Tecidos Alexandria, uma fábrica de propriedade do cunhado Mário Lobo, em Alagoas.

Os planos para o futuro dos filhos eram pautados em uma educação esmerada, tal como tinham recebido. A mãe, dona Antonieta, foi interna em um colégio francês da elite alagoana, enquanto o pai estudou na Inglaterra.

Fábrica de tecidos Alexandria em Alagoas. Crédito: ticianeli.blogspot.com.br.

O Flamengo bicampeão carioca de 1954. Em pé: Garcia, Pavão, Tomires, Jadir, Dequinha e Jordan. Agachados: Joel, Rubens, Índio, Evaristo e Zagallo. Crédito: museudosesportes.blogspot.com.br.

Naquele tempo, a educação dos jovens tijucanos era entregue, quase sempre, ao Colégio Militar ou ao Externato São José, uma escola de orientação católica dirigida por padres maristas.

Foi no Externato São José que o menino Zagallo deu os primeiros sinais de brilhantismo, com boas notas e uma ótima conduta escolar.

As peladas na rua ou no terreno do Derby Club eram feitas sem o conhecimento do pai. A habilidade para o futebol apareceu primeiro nas peladas e mais tarde no time amador do Maguari.

Posteriormente, Zagallo ingressou nas divisões amadoras do America Football Club, que ficava próximo de sua casa e onde também praticava natação, vôlei e tênis de mesa.

Seu Aroldo Cardoso, conselheiro do clube, ajudou com dinheiro para comprar os refletores do antigo Estádio da Rua Campos Sales, onde Zagallo calçou o primeiro par de chuteiras.

Crédito: revista Esporte Ilustrado número 836 – 15 de abril de 1954.

Mas seu Aroldo Cardoso preferia que o filho fosse diplomado no curso técnico de Contabilidade, para mais tarde trabalhar com ele na representação da fábrica de tecidos.

Zagallo acompanhou o pai algumas vezes até o escritório da Rua da Alfândega, no Centro do Rio, onde julgavam os familiares que estaria o seu futuro profissional.

O futebol, naqueles tempos, já não ostentava mais o charme elitista que apresentava nas primeiras décadas do século.

Mas o esporte foi ganhando popularidade rapidamente e se instalou com força nas camadas mais pobres da população brasileira, adquirindo com isso uma imagem um tanto marginal.

No entanto, Zagallo contava com o apoio do irmão, Fernando Henrique, que conseguiu convencer seu Aroldo Cardoso para que Zagallo continuasse jogando.

Crédito: revista Esporte Ilustrado número 908 – 1 de setembro de 1955.

Fernando Henrique argumentou ao pai que também existiam jogadores de futebol oriundos da classe média, como Evaristo de Macedo e Joel Martins, que mais tarde foram companheiros de Zagallo no Flamengo.

Na qualidade de sócio contribuinte, Zagallo “pagava para jogar”, condição que fazia do futebol uma simples e saudável atividade esportiva, recomendada para qualquer jovem de sua idade.

Porém, aquela brincadeira ganhou ares de seriedade com sua ascensão, em 1948, ao quadro juvenil do América.

Na época, Zagallo ainda jogava como meia esquerda. Pouco depois, em razão da grande concorrência existente no meio de campo, Zagallo foi aproveitado como ponteiro esquerdo, de onde não saiu mais.

O “Formiguinha”, apelido que ganharia mais tarde, compensava sua frágil composição física com uma boa técnica e muito trabalho em campo. Era sempre o primeiro que voltava para ajudar quando o time perdia a posse de bola.

Crédito: reprodução revista Esporte Ilustrado número 927.

Ainda como juvenil do América, Zagallo servia no destacamento da Polícia do Exército, no Sexto Pelotão do Quartel da Barão de Mesquita, onde ficavam os esportistas.

Justamente por isso, seu nome foi escalado para trabalhar na segurança durante o confronto final da Copa do Mundo de 1950, contra o Uruguai.

Foi sua primeira experiência diante da dura realidade do futebol. Ali, naquele Maracanã em prantos após inesperada derrota, o jovem Zagallo iniciou sua forte ligação com o escrete nacional.

Contratado pelo Clube de Regatas do Flamengo em 1950 para jogar no juvenil, Zagallo batalhava duro por uma oportunidade.

Um dia, o titular Esquerdinha pediu licença para se casar e o reserva imediato Itamar ficou doente. Assim, Zagallo conseguiu sua tão esperada chance.

Crédito: globoesporte.globo.com.

Sério, habilidoso e dotado de um fôlego privilegiado. Foram esses os atributos que o levaram para disputar o primeiro campeonato brasileiro de amadores, em 1951, quando faturou seu primeiro título.

O treinador Fleitas Solich logo percebeu que Zagallo era um atleta determinado e incansável, que nunca negava contribuir para o sucesso do esquema de jogo. Então, Solich permitia maior liberdade ao jovem ponteiro esquerdo.

Já como titular absoluto na linha de ataque que contava com com Joel, Moacir, Índio, Evaristo e Dida, Zagallo entrou para os livros de história do clube ao conquistar o tricampeonato carioca de 1953, 1954 e 1955.

Como jogador do Flamengo, Zagallo disputou ao todo 205 jogos com 128 vitórias, 38 empates, 39 derrotas e 29 gols marcados.

Mais tarde, como técnico do Flamengo, o “Velho Lobo” comandou o time em 236 partidas com 116 vitórias, 59 empates e 61 derrotas. Os números foram publicados pelo Almanaque do Flamengo, dos autores Clóvis Martins e Roberto Assaf.

Zagallo no gramado do Pacaembu. Crédito: reprodução revista A Gazeta Esportiva Ilustrada número 196.

Zagallo fez sua primeira partida na Seleção Brasileira em 4 de maio de 1958, exatos 35 dias antes da abertura da Copa do Mundo de 1958. O compromisso fazia parte da disputa da Taça Oswaldo Cruz.

A boa atuação e os dois gols marcados na goleada por 5×1 contra o Paraguai foram determinantes em sua convocação para o mundial da Suécia.

Como suplente do ponteiro esquerdo santista Pepe, Zagallo foi diretamente beneficiado pelo corte de Canhoteiro, ponta-esquerda do São Paulo.

Diante do medo em viajar de avião e de sua preferência pela boemia, Canhoteiro não fez nenhuma questão ao tomar conhecimento de seu desligamento do elenco canarinho.

Pepe embarcou como titular, até sentir uma distensão muscular na coxa durante uma partida preparatória realizada na Europa.

Zagallo e Garrincha. Crédito: reprodução revista do Esporte número 165 – 5 de maio de 1962.

Crédito: reprodução revista A Gazeta Esportiva Ilustrada número 210.

Machucado, Pepe acompanhou o mundial como torcedor. Enquanto Zagallo, com sua estrela de sorte, foi o titular nas seis partidas do Brasil, marcando inclusive o quarto gol na decisão contra a Suécia.

Depois da consagração na Copa do Mundo de 1958, Zagallo conseguiu o próprio passe. Pela quantia de Cem mil cruzeiros, o ponteiro esquerdo acertou suas bases com o Botafogo de Futebol e Regatas, em 11 de julho de 1958.

Quase que imediatamente, Zagallo fez sua primeira partida pelo Botafogo no dia 13 de julho, na vitória sobre o Fluminense por 2×1.

Jogando pelo time da “Estrela Solitária”, Zagallo fez parte de lendárias formações de ataque com craques como Garrincha, Didi, Amarildo, Paulo Valentim, Quarentinha e tantos outros.

No início dos anos 60, Botafogo e Santos dominaram o cenário do futebol brasileiro. Tal hegemonia proporcionou ao “Glorioso” o bicampeonato carioca de 1961 e 1962, além da conquista do Torneio Rio-São Paulo no mesmo ano.

Em 26 de abril de 1970, Brasil e Bulgária empataram sem abertura de contagem no Morumbi. Partindo da esquerda; Carlos Alberto Parreira, Lídio de Toledo, Admildo Chirol (encoberto) e Zagallo. Crédito: revista Manchete.

Foto de Sebastião Marinho. Crédito: revista Placar – 22 de maio de 1970.

Foi jogando pelo Botafogo que Zagallo conquistou o bicampeonato mundial pela Seleção Brasileira no Chile.

Aos 34 anos e devidamente consagrado, Zagallo fez sua última partida como jogador profissional. Foi no empate em 1×1 contra o América no Maracanã.

Ao todo, foram 299 participações e 22 gols marcados pelo Botafogo. Em seguida comandou o juvenil do próprio Botafogo, onde mais tarde também trabalhou no elenco principal.

Conhecido pela imprensa como “Velho Lobo”, Zagallo orientou ainda o Bangu (RJ), Flamengo (RJ), Fluminense (RJ), Vasco da Gama (RJ) e Portuguesa de Desportos (SP), além das passagens pela Arábia Saudita e Emirados Árabes.

Mas sua caminhada como treinador ficou marcada pela forte identificação com a Seleção Brasileira. Tudo começou com o discutido afastamento de João Saldanha, em março de 1970.

Zagallo e Carlos Alberto Torres em 1970. Crédito: revista Fatos e Fotos.

Crédito: revista Placar – 13 de outubro de 1972.

Dino Sani e Otto Glória foram consultados pela CBD, todavia recusaram o convite para dirigir o escrete. Mas o predestinado Zagallo foi convidado e prontamente aceitou.

Zagallo foi tricampeão mundial no México, embora parte da crítica apontasse uma suposta influência de jogadores mais experientes, tanto na escalação como na definição do esquema de jogo.

Na Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, Zagallo amargou o quarto lugar e foi duramente criticado pelo esquema defensivo, pouco eficiente nas derrotas contra Holanda e Polônia na decisão do terceiro lugar.

Em 1993 foi apresentado como Coordenador Técnico do treinador Carlos Alberto Parreira, com importante papel na campanha do tetracampeonato no mundial de 1994.

Com fama de pão-duro e supersticioso, o “Velho Lobo” sempre foi cercado de amuletos, além da famosa fixação pelo número 13. Lembrado pela frase “Vocês vão ter que me engolir”, Zagallo foi o treinador vice-campeão mundial na França em 1998. Mário Jorge Lobo Zagallo faleceu no dia 5 de janeiro de 2024 no Rio de Janeiro (RJ). 

Foto de Eduardo Monteiro. Crédito: revista Placar – Maio de 2001.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Eduardo Monteiro, José Maria de Aquino, Marcelo Rezende, Marco Aurélio Guimarães, Ricardo Corrêa, Roberto Drumond, Sebastião Marinho, Sérgio Cavalcanti, Teixeira Heizer e Wolle Guimarães), revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, revista do Esporte, revista Esporte Ilustrado, revista Fatos e Fotos, revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Cruzeiro, revista Realidade, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, botafogo.com.br, campeoesdofutebol.com.br, flamengo.com.br, gazetaesportiva.net, globoesporte.globo.com, museudosesportes.blogspot.com.br, placar.abril.com.br, site do Milton Neves (por Milton Neves e Rogério Micheletti), ticianeli.blogspot.com.br, Almanaque do Flamengo – Clóvis Martins e Roberto Assaf.