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Tomado por cabelos grisalhos, o matreiro Gradim abriu seu arquivo particular de memórias ao repórter da revista Placar, José Maria de Aquino: “Envelhecer é um prêmio difícil de ser compreendido… Não vivi só do futebol. Eu gostava mesmo era de dançar”.

Com seu terno branco engomado, chapéu palheta e sapatos de salto “carrapeta” bem engraxados, Gradim tomava o rumo da antiga Rua Senador Eusébio e entrava em alto estilo nos salões de baile do velho Rio de Janeiro.

Dos tempos em que foi jogador lembrou de muita coisa boa e também de muita coisa ruim. Falou do seu querido Bonsucesso, de Seleção Brasileira e da fratura acontecida na juventude, em um lance infeliz com o zagueiro Queiroz.

Lembrou das poucas brigas que teve, quase sempre em confrontos contra o Flamengo: “Nunca fui um homem de brigas e tampouco corria delas, apenas evitava”.

Conhecido como “Gradim”, Francisco de Souza Ferreira nasceu no município de Vassouras (RJ), em 15 de junho de 1908. (*) A revista placar na edição de 25 de novembro de 1977 aponta seu nascimento na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Ao deixar os gramados, Gradim preparou um novo caminho como auxiliar técnico de Zezé Moreira no Fluminense em 1951. Crédito: revista O Globo Sportivo número 640 – 1951.

No Fluminense, os primeiros ensaios para o sucesso no futuro papel de treinador. Crédito: revista O Globo Sportivo número 640 – 1951.

Criado pela madrinha, o pequeno Gradim estudou até o terceiro ano primário, momento em que precisou deixar os livros de lado para ajudar das despesas da casa.

O apelido “Gradim” apresenta algumas interpretações para o seu aparecimento. Uma delas afirma que ele surgiu em razão de um grande atacante da seleção uruguaia.

A bola entrou em sua vida como um verdadeiro furacão na adolescência, quando jogava pelo Esporte Clube Africano e depois por uma agremiação chamada de Engenho de Dentro, época em que também fraturou a perna.

Grande cabeceador, Gradim provavelmente chegou ao Bonsucesso Futebol Clube (RJ) entre o findar da década de 1920 e o início da década de 1930.

Pelo Bonsucesso, o esforçado atacante Gradim conquistou espaço rapidamente, o suficiente para ser campeão da Copa Rio Branco pela Seleção Brasileira em 1932, ao lado do astro e companheiro de clube Leônidas da Silva.

Além das obrigações esportivas nas Laranjeiras, Gradim também cuidava com dedicação de sua modesta oficina de cromagem. Crédito: revista O Globo Sportivo número 640 – 1951.

Recebido por Gradim, Sylvio Pirillo (esquerda) chega ao Fluminense em 1956. Crédito: revista Manchete Esportiva.

Ao deixar o Bonsucesso, Gradim passou pelo Flamengo para em seguida firmar compromisso com o Vasco da Gama, clube onde conquistou o título carioca de 1934.

O time base do Vasco que chegou ao título formava com Rey, Domingos da Guia e Itália; Gringo, Fausto e Mola; Orlando, Almir, Gradim, Nena e D’Alessandro. O técnico era Harry Welfare.

(*) Algumas fontes encontradas registram que Gradim (o carioca Francisco de Souza Ferreira) jogou pelo Santos e pelo Jabaquara no período compreendido entre 1936 e 1947. Contudo, o Gradim tratado aqui não jogou pelo Santos ou mesmo pelo Jabaquara.

Em dezembro de 2015, o site “acervosantosfc.com” publicou o perfil completo do gaúcho de Taquara (RS) Adhemar de Oliveira, que também ficou conhecido como “Gradim”, o primeiro curinga da Vila Belmiro.

Esse outro “Gradim” começou sua trajetória esportiva no Grêmio Força e Luz de Porto Alegre em 1931. Foi contratado pelo Santos após grande desempenho no selecionado gaúcho. Posteriormente encerrou sua carreira no Jabaquara.

Modesto e trabalhador, Gradim exigia total dedicação de seus pupilos. Foto de Alberto Ferreira. Crédito: revista Esporte Ilustrado número 959 – 23 de agosto de 1956.

“Nos treinos costumo falar apenas uma ou duas vezes. Jogador não é idiota”. Crédito: revista do Esporte número 115 – Maio de 1961.

Depois do Vasco da Gama, Gradim ainda voltou ao mesmo Bonsucesso, época em que viveu suas primeiras experiências como treinador no quadro juvenil e chegou ao título carioca da categoria em 1939.

Gradim permaneceu treinando o Bonsucesso durante um bom tempo, antes de chegar bem recomendado ao Fluminense para desenvolver o mesmo trabalho nas categorias de base.

Algum tempo depois, Gradim foi aproveitado como assistente técnico de Zezé Moreira em 1951, uma fase de grande aprendizado!

Com Zezé Moreira na Seleção Brasileira, Gradim assumiu o quadro principal do Fluminense em 1954. Em seguida trabalhou com Sylvio Pirillo, até ser convidado como auxiliar técnico de Oswaldo Brandão na Seleção Brasileira.

Em 1957 foi para o Vasco da Gama, também como auxiliar do promissor Martim Francisco. Assumiu o time principal do cruzmaltino em 1958 para conquistar o Torneio Início, o Torneio Rio-São Paulo e o Supercampeonato Carioca.

Gradim aparece ao lado do ainda menino Almir Albuquerque. Crédito: revista Placar – 26 de janeiro de 1973.

Gradim sempre foi um treinador muito respeitado no cenário nordestino. Foto de Sílvio Ferreira. Crédito: revista Placar – 28 de outubro de 1977.

Gradim também foi elemento importante na preparação do selecionado olímpico que foi aos jogos de Roma em 1960.

Trabalhou ainda no Rio Negro (AM), Atlético Mineiro (MG), Ferroviário do Recife (PE), Náutico Capibaribe (PE), Santa Cruz (PE), Bangu (RJ), Bonsucesso (RJ), Campo Grande (RJ) e no Barcelona de Guayaquil (Equador).

Conforme artigo da revista Placar em 25 de novembro de 1977, Gradim era um dos treinadores mais baratos do “brasileirão”. Recebia apenas 6.800 cruzeiros por mês treinando o juvenil do Santa Cruz. Depois foi reajustado para 12.800 quando precisou assumir o elenco de profissionais.

Olhar experiente, Gradim revelou o centroavante Dario no Campo Grande (RJ). Ofereceu oportunidades para Almir Albuquerque começar no Vasco da Gama e promoveu o meio-campista Givanildo no Santa Cruz.

Nome de grande importância na história do futebol brasileiro, Francisco de Souza Ferreira faleceu no Rio de Janeiro (RJ), em 12 de junho de 1987.

Cigarro, futebol, mulher e samba. Uma mistura explosiva! Crédito: revista Placar – 25 de novembro de 1977.

No futebol, a elegância transparente de um “Mestre-Sala”. Foto de Lemyr Martins. Crédito: revista Placar – 25 de novembro de 1977.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por José Maria de Aquino, Lemyr Martins, Lenivaldo Aragão e Sílvio Ferreira), revista do Esporte, revista Esporte Ilustrado (por Alberto Ferreira, José Santos, Levy Kleiman e Luís Mendes), revista Grandes Clubes Brasileiros, revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Globo Sportivo, Jornal dos Sports, Jornal O Globo, acervosantosfc.com (por Gabriel Santana), bangu.net, campeoesdofutebol.com.br, fluminense.com.br, site do Milton Neves (por Rafael Serra), vasco.com.br.