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Aquilo tudo doeu demais!

De Sordi foi acusado de fazer corpo mole, de amarelão e de medroso antes do confronto derradeiro da Copa do Mundo de 1958.

Logo ele, que nunca fugiu de jogar no sol escaldante ao lado das plantações de cana; que nunca correu das divididas e muito menos dos encontrões e botinadas dos grandalhões!

Nilton De Sordi, marcante lateral direito campeão mundial de 1958, nasceu na cidade de Piracicaba (SP), em 14 de fevereiro de 1931.

Ainda garoto, torcedor do Palmeiras e fã do atacante uruguaio Villadoniga, De Sordi jogava pelo infantil do Santa Cruz de Piracicaba, antes de chegar ao quadro juvenil do Palmeirinha local.

Crédito: revista Placar – 12 agosto de 1977.

Capa da revista Tricolor, De Sordi aparece novamente na página 13, ao lado de Poy e Mauro Ramos de Oliveira. Crédito: revista Tricolor número 20 – Maio de 1952.

Posteriormente, em meados de 1947, De Sordi já era um dos destaques da meia-cancha do time da Usina Iracema.

No início de 1949 o conhecido garimpeiro de talentos João Guidotti, o levou para treinar no Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba.

Eugênio Vani era o técnico do XV e nas primeiras duas vezes De Sordi nem se trocou para treinar. Insistente, João Guidotti levou De Sordi mais uma vez, quando finalmente o rapaz entrou no vestiário e colocou o uniforme, mas ficou de fora só assistindo!

Repentinamente, um zagueiro do XV se machucou e De Sordi conseguiu sua tão esperada chance. Mostrando muita tranquilidade, o indicado de João Guidotti rebateu todas e distribuiu o jogo sem dar chutões.

Então, muitos duvidaram da palavra do olheiro João Guidotti, que insistia na afirmação de que De Sordi era mesmo um meio-campista e que nunca tinha jogado como zagueiro.

Crédito: reprodução revista Esporte Ilustrado número 893.

E foi no XV de Piracicaba que De Sordi assinou seu primeiro contrato profissional. Atuava inicialmente como zagueiro central e eventualmente, em algumas partidas, pela lateral direita.

A família, que até aquele momento entendia o futebol apenas como uma distração, ficou muito preocupada com o futuro do moço.

Apesar de não ser um jogador com estatura muito elevada, De Sordi desenvolveu excelente impulsão e cabeceava muito bem. Tinha como ponto forte sua marcação sempre vigilante, já que naquela época pouco subia ao campo de ataque.

Com boas atuações nas temporadas em 1950 e 1951, representantes do Club de Regatas Vasco da Gama demonstraram forte interesse pelo lateral piracicabano.

No entanto, uma mudança para o Rio de Janeiro foi encarada pelos familiares como uma aventura acima do aceitável.

De Sordi, camisa 2, em partida contra o Corinthians no Pacaembu. Crédito: revista do Corinthians número 58 – Agosto de 1954.

Assim, De Sordi permaneceu no XV de Piracicaba nos primeiros meses de 1952, até ser contratado pelo São Paulo Futebol Clube. Sua primeira partida pelo tricolor aconteceu no dia 30 de março, contra o próprio XV.

Com o passar do tempo, seu futebol foi aproveitado de forma definitiva pelo corredor direito do gramado. Campeão paulista de 1953, De Sordi jogou ao lado de grandes nomes; como Alfredo, Pé de Valsa, Poy, Mauro Ramos de Oliveira e José Carlos Bauer.

O lateral também era nome certo no selecionado paulista que conquistou o título interestadual em 1952 e 1956. Conforme reportagem da revista Placar em 12 de agosto de 1977, De Sordi admitiu ser um cara durão, mas nunca desleal:

– Nunca fui bandido e ninguém pode dizer que eu era desleal. Eu era durão sim, mas só entrava no corpo pra assustar mesmo.

– Quando pegava um ponta metido, querendo fazer o nome e me desmoralizar junto aos torcedores, aí sim eu abria minha caixa de ferramentas logo na primeira e entrava firme. O sujeito recuava para ajudar no meio de campo e não aparecia mais por lá.

De Sordi ao lado do jogador Águas da seleção portuguesa. Crédito: revista Manchete Esportiva número 22 – 21 de abril de 1956.

Formação da Seleção Brasileira em 1956. Em pé: Djalma Santos, De Sordi, Nilton Santos, Gylmar, Zózimo e Roberto Belangero. Agachados: Massagista Mário Américo, Sabará, Walter Marciano, Gino Orlando, Didi, Canhoteiro e o massagista Mão de Pilão. Crédito: revista Manchete Esportiva número 22 – 21 de abril de 1956.

Em 1957 De Sordi participou da campanha do título paulista de 1957. Conforme registros publicados pelo Almanaque do São Paulo, do autor Alexandre da Costa, De Sordi permaneceu no Morumbi por 13 temporadas, entre 1952 e 1965.

Ao todo, foram 536 compromissos com 289 vitórias, 131 empates e 116 derrotas, o que o torna um dos campeões de longevidade na história do clube.

Sua jornada no escrete canarinho foi iniciada em 1954. Em 1956 já era o titular absoluto da posição no campeonato Sul Americano de Montevidéu e também na excursão ao continente europeu.

No ano seguinte, contudo, o técnico Brandão não relacionou seu nome para disputar as eliminatórias da Copa do Mundo de 1958. Pouco depois, Brandão deixou o cargo na seleção.

Com o aparecimento de Paulo Machado de Carvalho e Vicente Feola, De Sordi voltou e foi inscrito no grupo que embarcou para o mundial da Suécia.

Crédito: reprodução revista Manchete Esportiva número 189 – Agosto de 1959.

No andamento da competição, De Sordi atuou em todos os jogos do Brasil, ficando de fora apenas da partida final contra os suecos. Até hoje, muito se escreveu sobre o que realmente teria causado seu afastamento: Dores musculares, joelho ou uma distensão?

A matéria publicada pela revista Placar em 21 de abril de 1986 revelou alguns acontecimentos na véspera da final. Naquele dia, De Sordi estava impaciente e apreensivo.

No início, ninguém deu muita importância. Mas, tarde da noite, ao retornar de um passeio por Estocolmo, um dos membros da Comissão Técnica encontrou De Sordi acordado.

Estava varanda do Hotel fumando um cigarro após o outro e dizendo que não conseguia dormir.

Além do incômodo provocado por uma contusão que não estava totalmente curada, o jogador também reclamou de fortes dores na musculatura das pernas, o que era natural em razão do esforço empenhado na partida contra os franceses.

Crédito: revista O Cruzeiro – Encarte ídolos do futebol brasileiro.

Embora o médico soubesse que a dor seria aliviada tão logo os jogadores fossem massageados para entrar em campo, o Dr. Hilton Gosling ainda tentou um processo rápido de tratamento.

No dia da grande final, durante os testes físicos finais, De Sordi sentiu que não estava bem e assim preferiu não arriscar.

Além de não participar do confronto final e não fazer parte da fotografia oficial do título, De Sordi ainda teve que conviver com uma cruel acusação.

Muitos diziam que ele não entrou em campo porque teria sentido o peso da decisão. O desfalque na final acabou marcando sua carreira para sempre:

– Quem me conhece sabe que eu não sou assim. Nunca tremi. Estava acostumado aos jogos decisivos… Fiquei em paz com minha consciência!

Crédito: revista do Esporte número 75 – Agosto de 1960.

Crédito: revista do Esporte número 121 – 1º de julho de 1961.

Pela Seleção Brasileira foram 25 participações com 17 vitórias, 7 empates e apenas 1 derrota, em amistoso contra o selecionado italiano em 1956.

De Sordi ainda disputou a Taça Oswaldo Cruz e só não foi ao Sul-Americano de 1959 em razão de uma séria contusão no tornozelo.

O lateral deixou o Morumbi em 1965. No Paraná, diante da insistência dos amigos, De Sordi jogou uma temporada pelo União Bandeirante Futebol Clube (PR). Desencantado com o esporte, deixou os gramados em 1966.

No mesmo ano foi convidado para assumir o comando técnico do mesmo União Bandeirante, onde não permaneceu por muito tempo. Longe do futebol, De Sordi dedicou seu tempo para cuidar da família e de sua fazenda no Paraná.

Nílton De Sordi sofria do Mal de Parkinson e faleceu no dia 24 de agosto de 2013 na cidade de Bandeirantes, interior do Paraná, em decorrência de falência múltipla dos órgãos.

Crédito: revista do Esporte número 183 – 8 de setembro de 1962.

Crédito: revista do Esporte número 240.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Carlos Maranhão e Milton Ivan), revista A Gazeta Esportiva Ilustrada (por Orlando Gasperini e Oscar Duranto), revista do Corinthians, revista do Esporte, revista Esporte Ilustrado, revista Fatos e Fotos, revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Cruzeiro, revista Tricolor, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal dos Sports, Jornal Mundo Esportivo (por Antônio Guzman e Odilon C. Brás), campeoesdofutebol.com.br, gazetaesportiva.net, globoesporte.globo.com, saopaulofc.net, site do Milton Neves (por Rogério Micheletti), topicos.estadao.com.br, Almanaque do São Paulo – Alexandre da Costa, albumefigurinhas.no.comunidades.net.