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Assis Chateaubriand, campeão paraguaio de 1942, Encarnación - Paraguai, Modesto Bria, tricampeonato 1942-1943 e 1944
Rio de Janeiro, mês de agosto de 1943. Dentro das imponentes instalações da conceituada e tradicional Confeitaria Colombo, uma roda de homens elegantes parece ferver.
Naquele final de tarde, José Lins do Rego, Emmanuel Lobo e o jornalista e compositor Ary Barroso tratam de um assunto bastante complicado.
Depois de inúmeros e onerosos contatos telefônicos diretamente com o Paraguai, Ary Barroso já sabia que Modesto Bria concordava em jogar pelo Flamengo.
No entanto, os diretores do Club Nacional do Paraguai permaneciam firmes em sua negativa para negociar os direitos do jogador, um dos grandes destaques do time campeão paraguaio na temporada de 1942.
Então, o grupo de notáveis rubro negros arquitetou o empréstimo do monomotor pessoal do Dr. Assis Chateaubriand, presidente dos Diários Associados. Quem sabe, uma última e decisiva cartada para trazer Modesto Bria!
E assim, Ary Barroso conseguiu convencer o Dr. Assis Chateaubriand para o empréstimo da aeronave. Um medroso declarado das alturas, Ary Barroso esperava que sua parte no plano estava finalizada.
Mas, o que Ary Barroso não imaginava é que todos tirariam o corpo fora, sobrando com ele mesmo o desafio de capturar o craque paraguaio bem embaixo do nariz dos dirigentes do Nacional.
Usando também de sua amizade pessoal com o Coronel Santa Rosa, um Adido militar do Brasil no Paraguai, Ary Barroso transformou o devaneio em uma grande realidade.
Modesto Bria nasceu em Encarnación, Paraguai, no dia 3 de Agosto de 1922. A carreira foi iniciada em equipes amadoras da capital, até chegar ao Club Nacional no findar da década de 30.
Volante de técnica refinada, Modesto Bria foi campeão paraguaio de 1942 pelo Nacional e chegou ao selecionado nacional, onde foi notado internacionalmente.
Depois da incrível e bem sucedida aventura de Ary Barroso, Modesto Bria desembarcou na Gávea no início do mês de setembro de 1943.
Sua primeira participação com a camisa do Flamengo aconteceu em um clássico contra o Fluminense:
12 de setembro de 1943 – Flamengo 2×2 Fluminense – Campeonato Carioca – Segundo Turno – Estádio da Gávea – Árbitro: José Pereira Peixoto – Gols: Perácio (2) para o Flamengo; Invernizzi e Carreiro para o Fluminense.
Flamengo: Jurandyr, Domingos da Guia e Norival; Biguá, Bria e Jayme; Jacy, Zizinho, Pirillo, Perácio e Vevé. Técnico: Flávio Costa. Fluminense: Gijo, Norival e Renganeschi; Vicentini, Rui e Afonsinho; Adilson, Russo, Invernizzi, Tim e Carreiro. Técnico: Atuel Velasquez.
Com seu estilo clássico, Modesto Bria foi o ponto de equilíbrio de uma linha média que contava ainda com Biguá e Jayme, um trio determinante na conquista do primeiro tricampeonato carioca em 1942, 1943 e 1944.
Em dez anos jogando pelo Flamengo, Modesto Bria é o estrangeiro que mais vezes atuou pelo clube.
Além dos títulos cariocas de 1943, 1944 e 1953, o paraguaio conquistou também o Torneio Início nas edições de 1946, 1951 e 1952.
Ao todo, foram 360 jogos disputados com 199 vitórias, 72 empates, 89 derrotas e 8 gols marcados. Os números foram publicados pelo “Almanaque do Flamengo”, dos autores Roberto Assaf e Clóvis Martins.
Modesto Bria participou do elenco que conquistou o campeonato carioca de 1953, mesmo ano em que deixou os gramados. Continuou ligado ao Flamengo como treinador em quatro oportunidades e revelou vários jogadores de qualidade inquestionável.
Em 1967, quando treinava o juvenil do Flamengo, Bria foi apresentado ao garoto Zico pelo radialista Celso Garcia.
Modesto Bria titubeou um pouco por conta do físico minguado do jovem do bairro de Quintino, mas permitiu que o garoto fosse em frente.
Antes do final do treino, depois de belas jogadas, o futuro “Galinho de Quintino” já tinha impressionado o público presente.
A paixão pelo Flamengo fez com que Modesto Bria adotasse o Brasil como sua segunda pátria, vivendo aqui até o seu falecimento no Rio de Janeiro, em 30 de agosto de 1996.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Ignácio Ferreira e Marcelo Rezende), revista Esporte Ilustrado, revista Grandes Clubes Brasileiros, revista Mengo 70, revista O Globo Sportivo, Arquivo Público do Estado de São Paulo – Memória Pública – Jornal Última Hora, butecodoflamengo.com, campeoesdofutebol.com.br, flamengo.com.br, heroisdomengao.blogspot.com.br, museudosesportes.blogspot.com.br, nacionalquerido.com, site do Milton Neves (por Marcelo Rozenberg), vejario.abril.com.br, Almanaque do Flamengo – Roberto Assaf e Clóvis Martins, Livro: No tempo de Ari Barroso – Sérgio Cabral – Editora Lumiar.