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Copa do Mundo de 1982, Junior lateral esquerdo do Flamengo, Leovegildo Lins da Gama Junior, Taça Libertadores da América de 1981
Março de 1986 em Turim. Os termômetros marcam 2 graus.
Júnior está treinando no campo do Torino, muito parecido com o nosso acanhado e simpático Estádio Conde Rodolfo Crespi, mais conhecido como Rua Javari.
O técnico Luige Radice, grande responsável pela contratação de Júnior e por sua efetivação no meio campo do Torino, não se contém e dispara sua indignação aos repórteres brasileiros presentes em Turim:
– Vocês vão assassinar o talento do Júnior como marcador de pontas na Copa do Mundo? Não façam isso, porque perderão um dos maiores organizadores de meia-cancha do mundo!
O grande lateral e meio campista Leovegildo Lins da Gama Júnior, mais conhecido apenas como Júnior, nasceu em João Pessoa (PB), no dia 29 de junho de 1954.
A boa formação familiar foi amparada nos valores e ensinamentos do avô, o seu Antônio Gama, um empresário muito reconhecido na cidade de João Pessoa.
Proprietário de uma fábrica de mosaicos e de um engenho de açúcar, o velho Gama nunca poupou sacrifícios para oferecer o máximo de tranquilidade e conforto.
Com roupas e brinquedos importados, Júnior e seus irmãos levavam uma vida de causar inveja aos amiguinhos. Os meninos estudavam nos melhores colégios da região e aos finais de semana passeavam em um reluzente Aero-Willys.
Mas um dia o coração do velho Antônio Gama parou de bater. Os negócios da família foram passados ao filho Leovegildo Gama e dona Wilma (os pais de Júnior).
Sem experiência como administrador, o pai de Júnior não conseguiu evitar o naufrágio financeiro nos negócios. A necessidade de recomeçar levou os membros da família Gama ao Rio de Janeiro.
Em pouco tempo, seu Leovegildo investiu o pouco dinheiro que restou em uma fábrica de camisas e prosperou novamente.
Enquanto isso, dona Wilma cuidava da formação da garotada. Permanecia sempre vigilante frente aos perigos dos encantos de Copacabana.
No entanto, bastava um descuido para que Júnior pegasse o caminho mais próximo de uma bola de futebol, fosse no pátio do prédio, na rua ou na praia. Torcedor fanático do Fluminense, Júnior não perdia uma única partida do time.
Levado pelo técnico Orozimbo, Júnior era só alegria no time de Futebol de Salão do Sírio Libanês.
Mais tarde, foi encaminhado para testes no Fluminense e no América, mas ficou no juvenil do Botafogo. Aos 19 anos de idade, Júnior queria jogar no meio campo, mas foi prontamente advertido por seu treinador:
– Olha garoto, o craque do time aqui é o Mendonça. Dificilmente você vai ter lugar no meio de campo. Você quer jogar na lateral esquerda?
Decepcionado, Júnior voltou ao time da praia até ser descoberto por Modesto Bria, que o levou ao gramado da Gávea. Aprovado nas seletivas, o jovem paraibano permaneceu nos quadro amadores esperando por uma oportunidade.
Júnior fez sua primeira partida no time principal do Flamengo em 1974, inicialmente escalado na lateral direita. No mesmo ano participou do elenco que conquistou o campeonato carioca.
Aos poucos, seu futebol foi aproveitado na lateral esquerda. Júnior cresceu tecnicamente e ganhou notoriedade por seu fino trato com a bola nos pés.
Com a chegada do técnico Cláudio Coutinho, Júnior foi definitivamente efetivado na lateral esquerda. E foi assim que seu nome fez parte de uma das maiores gerações da história do clube.
Entre os companheiros, Júnior era conhecido como “Capacete” em razão do corte de cabelo no estilo “Black Power”. Ao longo de sua permanência no Rubro Negro (em duas passagens), Júnior colecionou vários títulos:
– Campeonato carioca 1974, 1978, 1979 (especial), 1981, 1991; Taça Guanabara 1978, 1979, 1980, 1981 e 1982; campeonato brasileiro de 1980, 1982, 1983 e 1992, além da Taça Libertadores da América e do Mundial Interclubes, ambos em 1981.
Júnior também conquistou a Bola de Prata da revista Placar nas edições de 1980, 1983, 1984, 1991 e 1992, quando também foi premiado com a Bola de Ouro.
Em 1976, Júnior escreveu seus primeiros capítulos com a camisa do escrete canarinho.
Apesar da boa fase no Flamengo e da experiência adquirida nos Jogos Olímpicos de Montreal, Júnior não foi lembrado por Cláudio Coutinho para a Copa do Mundo de 1978.
Mas o lateral fez parte do memorável selecionado do técnico Telê Santana em 1982. Paralelamente, também fez sucesso com a música “Povo Feliz”, que acabou ficando conhecida como “Voa Canarinho”.
No entanto, essa “decolagem musical” acabou ofuscada em 5 de julho, na triste derrota para a Itália por 3×2.
Presente também no mundial de 1986 no México, Júnior realizou ao todo 81 partidas pela Seleção Brasileira e marcou 5 gols, um deles na Copa da Espanha, na vitória por 3×1 contra a Argentina.
Depois de brilhar no Flamengo, Júnior foi jogar no futebol italiano. Defendeu primeiramente o Torino, entre os anos de 1984 e 1987.
Depois, jogou pelo Pescara de 1987 até 1989. Ainda em 1989, Júnior retornou ao Brasil para jogar novamente pelo Flamengo.
Mais experiente, comandou o jovem time da Gávea na conquista do campeonato brasileiro de 1992. Na época, Júnior era o braço direito da equipe comandada pelo técnico Carlinhos.
O “Maestro” Júnior encerrou sua carreira como jogador profissional em 1993. Pelo Flamengo foram 857 jogos disputados, com 492 vitórias, 210 empates, 155 derrotas e 73 gols marcados.
Os números foram publicados pelo reconhecido Almanaque do Flamengo, dos autores Clóvis Martins e Roberto Assaf.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Divino Fonseca, Marcelo Rezende, Maria Helena Araújo, Mauro Cézar Pereira, Nilton Claudino, Sérgio Berezovsky e Telmo Zanini), revista Manchete Esportiva, calciototale.webnode.com.br, espn.uol.com.br, flamengo.com.br, gazetaesportiva.net, globoesporte.globo.com, memoriafutebol.com.br, site do Milton Neves (por Rogério Micheletti), soccernostalgia.blogspot.com.br, albumefigurinhas.no.comunidades.net, Almanaque do Flamengo – Clóvis Martins e Roberto Assaf.