Tags

, , ,

O goleiro Manga, que nunca admitiu concorrência desde que começou sua carreira em Recife, não gostou nada quando ficou sabendo da contratação de Benítez.

Por outro lado, o presidente do Internacional Frederico Arnaldo Ballvé justificou que os 200 mil dólares pagos pelo passe de Benítez foi um investimento para o futuro, já que o veterano Manga não permaneceria para sempre.

Apesar do interesse do Grêmio e do Flamengo, o Internacional brigou para trazer o goleiro que segurou o Brasil no último compromisso das eliminatórias do mundial de 1978, quando não passamos de um empate por 1×1.

José de La Cruz Benítez Santa Cruz, o goleiro Benítez, nasceu em Assunção, capital do Paraguai, em 3 de maio de 1952. Sua trajetória foi iniciada em 1966, nos quadros amadores do Club Olímpia de Assunção.

Pela seleção do Paraguai, Benítez enfrentou o Brasil em 1977 no Maracanã. O jogo foi válido pela última rodada das eliminatórias e terminou com o placar de 1×1. Crédito: revista Placar – 25 de março de 1977.

Foto de Amilton Vieira. Crédito: revista Placar – 22 de julho de 1977.

Com boa estatura e muita agilidade, o jovem goleiro foi aproveitado no elenco principal pelo técnico Chema Rodríguez em 1971. No mesmo ano conquistou o título Sul-Americano Sub-20 pelo selecionado do Paraguai.

Preparado por Sinforiano Garcia, o famoso guarda-metas que defendeu o Flamengo na década de 1950, Benítez logo tomou conta da posição e raramente ficava de fora do time.

Ídolo da torcida, o goleiro do Olímpia andava de cabeça erguida. Até suas despesas pessoais não eram cobradas pelo comerciantes locais, que se contentavam com autógrafos e fotografias ao lado do jogador.

Campeão paraguaio nas edições de 1971 e 1975, Benítez sofreu com insistentes contusões no começo da carreira. Em 1974 uma bursite no cotovelo direito o tirou do time.

No ano seguinte ficou afastado após uma ruptura nos meniscos do joelho direito, uma fatalidade repetida em 1976 no joelho esquerdo.

Crédito: albumefigurinhas.no.comunidades.net.

Crédito: memoriadointer.blogspot.com.br.

Convocado para o selecionado que disputou as eliminatórias do mundial de 1978, Benítez despertou o interesse de alguns clubes brasileiros.

Plenamente consciente de que seria suplente do lendário Manga, Benítez foi contratado pelo Internacional em 1977.

Impossibilitado de disputar a Taça Libertadores pela inscrição ainda vigente no Olímpia, Benítez estava feliz com os novos horizontes no cenário gaúcho!

Conforme publicado pela revista Placar, o paraguaio assinou contrato para ganhar 20.000 cruzeiros mensais no primeiro ano e 25.000 cruzeiros mensais no segundo ano.

Quando Manga deixou o Beira Rio, uma herança terrível de cobranças e comparações atormentaram Benítez, que acabou emprestado ao Palmeiras no mês de abril de 1978.

Os goleiros do Internacional em 1978. Foto de JB Scalco. Crédito: revista Placar – 2 de março de 1978.

Gilmar e Benítez. Foto de Manoel Motta. Crédito; revista Placar – 21 de abril de 1978.

No alviverde, o paraguaio viveu o mesmo problema que enfrentou no Internacional. Emerson Leão também nunca admitiu concorrência e era o titular absoluto do Palmeiras e da Seleção Brasileira.

Com Leão na Seleção Brasileira, Benítez disputou 24 jogos pelo Palmeiras. Foram 13 vitórias, 8 empates, 3 derrotas e 13 gols sofridos. Os números fazem parte do Almanaque do Palmeiras, dos autores Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti.

Com o término do empréstimo fixado para o mês de agosto, Benítez voltou ao Beira Rio e conquistou muitos títulos: Campeão brasileiro invicto de 1979 e tricampeão gaúcho em 1981, 1982 e 1983.

Ganhador da “Bola de Prata” da revista Placar em 1981, Benítez tinha tudo pra continuar como titular absoluto da meta colorada por vários anos. Mas um acidente de trabalho representou o final de sua carreira.

Em um amistoso entre Alegrete e Internacional no dia 4 de dezembro de 1983, Benítez sofreu um grave impacto na cabeça com sérios reflexos na coluna cervical, o que o deixou imobilizado no gramado.

Benítez garante o primeiro lugar nas apurações da Bola de Prata. Foto de Nico Esteves. Crédito: revista Placar – 1 de maio de 1981.

Premiação da Bola de Prata no programa Discoteca do Chacrinha em 1981. Foto de Ronaldo Kotscho. Crédito: revista Placar- 15 de maio de 1981.

No lance, Benítez teve a cabeça atingida pelo joelho do atacante Celeni. O “efeito chicote” (quando a cabeça vai para trás e volta com bastante intensidade) ocasionou a imediata paralisia dos membros superiores e inferiores.

Ainda no gramado, Benítez foi atendido pelo médico do Internacional. Em seguida foi encaminhado ao Hospital da Santa Casa de Alegrete.

Horas depois, o médico e o goleiro deixaram Alegrete em um helicóptero do Exército. Desembarcaram em Santa Maria, quando um jatinho os levou até o Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.

Após meses de tratamento intensivo, o goleiro recebeu alta amparado por uma cadeira de rodas.

A coragem de Benítez no “Baita Chão” de Alegrete até hoje comove quem testemunhou o triste acontecimento. Apesar do esforço envolvido em sua recuperação, Benítez não conseguiu continuar no futebol.

Foto de Auremar de Castro. Crédito: revista Placar – 26 de junho de 1981.

O professor Benítez ensina aos mais jovens os segredos da ingrata profissão de goleiro. Foto de Nico Esteves. Crédito: revista Placar – 27 de novembro de 1981.

O acidente de Alegrete mudou os rumos na vida de Benítez e do atacante Celeni, que deixou os gramados depois da promessa que vinculava sua continuidade na profissão ao total restabelecimento de Benítez.

Benítez tentou seguir como treinador, mas acabou trabalhando no Internacional como preparador de goleiros nas categorias de base.

Posteriormente atuou como Diretor de Futebol no São José de Porto Alegre e mais tarde como empresário de jogadores. Atualmente, Benítez vive das economias de dois imóveis alugados em Assunção, além da aposentadoria do INSS.

Em 2013, 30 anos depois da tragédia, Celeni foi até Porto Alegre para visitar o ex-goleiro do Internacional. Foi um encontro emocionante e cercado por grande atenção da imprensa.

Crédito: revista Placar.

Crédito: revista Placar – 16 de dezembro de 1983.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Amilton Vieira, Aristélio Andrade, Auremar de Castro, Divino Fonseca, Emanuel Matos, Ignácio Ferreira, JB Scalco, Manoel Motta, Nico Esteves, Rodolpho Machado e Ronaldo Kotscho), revista Manchete, revista Manchete Esportiva, campeoesdofutebol.com.br, internacional.com.br, memoriadointer.blogspot.com.br, palmeiras.com.br, site do Milton Neves (por Rogério Micheletti), Almanaque do Palmeiras – Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti, albumefigurinhas.no.comunidades.net.