Tags

, , ,

Se fosse vivo, o baixinho João Avelino não teria suportado calado nossa histórica humilhação no Mineirão diante da Alemanha!

Conhecedor dos atalhos do sucesso antes mesmo de seu time entrar em campo, o catimbeiro João Avelino conquistou fama com suas artimanhas nos bastidores do mundo do futebol.

Os alfarrábios da bola garantem ao folclórico treinador manobras curiosas; como a diminuição na altura das balizas, a utilização de uma mula para esburacar o gramado, ou ainda virar de costas uma imagem de Nossa Senhora para a santa não ver homem pelado no vestiário.

Com um bigodinho bem aparado e a calvície devidamente guarnecida pelo quase inseparável chapéu de palha, o bom mineiro também era famoso por seu humor afiado e um tanto sarcástico.

Também conhecido pelo apelido de “71”, João Avelino Gomes nasceu na cidade de Andradas (MG), em 10 de novembro de 1929.

João Avelino no momento da agressão ao árbitro Romualdo Arppi Filho, partida entre Ponte Preta e Portuguesa de Desportos em Campinas. Crédito: revista Placar – 5 de março de 1971.

O primeiro grande trabalho na capital paulista foi desenvolvido em 1970 na Portuguesa de Desportos. Foto de Manoel Motta. Crédito: revista Placar – 8 de outubro de 1971.

No início da década de 1950, o respeitado treinador Martim Francisco Ribeiro de Andrada lançou João Avelino como seu auxiliar técnico no Atlético Mineiro.

Em 1956, João Avelino apareceu em São José do Rio Preto (SP) para assinar seu compromisso com o América. Na época, o presidente Délcio Bellini procurava por um substituto para assumir o lugar de Lázaro de Melo, o popular Bindo.

A missão do então desconhecido treinador mineiro era levar o América ao grupo de elite do futebol paulista. Aos poucos, João Avelino colocou o time nos trilhos e disparou na tábua de classificação.

Assim, João Avelino faturou com méritos o título da Segunda Divisão de 1957, o que garantiu ao valente quadro de São José do Rio Preto o direito de disputar o “paulistão” de 1958.

Todavia, em abril de 1958, João Avelino trocou o América pelo vizinho Rio Preto Esporte Clube. Foi esse o primeiro passo de uma vida cigana e marcada por inúmeras aventuras!

Uma passagem apenas modesta pelo CEUB (DF). Foto de Carlos Namba. Crédito: revista Placar – 2 de novembro de 1973.

A chegada de João Avelino ao comando do Paysandu (PA). Crédito: revista Placar – 9 de novembro de 1973.

Além de várias passagens pelo América (SP) e também pelo Rio Preto (SP), João Avelino deixou sua importante contribuição em diversas agremiações:

– Fortaleza (CE), CEUB (DF), Atlético Clube Goianiense (GO), América (MG), Atlético Mineiro (MG), Cruzeiro (MG), Uberaba (MG), Paysandu (PA), Remo (PA), Náutico Capibaribe (PE), Flamengo (PI), ABC (RN), Corinthians (SP), Guarani de Campinas (SP), Matonense (SP), Nacional (SP), Noroeste de Bauru (SP), Palmeiras (SP), Ponte Preta (SP), Portuguesa de Desportos (SP), São Bento de Sorocaba (SP) e o Taquaritinga (SP); além de boas passagens pelo futebol colombiano e paraguaio.

O primeiro grande trabalho na capital paulista foi desenvolvido nas fileiras da Associação Portuguesa de Desportos em 1970, quando conseguiu montar uma equipe reconhecida pelo bom padrão de jogo.

Tudo corria bem na Portuguesa em 1971, até uma discutida derrota para a Ponte Preta por 1×0. Indignado com os erros de arbitragem, João Avelino invadiu o gramado para agredir Romualdo Arppi Filho.

Suspenso pela Federação Paulista de Futebol, sua caminhada na Portuguesa de Desportos chegou ao fim. Dessa forma, João Avelino pegou seu apito e seu tênis surrado para continuar no Clube do Remo (PA) em 1972.

Trabalho forte no Parque São Jorge. Partindo da esquerda; Benê Ramos, João Avelino e Oswaldo Brandão. Crédito: revista do Corinthians.

João Avelino também corria pela vida noturna como um verdadeiro “cão de guarda” dos menos avisados! Foto de Thomáz Hoag. Crédito: revista Placar – 8 de abril de 1977.

Outro considerável desafio foi comandar o até então desconhecido time do CEUB (DF) no campeonato nacional de 1973. Despedido, João Avelino foi orientar o Paysandu Sport Club (PA).

Mais tarde voltou ao cenário paulista para trabalhar no Parque São Jorge. Era o “braço direito” do treinador Oswaldo Brandão na épica campanha do título do campeonato paulista de 1977.

Experiente, João Avelino também corria pela vida noturna como um verdadeiro “cão de guarda” dos menos avisados! Também comandou o Corinthians em 11 oportunidades; com 6 vitórias, 3 empates e 2 derrotas.

Entre suas discutidas e estranhas inovações, João Avelino adaptou um esquisito treino coletivo sem bola. Ele cantava jogadas, enquanto os jogadores simulavam a posse de bola.

Em 28 de setembro de 1979, a revista Placar número 492 publicou uma matéria intitulada “Avelino, o último filósofo do futebol brasileiro”.

A experiente comissão técnica do Corinthians. Partindo da esquerda; João Avelino, Oswaldo Brandão, José Teixeira e Benê Ramos. Crédito: Flash bola – diarioweb.com.br.

Entre suas discutidas inovações, João Avelino implantou um esquisito treino coletivo sem bola! Foto de Édson Pio. Crédito: revista Placar.

Com fotos de José Pinto, o artigo ofereceu aos leitores um pouco da filosofia do discutido treinador com causos, frases e pensamentos:

– “O grande segredo é que não existe segredo no futebol… Tem jogador que só entra na área em dia de pagamento… Vamos jogar no esquema “guarda-chuva”, abrir no ataque e fechar na defesa”.

Sua aposentadoria foi decidida durante a temporada de 1992, depois de dirigir novamente o América de São José do Rio Preto, para em seguida trabalhar na Sociedade Esportiva Matonense (SP).

Em 2000 o treinador apresentou os primeiros sinais do terrível Mal de Alzheimer. Conforme divulgado no site do Milton Neves, pouco antes do aparecimento da doença, João Avelino trabalhou ao lado do ex-jogador Badeco em um projeto da Prefeitura de São Paulo para crianças carentes.

Sempre aos cuidados da esposa, dona Yneida, João Avelino Gomes faleceu na cidade de São Paulo (SP), em 24 de novembro de 2006.

“João Avelino, o último filósofo do futebol brasileiro”. Foto de José Pinto. Crédito: revista Placar – 28 de setembro de 1979.

“O grande segredo é que não existe segredo no futebol”. Fotos de Édson Pio. Crédito: revista Placar – 15 de agosto de 1980.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Auremar de Castro, Carlos Namba, Édson Pio, Euclides Bandeira, Fábio Sormani, Jarbas Pereira, Jayro Rodrigues, Jorge Martins, José Maria de Aquino, José Pinto, Lenivaldo Aragão, Manoel Motta, Michel Laurence, Pio Pinheiro e Thomáz Hoag), revista do Corinthians, revista do Esporte, revista Manchete Esportiva, revista O Cruzeiro, Jornal A Gazeta Esportiva, Jornal da Tarde, campeoesdofutebol.com.br, corinthians.com.br, Flash bola – diarioweb.com.br, globoesporte.globo.com, site do Milton Neves (por Rogério Micheletti), Almanaque do Corinthians – Celso Dario Unzelte.