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Família pobre de origem mineira, Walter Machado da Silva nasceu no bairro da Liberdade, Zona Central da cidade de São Paulo (SP), em 2 de janeiro de 1940.

Conforme publicado na laboriosa obra “Silva, o Batuta – O craque e o futebol de seu tempo”, do autor Marcelo Rousseau Valença Schwob, o pequenino Silva foi criado na Rua Tabatinguera, no centro da capital paulista.

O pai, conhecido como “Machadão”, era uma figura popular em seu trabalho no Mercado Municipal. Mas, o seu “Machadão” morreu cedo, em 1947. E assim, a mãe arrumou emprego em uma fábrica de cigarros para conseguir criar os guris.

Vivendo em um antigo casarão de vários cômodos, Silva teve que trabalhar para ajudar nas despesas da casa! Foi entregador de açougue, sapateiro e tintureiro.

Estudante da Escola Romão Purgari e torcedor do tricolor paulista, Silva passou a mocidade trabalhando e jogando futebol. Quando sobrava algum dinheirinho, sua diversão era o “Trem Fantasma” no famoso Parque de Diversões Shangai.

Depois de boas temporadas pelo Botafogo da cidade de Ribeirão Preto, Silva foi apresentado com festa no Corinthians! Crédito: revista do Esporte número 180 – 18 de agosto de 1962.

O primeiro contrato de Silva com o Corinthians: 800 mil cruzeiros de luvas e salário de 40 mil cruzeiros. Crédito: revista do Esporte (imagem esquerda) e revista A Gazeta Esportiva Ilustrada (imagem direita).

Jogou pelo infantil do time da Indústria Nadir Figueiredo e pelo Aristocrata, um clube próximo da Avenida Nove de Julho. Apresentado para um olheiro de nome Osvaldo, o batalhador Silva foi bem recomendado aos quadros amadores do São Paulo Futebol Clube.

O primeiro compromisso, o afamado “Contrato de Gaveta”, só foi assinado em 1956, para receber 1.500 cruzeiros mensais. Aos dezessete anos de idade, o centroavante Silva já fazia parte do elenco que foi campeão paulista de 1957.

Todavia, de acordo com os registros publicados no Almanaque do São Paulo, do autor Alexandre da Costa, Silva disputou apenas oito compromissos pelo time do Morumbi e não marcou nenhum gol.

Sem muitas oportunidades no tricolor paulista, Silva foi emprestado ao Batatais Futebol Clube (SP) em 1958. Em seguida, seus direitos foram transferidos para o Botafogo Futebol Clube de Ribeirão Preto (SP).

Além da forte composição física, Silva era um atacante de boa técnica e que se colocava muito bem na grande área. Exímio finalizador, seu futebol foi ganhando um espaço importante na opinião da imprensa esportiva! 

Boa linha ofensiva do Corinthians. Partindo da esquerda; Marcos, Luizinho Trochillo, Silva, Flávio e Zezé. Crédito: revista do Esporte número 311 – 20 de fevereiro de 1965.

Na rápida passagem pelo Botafogo (RJ): “Provarei que não sou o que dizem em São Paulo”. Crédito: revista do Esporte número 321 – 1 de Maio de 1965.

Enquanto Silva brilhava nas fileiras do Botafogo da cidade de Ribeirão Preto, o refrão do bolero da cantora Edith Veiga ficava marcado na castigada torcida do Corinthians: “Faz me rir o que andas dizendo, que te adoro e morro por ti”.

O apelido “Faz Me Rir”, colocado pelos rivais, representava muito bem o limitado time do Corinthians, que nas 11 primeiras partidas do campeonato paulista de 1961 colecionou 7 derrotas, 2 empates e apenas 2 vitórias.

A péssima campanha fez com que os dirigentes do alvinegro fossem atrás de um “Salvador da Pátria”, um homem gol para tentar mudar o cenário!

No findar de 1961, depois de muito sucesso no Botafogo de Ribeirão Preto, Silva finalmente foi apresentado com festa no Parque São Jorge!

Segundo reportagem veiculada nas páginas da revista do Esporte, edição de 18 de agosto de 1962, Silva assinou com o Corinthians até 29 de abril de 1964. Os valores foram registrados na Federação Paulista com 800 mil cruzeiros de luvas e 40 mil cruzeiros de salário.

Almir Albuquerque e Silva. Muita expectativa no Flamengo! Crédito: revista do Esporte número 347 – 30 de outubro de 1965.

Silva sobe mais que o zagueiro do Bangu em partida disputada no Maracanã! Crédito: revista Futebol número 3 – 1965.

Ao lado de Nei Oliveira e Flávio Minuano, Silva formou grandes linhas de ataque enquanto jogou pelo Corinthians. Inteligente e com forte espírito de liderança, o atacante ficou conhecido como “Silva Batuta”, um apelido criado pelo radialista Jorge Cury.

Apesar do empenho, Silva não conservou por muito tempo o rótulo de “Salvador da Pátria”. Afastado do plantel pelo treinador Brandão, o atacante permaneceu treinando para manter o condicionamento físico!

Na imprensa, os boatos davam conta de que Oswaldo Brandão não tolerava mais o “estrelismo” de Silva, o que foi determinante na discutida decisão de colocar o jogador na “geladeira”.

Paralelamente, o presidente Wadih Helu esperava inquieto pelo aparecimento de propostas concretas para negociar os direitos de Silva. Foi então que o Botafogo de Futebol e Regatas (RJ) aceitou o empréstimo do jogador por apenas um mês.

Em maio de 1965, seu passe foi negociado em definitivo com os representantes do Clube de Regatas do Flamengo (RJ). Pelo Corinthians, Silva disputou ao todo 143 partidas; com 77 vitórias, 31 empates, 35 derrotas e 89 gols marcados. Os números fazem parte do Almanaque do Corinthians, de Celso Dario Unzelte.

Amarildo e Silva com um pesado roupão de algodão da Seleção Brasileira! Crédito: revista do Esporte número 382 – 2 de julho de 1966.

Pelo Flamengo, Silva foi um dos destaques importantes na memorável conquista do título carioca de 1965; o campeonato comemorativo do Quarto Centenário da cidade do Rio de Janeiro.

A primeira participação com a camisa canarinho aconteceu no dia 1 de maio de 1966, no amistoso vencido contra o selecionado do Rio Grande do Sul por 2×0.

Contudo, em seu único na Copa do Mundo de 1966, Silva esteve em campo na derrota para Portugal por 3×1, o que custou nossa desclassificação antecipada da competição. No geral foram 8 partidas com 5 gols marcados pelo escrete.

Depois de duas temporadas brilhantes no Flamengo, Silva foi transferido para o Futbol Club Barcelona da Espanha.

Mas, Silva não vingou na Espanha como o esperado! O brasileiro foi prejudicado pela burocracia nas formalidades de sua transferência, fato que representou um tempo precioso para o seu devido desenvolvimento!

Silva e Pelé. Uma ótima parceria na Vila Belmiro! Crédito: revista Fatos e Fotos número 340 – 5 de agosto de 1967.

Com o atraso na regularização da documentação pelos dirigentes do Barcelona, Silva foi utilizado com uma maior regularidade em partidas amistosas.

Fora esse contratempo, Silva foi vítima de declarações racistas disparadas pelo presidente Enric Llaudet, que irritado pela total impossibilidade de aproveitar o atacante, declarou publicamente que pretendia utilizar o brasileiro no papel de seu motorista particular:

– “Pues si Silva no puede jugar, lo usaré como chófer. Siempre he querido tener un chofer negro”.

No regresso ao Brasil jogou pelo Santos Futebol Clube e faturou o título paulista de 1967. Na temporada seguinte, Silva voltou para o futebol carioca ao aceitar uma boa proposta do mesmo Flamengo!

Pelo Flamengo, em duas passagens, Silva disputou um total de 132 partidas e marcou 68 gols. Os números foram publicados pelo Almanaque do Flamengo, dos autores Clóvis Martins e Roberto Assaf. 

Sucesso nos gramados argentinos com a camisa do Racing! Crédito: revista Sport número 59 – Suplemento Mensal de El Gráfico – Julho de 1969.

Em destaque o goleador Silva, que deixou enorme saudade nos torcedores do Racing. Crédito: revista Sport número 60 – Suplemento Mensal de El Gráfico – Agosto de 1969.

Silva também defendeu o Racing Club da Argentina em 1969 e no ano de 1970 foi campeão carioca pelo Vasco da Gama (RJ). Jogou ainda por empréstimo no Botafogo (RJ), para em seguida ser emprestado novamente pelo Vasco para o Rio Negro (AM) em 1973.

Seu contrato com o Vasco da Gama foi encerrado no mês de janeiro de 1974. Vestiu depois a camisa do Atlético Junior da Colômbia e do Tiquire Flores da Venezuela em 1975, sua última equipe como jogador profissional.

Diplomado em Direito e morador do tradicional bairro de Copacabana, o vaidoso Silva colecionava pentes na mesma velocidade com que “garfava” o volumoso cabelo várias vezes por dia.

O inusitado hábito lhe rendeu o apelido de “Toni Tornado”, famoso ator e cantor que também não descuidava da cabeleira!

Walter Machado da Silva faleceu no Rio de Janeiro (RJ), em 29 de setembro de 2020. Semanas antes, o ex-atacante foi diagnosticado com Covid-19, o que não foi confirmado como causa do óbito pelos médicos do Hospital Pró-Cardíaco, no bairro de Botafogo.

O lamento pela impossibilidade de Silva defender o selecionado argentino nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970. Crédito: revista Sport número 60 – Suplemento Mensal de El Gráfico – Agosto de 1969.

A marcante conquista do campeonato carioca de 1970. Crédito: revista Placar número 26 – 11 de setembro de 1970.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Alceste Pinheiro, Alfredo Ogawa, José Maria de Aquino e Zeka Araújo), revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, revista do Esporte, revista El Gráfico, revista Esporte Ilustrado, revista Fatos e Fotos, revista Futebol, revista Futebol e Outros Esportes, revista Grandes Clubes Brasileiros, revista Manchete, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal dos Sports, Jornal O Globo, campeoesdofutebol.com.br, flamengo.com.br, gazetaesportiva.net, santosfc.com.br, site do Milton Neves (por Gustavo Grohmann e Rogério Micheletti)vasco.com.br, Almanaque do Corinthians – Celso Dario Unzelte, Almanaque do Flamengo – Clóvis Martins e Roberto Assaf, Almanaque do São Paulo – Alexandre da Costa, Livro: Silva, o Batuta – O craque e o futebol de seu tempo – Marcelo Rousseau Valença Schwob – livros de futebol.com, Livro: Timão 100 Anos – Celso Dario Unzelte – Editora Gutenberg.