“A Coruja do Grêmio”. Foi esse o título do artigo assinado por Divino Fonseca na revista Placar de 30 de novembro de 1973.
Naquele momento de sua carreira, os sinais da idade e da experiência eram revelados suavemente pelas rugas ao redor dos olhos, os mesmos olhos tão castigados por boatos maldosos!
No mais, Picasso mantinha o corpo esguio e musculoso. A visão continuava perfeita, por mais que o assunto de sua deficiência em jogos noturnos o tenha causado contratempos e dissabores.
Filho de Severino Travi e Olga Travi, Ronei Paulo Travi nasceu no município de Canela (RS), em 7 de maio de 1939.
O caminho no futebol começou no distante ano de 1957, quando Ronei jogava pelo Esporte Clube Serrano.
Em 1960, ao ler o caderno de esportes de um jornal local, Ronei tomou conhecimento que o Esporte Clube Cruzeiro (RS) procurava um novo goleiro para compor o elenco.
Sem tempo para pensar muito, o rapazola comunicou os familiares e foi tentar a sorte. Aprovado nas seletivas do Cruzeiro, Ronei ficou conhecido pelos companheiros como “Picasso”.
Na época, os goleiros do futebol gaúcho faziam muito sucesso na cidade de São Paulo. Foi assim com Valdir Joaquim de Moraes e com Suly Cabral Machado.
Com essa boa escrita de confiança nos “guarda-metas” gaúchos, o promissor Picasso foi contratado pela Sociedade Esportiva Palmeiras em 1963.
Picasso embarcou para São Paulo achando que jogaria pelo Corinthians. Ainda no avião ficou sabendo que seu destino era na verdade um outro parque, o Parque Antárctica!
Picasso sabia que brigar pela camisa de titular seria uma árdua tarefa, já que o titular da posição era o lendário Valdir Joaquim de Moraes. Em seu primeiro ano no Palmeiras, Picasso fez parte do elenco que conquistou o título paulista de 1963.
A conquista de 1963 foi especial e interrompeu uma série de conquistas do poderoso Santos de Pelé. Em 1965 mais um “caneco” no Torneio Rio-São Paulo.
Em 1966, com o interesse da Prudentina e seu pouco aproveitamento no Palmeiras, Picasso solicitou aos dirigentes para ser emprestado para disputar o campeonato paulista.
Algum tempo depois, Picasso lamentou ao descobrir que Valdir e Maidana estavam no departamento médico, o que obrigou o aproveitamento do jovem Antônio Donah.
Após o curto período na Prudentina, Picasso voltou com esperanças renovadas ao time do Parque Antártica.
Percebendo que novamente ficaria encostado, o goleiro gaúcho desistiu de viver do futebol. Com o objetivo de trilhar por novos caminhos na vida, Picasso foi trabalhar na Volkswagen em São Bernardo do Campo.
Pelo Palmeiras foram 46 jogos disputados com 29 vitórias, 8 empates e 9 derrotas. Os números foram publicados pelo Almanaque do Palmeiras, dos autores Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti.
Contudo, um convite inesperado do técnico Sylvio Pirillo o levou para o Clube Atlético Juventus. A nova oportunidade foi bem vinda e Picasso não decepcionou!
Na temporada de 1966 com a camisa avinhada do time da Mooca, Picasso foi eleito o melhor goleiro do campeonato paulista. Foi o suficiente para aparecer o forte interesse dos cartolas do São Paulo Futebol Clube em 1967.
Com grandes atuações no Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1968, Picasso foi lembrado na Seleção Brasileira para uma excursão aos gramados da Europa.
Tudo corria bem até o malfadado clássico contra o Santos, quando Picasso o fraturou o pé. Era o fim da excursão com o escrete e também o fim da fase produtiva como titular absoluto no São Paulo.
A fratura demorou para cicatrizar e tirou de Picasso o sonho de disputar o mundial do México, em 1970.
Com Picasso parado no departamento médico, o São Paulo foi atrás de um substituto e contratou o promissor Sérgio Valentim.
Mesmo fazendo parte do elenco que faturou o título paulista de 1970, Picasso passou por momentos difíceis e novamente pensou em jogar tudo para o alto!
Foi quando apareceu uma boa proposta do Esporte Clube Bahia. Com defesas espetaculares, Picasso promoveu outra virada repentina e seu nome voltou ao topo do cenário nacional.
Eleito o melhor goleiro do Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1970, Picasso foi premiado com a “Bola de Prata” da revista Placar. Voltou ao São Paulo e participou da conquista do campeonato paulista de 1971.
Picasso continuou no Morumbi até 1972. Pelo tricolor foram 161 partidas disputadas com 75 vitórias, 45 empates e 41 derrotas. Os números foram publicados pelo Almanaque do São Paulo, do autor Alexandre da Costa.
Novamente por empréstimo, Picasso assinou com o Clube Atlético Paranaense (PR). Em novembro do mesmo ano, por 150.000 cruzeiros, Picasso foi negociado em definitivo junto ao Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
Picasso continuou no Grêmio até o ano findar de 1975, quando foi contratado pelo Santa Cruz (PE). Campeão pernambucano de 1976, Picasso encerrou a carreira em 1977 para fazer uma tentativa frustrada no plantio de arroz em Mato Grosso.
Em 1978 voltou ao futebol e assumiu como treinador na Sociedade Esportiva e Recreativa Caxias do Sul (RS). Em seguida trabalhou como representante comercial e atualmente está aposentado em Porto Alegre (RS).
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Carlos Libório, Clodomir Bezerra, Divino Fonseca, JB Scalco, Lenivaldo Aragão e Nico Esteves), revista do Esporte, revista do Grêmio, revista Grandes Clubes Brasileiros, revista Manchete, revista Tricolor, Jornal A Gazeta Esportiva, campeoesdofutebol.com.br, futebolgaucho.tumblr.com, gazetaesportiva.net, gremio.net, palmeiras.com.br, saopaulofc.net, site do Milton Neves (por Breno Menezes, Gustavo Grohmann e Rogério Micheletti), Almanaque do Palmeiras – Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti, Almanaque do São Paulo – Alexandre da Costa, albumefigurinhas.no.comunidades.net.